São Paulo ; A ocupação de quatro prédios do centro da capital paulista por integrantes da Frente de Luta por Moradia (FLM) completa nesta quarta-feira (13) dez dias. As cerca de 2,8 mil pessoas que entraram nos edifícios, no início da semana passada, continuam nos locais e não pretendem sair até que seja acertada uma solução.
O coordenador da FLM, Osmar Borges, disse que as famílias querem uma moradia definitiva. Em reuniões com representantes da prefeitura de São Paulo, elas reivindicaram a construção de casas na periferia da cidade e pediram, principalmente, a transformação de edifícios vazios em moradias populares.
De acordo com ele, uma reunião com representantes da secretaria e da coordenação das ocupações está pré-agendada para a próxima segunda-feira (18). ;Estamos aguardando a manifestação do Poder Público. Enquanto isso, a única opção é continuar com as ocupações;, afirmou Borges. ;Estamos limpando e organizando os prédios para que as famílias possam ficar melhor acomodadas.;
A reforma de prédios abandonados é uma das opções apontadas por urbanistas para a solução problema de moradia na maior cidade do país. Especialistas ouvidos pela Agência Brasil afirmam que muitos edifícios paulistanos, inclusive os ocupados pela FLM, poderiam abrigar pessoas sem teto.
;Os prédios são uma solução viável;, disse Kazuo Nakano, do Instituto Pólis. ;Com novas ligações elétricas, hidráulicas e algumas adaptações, os edifícios poderiam abrigar parte das famílias que os ocupam hoje, com certeza.;
A urbanista Simone Gatti, da TC Urbes, concordou com Nakano. Segundo ela, a reforma tem uma relação custo-benefício interessante, principalmente quando levadas em conta as facilidades a que os moradores desses prédios teriam acesso por estarem abrigados no centro da cidade. ;Transporte, escolas, saúde, tudo fica mais perto;, enumera.
Ela ressaltou, porém, que projetos deste tipo têm que dar condições para que famílias de baixa renda ocupem os prédios reformados. Segundo ela, é entre os que ganham até três salários mínimos por mês (R$ 1.530) que se concentra o déficit habitacional do país. Para a urbanista, o governo precisa atuar para que as famílias sem teto sejam beneficiadas por intervenções em imóveis desocupados.
;Há famílias que não têm como pagar o financiamento de um apartamento. Precisaríamos repensar as políticas habitacionais do país para atendê-las;, observou. ;Uma opção é criar uma espécie de aluguel social, como existe em outros países;, observa Simone ao citar o modelo no qual o beneficiado pelo programa habitacional não tem a propriedade do imóvel e paga um aluguel subsidiado pelo Estado.
O ex-secretário de Planejamento de São Paulo, Jorge Wilheim, disse que se há ocupações é porque as políticas atuais são ineficientes. O urbanista classifica a ação dos integrantes da FLM como ilegal, porém reconhece que as ocupações são uma ;forma de luta da população;. ;O que não pode é ficar vazio um prédio que poderia ser habitado;, acrescentou.
A Secretaria Municipal de Habitação informou, em nota, que 53 prédios da capital já foram declarados de interesse social e serão reformados e que está disposta a negociar com os integrantes da FLM uma solução para o fim das ocupações.