O Brasil foi o primeiro país das Américas a apresentar relatório sobre a eliminação do sarampo à Organização Panamericana de Saúde (Opas), mas depende do esforço de outros países para se livrar definitivamente da doença. O documento será avaliado por especialistas internacionais e o resultado deve ser divulgado em 2012, em análise geral sobre o continente americano. Há dez anos o vírus não circula pelo país, sendo que os casos recentes ; Paraíba, Pará e Rio Grande do Sul ; são todos de origem estrangeira. O país luta pela eliminação da doença desde a década de 1960, quando foi descoberta a vacina de imunização. O próximo passo é conseguir os mesmos resultados também para a rubéola e a síndrome da rubéola congênita (SRC).
O sarampo é uma doença que acomete homens e mulheres, independentemente da idade, desde que não vacinados. Apesar de o vírus circular em todos os continentes do globo, o último caso com origem no Brasil foi registrado em novembro de 2000 em Mato Grosso do Sul. Entre 2001 e 2009, todos os 67 casos confirmados da doença foram ;importados; de outros países.
O sarampo, a rubéola e a SRC têm o homem como único hospedeiro e vacina eficaz e duradoura na proteção. Essas características possibilitam que, com controle epidemiológico efetivo, esses males sejam eliminados. De acordo com a responsável pelo laboratório de vírus respiratórios e sarampo da Fundação Oswaldo Cruz, Marilda Siqueira, o vírus do sarampo deixou de circular no país devido a uma rede de comprometimento que envolveu a população, os servidores públicos da área da saúde e os governantes. ;Com vontade política em assumir um programa de eliminação, funcionários trabalhando de forma homogênea e constante na execução dos projetos e a população reconhecendo a importância da vacinação, foi possível alcançar esse resultado;, elogia. Para a especialista, a campanha de vacinação de 2008 foi o marco principal do combate à doença. ;A população aceitou muito bem a campanha, acreditou no projeto e respondeu positivamente a ele;, diz.
Coordenador- geral de doenças transmissíveis do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, também reconhece o papel da população no processo: ;Como ocorre tradicionalmente no Brasil, houve uma grande adesão das pessoas durante as campanhas de vacinação. Esse envolvimento ajuda também na divulgação de informações sobre a doença;.
Desde 1992, as secretarias de vigilância epidemiológicas foram orientadas a notificar e investigar todos os casos de sarampo no país. A partir daí foi possível elaborar estratégias de vacinação e controle da doença. Dois anos depois, todos os incidentes passaram a ser tratados como surto, e a sofrer ações de bloqueio viral para evitar a propagação da doença. (Leia mais no quadro ao lado).
Sul-africano
Hoje, no estado da Paraíba, há 38 pessoas com diagnóstico confirmado para o vírus do sarampo. Todos foram investigados pelo laboratório de referência para sarampo da Fiocruz do Rio de Janeiro e o vírus identificado tem sequenciamento genético similar ao que circula na África do Sul. De acordo com o Ministério da Saúde, ainda não há transmissão sustentada do vírus.
Exemplo para outros
Representante da Organização Panamericana de Saúde (Opas), Brendan Flannery explica que outros países, como Estados Unidos, Canadá e Costa Rica, também conseguiram eliminar o vírus nativo, mas ainda não entregaram os relatórios à organização. ;Como o Brasil foi o primeiro a apresentar o documento, esperamos que sirva de exemplo para os outros países;, conta. Ele adianta que, para conseguir a certificação, serão avaliadas as ações da vigilância epidemiológica para responder aos surtos da doença, as coberturas vacinais, e as estratégias para manutenção do quadro.
Diferentemente do caso da erradicação da poliomielite, em que os países receberam certificações individuais de eliminação da doença, no caso do sarampo, o certificado de erradicação será unificado para as Américas. A Opas espera que até 2012 todos os países estejam preparados para apresentar o documento e serem avaliados. Flannery diz ainda que países mais pobres, como o Haiti, que passou por um estado de calamidade pública por conta do terremoto, terão mais dificuldade em cumprir essa meta.
Como se trata de uma doença de fácil transmissão, mesmo depois de conseguir o documento, o coordenador geral de doenças transmissíveis do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, afirma que o planejamento de vacinas no país não vai ser modificado. ;Até que ocorra a eliminação global da doença, não está prevista nenhuma alteração no nosso calendário de vacinação;, esclarece. Infectologista e pediatra do Hospital Regional da Asa Sul, Bruno Vaz, explica que a vacina é a principal garantia para que o vírus não volte a circular no país. ;Deve-se evitar as falhas de cobertura, já que um pequeno grupo vulnerável pode comprometer a população;, diz. (CK)
[FOTO2]