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Pesquisa diz que 80% das estradas federais de Minas estão em péssimo estado

BELO HORIZONTE - Na volta para casa, depois do feriado prolongado, a grande preocupação dos motoristas que circulam pelas rodovias federais em Minas é a péssima condição dessas estradas, o que representa um elevado risco de danos nos veículos e, o que é pior, de acidentes. E os condutores têm toda razão. As BRs que cortam o estado vivem uma situação caótica, com a superfície totalmente deteriorada, conforme comprova estudo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit): quatro a cada cinco quilômetros da malha sob jurisdição do governo federal em Minas, cerca de 80%, têm superfície em condições ruim ou regular, baseado em índice internacional que avalia irregularidades na superfície das estradas. Trabalho recém-concluído pelo Sistema de Gerência de Pavimentos, braço do Dnit, mostra que 7.745 quilômetros das BRs que cortam o estado não apresentam boas condições de tráfego, pondo em risco motoristas e aumentando os gastos com a manutenção dos veículos.

Para chegar à conclusão, os técnicos fizeram dois levantamentos de campo baseados em parâmetros do Banco Mundial. O primeiro, chamado de Levantamento Visual Contínuo, avaliou a superfície dos pavimentos identificados como flexíveis e semirrígidos, a cada 100 metros, por meio da observação dos defeitos existentes no pavimento. Agentes analisaram desde o tipo e a largura do pavimento até desgaste, afundamento de trilha de roda, remendos, ondulações e outros danos aparentes.

Já o levantamento do Índice de Irregularidades Internacional é uma avaliação da superfície feita com o uso de aparelhos a laser, que fazem leitura dos defeitos do pavimento. Foram aferidos os desvios da rodovia em relação a um plano referencial. Segundo o estudo, tais interferências ;afetam a dinâmica dos veículos, a qualidade de rolamento e as cargas dinâmicas sobre as vias;. E a intenção é que, segundo o coordenador geral da Diretoria de Planejamento e Pesquisa do Dnit, Jony Marcos do Valle Lopes, a partir de tais pesquisas seja dada ;prioridade aos trechos que mais necessitam de intervenções;. A projeção é que, até 2014, só 15% da malha seja caracterizada como regular e ruim. O restante deve ficar no conceito ótimo.

Exemplo do descaso é o que ocorre em quase toda a extensão da BR-354, que corta o estado desde o Alto Paranaíba até a divisa com o Rio de Janeiro, passando pelo Centro-Oeste e Sul de Minas. Trafegar na estrada é sinônimo de prejuízo. É preciso a habilidade de um piloto de automobilismo para desviar de cada buraco, efeito do desgaste causado pelos caminhões de calcário. ;A partir de 2011, devem ser assinados contratos, com duração de cinco anos, para manutenção de 32 mil quilômetros da malha federal, tendo previsão de investimento de R$ 10 bilhões;, explica Lopes. Em Minas, estão incluídos 6 mil quilômetros. Proporcionalmente, o valor é inferior ao que foi investido nos últimos três anos. Ao todo, foram gastos R$ 6 bilhões na recuperação de pavimentos.

Para carroças

Não bastassem os defeitos, em mais de 1 mil quilômetros das BRs que cortam Minas a condição do pavimento é ainda mais problemática. Sem asfalto, as estradas mais se assemelham a vias medievais, apropriadas para carroças. Como são automóveis que transitam nesses trechos, seus motoristas chegam a gastar horas e horas tentando sair de lamaçais, evitando atoleiros e os pedregulhos que se desprendem do chão. É preciso paciência. E alcançar 40km/h no velocímetro é um desafio.

Segundo o consultor em transporte e trânsito Osias Baptista Neto, a deterioração do pavimento resulta numa série de problemas para o usuário da rodovia. A extensa lista inclui a menor aderência do veículo ao piso; o menor atrito de frenagem e consequente aumento do risco nas curvas; maior trepidação, implicando desgaste maior do automóvel e na dificuldade de dirigibilidade. O especialista afirma que na construção da estrada o piso é projetado para suportar o desgaste por determinado período e peso. Mas um aumento médio de 20% no total transportado pode resultar em redução da metade da vida útil do pavimento.

E a falta de fiscalização, uma vez que as balanças para caminhões estão desligadas, é um atrativo para o desrespeito à legislação. Em busca de maior lucratividade, transportadores carregam veículos acima do permitido sem sequer pensar nos estragos que irão causar nas vias ; fora o risco de acidente.

A ;bola de neve; se encerra com a necessidade de se investir na recuperação das estradas. A mutilação do asfalto obriga os órgãos a liberar mais verbas para programas de manutenção, enquanto, se houvesse a devida fiscalização, o nível da superfície seria mantido em condições adequadas de trafegabilidade por maior tempo. ;Manutenção não dá voto. Então, projeta-se a necessidade de manutenção para o governo seguinte e, se for preciso antecipação, argumenta-se que não se tem verba no orçamento para o trabalho. A solução é só um paliativo: as operações tapa-buracos;, afirma Osias.

Um exemplo visível no dia a dia das rodovias são os caminhões que transportam areia, segundo o consultor. Os caminhoneiros e as empresas usam artimanhas para aumentar a capacidade do veículo, como a colocação de pranchas de madeiras na carroceria e, no caso de cargas de areia, uma solução é levá-la molhada. ;As balanças são equipamentos essenciais e seu desligamento é tão sério quanto o dos radares;, compara Osias Baptista Neto.