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Quinhentos e vinte e cinco mil minutos de fama de Geisy Arruda

Exatos 365 dias desde que Geisy Arruda foi hostilizada na Uniban, apenas o que mudou foi a vida da jovem, que passou de mera desconhecida a subcelebridade. Pendência judicial ainda deve se arrastar

Leandro Kléber

Especial para o Correio Um ano após ter sido hostilizada na Uniban por ter usado um curto vestido rosa, pouca coisa mudou, exceto, claro, a fama de Geisy Arruda, que no próximo mês será capa de uma revista masculina. Nesses 12 meses, as regras na universidade onde ocorreu o episódio seguem as mesmas e o Ministério da Educação (MEC), responsável pelas instituições de ensino superior, arquivou o processo de apuração das condições em que Geisy foi expulsa da faculdade. Já a batalha judicial travada entre a jovem de 21 anos e a universidade parece longe do fim. As duas partes não estão satisfeitas com a decisão da Justiça, que ordenou, no começo do mês, que a Uniban pague R$ 40 mil de indenização à ex-aluna. Os advogados de Geisy vão pedir aumento no valor, inicialmente cravado em R$ 1 milhão, e a Uniban também decidiu recorrer. ;Não concordamos com a decisão porque acreditamos que a culpa do episódio foi exclusivamente dela, ao se expor levantando o vestido em vários locais do câmpus, mostrando inclusive partes íntimas. Além disso, não houve qualquer dano. Na semana seguinte, ela já estava gravando um clipe musical de vestido rosa. Ela só ganhou com o caso;, avaliou Eliana Bastos, advogada da Uniban, em entrevista ao Correio na quinta-feira. Geisy foi expulsa por ter apresentado, na avaliação da entidade, comportamento inadequado ao ambiente escolar. No entanto, por decisão do reitor, a expulsão foi revogada dois dias depois e a aluna teve o direito de voltar a estudar normalmente, o que não ocorreu. ;Por não realizar os exames semestrais, Geisy não teve sua matrícula renovada para 2010 e não pertence mais à instituição;, argumenta Marco Piva, assessor da universidade. À época, três alunos foram advertidos por ;incentivarem os demais a deixar as classes para acompanhar o episódio, ato que gerou aglomeração e interrupção de aula;. O MEC iniciou um processo de supervisão em relação à Uniban para apurar os procedimentos que levaram à expulsão de Geisy. De acordo com a assessoria de comunicação do ministério, como a instituição reverteu a decisão, reintegrando a aluna, o caso foi arquivado. De acordo com o MEC, um processo de supervisão só é aberto quando há a ocorrência de fatos específicos e quando recebe denúncias, e não houve registro de outros episódios semelhantes. Enquanto isso, pelo menos no ambiente virtual, o assunto passa despercebido na Uniban. Em seu site, a pesquisa com o nome Geisy Arruda se resume a duas citações. Ela aparece em uma lista de selecionados para fazer o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enad) 2009 e em uma notícia curta sobre um seminário educacional, publicada no jornal da entidade. Em uma página geral de buscas, como o Google, porém, é possível verificar que o nome Geisy Arruda resulta em pelo menos 4,5 milhões de resultados. A assessoria de comunicação da Uniban argumenta ainda que, desde o episódio, a ;esmagadora maioria dos alunos, professores e funcionários sempre manifestou seu apoio à instituição porque não enxergam em Geisy Arruda um modelo de comportamento a ser seguido;. De acordo com a universidade, o respeito de 60 mil estudantes e suas famílias é o melhor retrato da imagem que a instituição tem hoje. A reportagem tentou entrar em contato com Geisy Arruda. No entanto, até o fechamento desta edição, a assessoria da jovem não se manifestou. Mas o que fez Geisy esticar seus 15 minutos de fama para quase um ano? De acordo com a socióloga Rúbia Lóssio, a moça ainda está na mídia graças à sua origem humilde e ao fato de ter sido exposta em um site de vídeos muito acessado por jovens. ;Ela dá ibope porque vem de uma cultura periférica e não teve muita oportunidade na vida. A imprensa gosta disso. Aquele fato envolveu questões de liberdade de expressão, moda, educação e ainda o tema mulher;, afirma. O caso Na noite do dia 22 de outubro do ano passado, Geisy Arruda foi à sua aula do curso de turismo na Uniban de São Bernardo do Campo, região do grande ABC paulista, com um vestido considerado curto. Um tumulto iniciou-se entre os alunos que queriam ver a jovem e ela teve de ser trancada em uma sala para se proteger. Geisy deixou o câmpus sob escolta policial, com um jaleco branco por cima do vestido, e as imagens feitas pelos presentes foram postadas na internet. O caso ganhou repercussão nacional e, um mês depois, a direção da Uniban anunciou a expulsão da estudante, mas recuou. Declarou que ela poderia frequentar a sala de aula, mas Geisy disse que não retornaria por motivos de segurança. De lá para cá, Geisy desfilou nos carnavais do Rio, de São Paulo e da Bahia, fez uma série de cirurgias plásticas, lançou uma linha de roupas e participou do reality show A Fazenda, da TV Record.