Em vez de serem cuidadas, 22 crianças de até três anos deixadas pelos pais na creche Bebê Feliz, em Goiânia, passavam as tardes sob sessões de tortura física e psicológica. Vídeos produzidos e divulgados pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Goiás mostram que os meninos e as meninas eram obrigados a ingerir vômito, tinham os dedos raspados no muro da escola, ficavam amarrados aos carrinhos, além de serem xingados e agredidos com tapas e beliscões. A maior parte das crianças era tão pequena que nem sequer havia começado a falar.
De acordo com a DPCA, todas as agressões partiam da proprietária da creche, Maria do Carmo Serrano, 62 anos. A delegacia passou a investigar a escola, que fica no bairro Parque das Laranjeiras e cobra R$ 300 de mensalidade, depois de receber denúncias anônimas. ;Em poucas horas de vídeo confirmamos que as crianças correm risco de morte no local. Todas têm muito medo dela, choravam constantemente. Era um ambiente cruel, de tortura psicológica;, disse a delegada titular da DPCA, Adriana Accorsi.
Com os vídeos em mãos, a delegacia e o promotor do Ministério Público Estadual de Goiás, Everaldo Sebastião, pediram a prisão temporária da proprietária da creche Bebê Feliz. O juiz da 7; Vara Criminal de Goiânia, José Carlos Duarte, negou o pedido por falta de provas materiais que confirmassem a autoria das agressões. O MP pedirá na Justiça a interdição da escola. ;Não podemos criticar a decisão do juiz de não permitir a prisão da Maria do Carmo, mas esse caso mostra o quanto é necessária a criação de varas especializadas, assim como existem as delegacias especializadas;, defende Accorsi.
;Bateu, bateu;
A proprietária da creche foi intimida a depor na delegacia. Pais e funcionários já falaram à polícia e apresentaram elementos que confirmam as agressões. Depois de serem agredidas, várias crianças chegavam a reclamar para os pais de dores ou choravam pedindo para não ir à escola. Por terem, a maior parte, menos de dois anos, elas estão sendo ouvidas por uma psicóloga especializada da DPCA.
O inquérito da polícia deve enquadrar Maria do Carmo no crime de tortura física e mental, com o agravante de as vítimas serem menores, incapazes de se defender, e de estarem sob a responsabilidade dela. Ela pode ser condenada a 20 anos de prisão. ;Com a divulgação do vídeo, a gente alertou as famílias para que tirassem as crianças dessa escola e para que outras famílias, em geral, prestem atenção ao comportamento dos seus filhos. Mesmo sem conseguir se expressar, essas crianças deram sinais claros de que havia um problema. Diziam que a vovó era má, falavam ;bateu, bateu; e os pais não percebiam;, diz Accorsi.