Jornal Correio Braziliense

Brasil

Vaticano reconhece milagre atribuído a Irmã Dulce e prepara a beatificação

Anúncio do papa Bento XVI deve ser feito, no máximo, até o Natal, segundo dom Geraldo Majella. Com mais um ato miraculoso comprovado, ela será canonizada

Dezoito anos depois da morte de Irmã Dulce, na Bahia, a Congregação para a Causa dos Santos do Vaticano reconheceu um milagre atribuído a ela. O anúncio de que Irmã Dulce se tornará beata foi feito ontem pelo cardeal arcebispo da Bahia e arcebispo primaz do Brasil, Dom Geraldo Majella Agnelo, que trabalhou nos últimos anos para que o milagre fosse reconhecido. A beatificação ainda precisa ser anunciada pelo papa Bento XVI.

;Certamente, o santo padre vai se pronunciar, no mais tardar, até o Natal;, disse, em entrevista ao Correio, dom Geraldo Majella. Segundo ele, a cerimônia de beatificação vai acontecer em Salvador, onde o corpo de Irmã Dulce está enterrado. Já no ano que vem, o processo de canonização deverá ser iniciado. Para isso, é preciso se estudar e confirmar mais um milagre atribuído a ela. O título de santa só poderá ser concedido depois que a Igreja Católica comprovar um novo milagre intercedido pela religiosa.

;Se Deus quiser, trabalharei por isso, a partir do ano que vem. Temos felizmente muitas graças atribuídas à Irmã Dulce. Hoje (ontem), depois de anunciada a aprovação do milagre, tive a oportunidade de me dirigir à igreja onde ela está enterrada e vi, no túmulo dela, várias fotografias de pessoas que se apresentam como miraculadas pela Irmã Dulce;, destacou o carderal arcebispo.

Irmã Dulce nasceu em 1914, em Salvador, e ficou conhecida por suas obras de caridade e assistência aos pobres. Com 13 anos de idade, ela começou a ajudar mendigos e enfermos. Foi quando tentou ingressar pela primeira vez no convento, mas não conseguiu devido à pouca idade.

Em 1932, já com 18 anos, Irmã Dulce ou o Anjo Bom da Bahia, como ficou conhecida, entrou na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, em Sergipe. Dois anos depois, retornou à Bahia, onde dedicou toda a sua vida a essas obras de caridade. Em 1991, cinco meses antes de morrer, ela recebeu o papa João Paulo II em seu leito de enferma.

A Igreja ainda não revelou o milagre pelo qual a Irmã Dulce se tornará beata. Segundo dom Geraldo, trata-se de um caso de cura ocorrido no interior da Bahia, ;num lugar pequenino;. ;Ainda não foi publicado o nome da pessoa que foi examinada, mas certamente dentro de algum tempo poderemos divulgar a identificação dessa pessoa;, disse.

Representantes das Obras Sociais de Irmã Dulce dizem que o milagre se refere à cura de uma mulher que chegou a ser desenganada pelos médicos depois de sofrer uma hemorragia pós-parto. Segundo o arcebispo, para se chegar à conclusão de que houve o milagre, uma comissão de médicos e especialistas examinaram a fundo o caso, e concluíram que a cura não pode ser explicada pela medicina.

Para dom Geraldo Majella, Irmã Dulce foi um exemplo de cristã, que viveu de forma ;quase heroica;. ;Irmã Dulce passou a vida fazendo o bem para os outros. Especialmente depois que ela morreu, sua obra se expandiu. Portanto, ela é um exemplo para toda a Bahia. É uma grande santa reconhecida por todos os baianos;, destacou.


PARA SABER MAIS

Como é o processo

Depois que o papa Bento XVI proclamar a Irmã Dulce beata, um novo processo será aberto para investigar a possível existência de mais um milagre atribuído a ela. Para haver a canonização, é necessário que dois milagres sejam confirmados. A investigação, conduzida pelo Vaticano, é iniciada pelo bispo da diocese onde a pessoa viveu. O primeiro passo é reunir material que possa comprovar a santidade, como anotações, relatos e pessoas que tenham sido beneficiadas pelo possível milagre.

O passo seguinte é a nomeação pelo bispo de um promotor da causa, responsável pela defesa do candidato a santo, e de um ;promotor da fé;, para contrapor os argumentos. Os processos costumam demorar muitos anos e, às vezes, até décadas. No Brasil, o primeiro santo reconhecido foi Frei Galvão, em 2007.

Somente a Congregação para a Causa dos Santos do Vaticano, formada pela mais alta cúpula da Igreja Católica Apostólica Romana, tem competência para declarar que uma pessoa morta é um santo. A decisão, ainda assim, precisa ser ratificada pelo papa, para que o processo de canonização seja concluído. O primeiro santo canonizado da história foi Ulrich, bispo de Augsburg, declarado santo pelo papa João 15, no ano de 993. (DA)