Jornal Correio Braziliense

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Pesquisa mostra que jovens brasileiras se sentem inseguras na internet

Estudo sai na mesma semana em que três adolescentes foram abusadas por criminosos que conheceram na web. Ainda assim, metade delas gostaria de marcar um encontro

Duas adolescentes conhecem um rapaz pela internet e combinam de se ver pessoalmente. No dia seguinte, perto das 17h, os três se encontram em uma praça da cidade. Mas as meninas percebem que o homem está armado e as obriga a acompanhá-lo até um terreno baldio. Lá, ele abusa sexualmente das duas garotas. As idades delas: 12 e 14 anos. Esse foi um dos dois casos de encontros marcados com desconhecidos seguidos de estupro registrados em apenas uma semana no estado de São Paulo.

Não é à toa que as jovens se sentem inseguras em relação à web. Mas com um agravante: estudo da organização não governamental Plan Brasil revelou que, apesar de 60% das adolescentes brasileiras conhecerem os perigos da exposição virtual, metade delas gostaria de encontrar pessoalmente alguém que teriam conhecido on-line. A pesquisa Adolescentes brasileiras em um mundo digital entrevistou 400 jovens de todo o país e constatou que 79% das meninas não se sentem seguras ao acessar a internet.

O levantamento foi realizado pela CPP Brasil e é parte do projeto da ONG Plan sobre o impacto das tecnologias de comunicação e informação na vida de meninas de todo mundo e sobre os riscos a que estão expostas quando em contato com esses instrumentos. Um questionário sobre o uso da internet e do celular foi aplicado em grupos focais de discussão que reuniram 40 meninas de escolas públicas e privadas das cidades de São Paulo e Santo André, e também a cerca de 400 adolescentes de estados diferentes que responderam às perguntas pela internet.

De acordo com o gestor da CPP Brasil, Luiz Rossi, as adolescentes têm ciência da possibilidade de se deparar com pessoas mal-intencionadas no ambiente virtual. ;Várias meninas manifestaram conhecer casos próximos de amigas que tiveram problemas com desconhecidos pela internet, o que funcionou como um alerta para elas;, conta.

A pesquisa constatou que quanto mais conhecimento e consciência as meninas têm sobre os novos recursos, maior o grau de segurança que sentem on-line. ;Elas sabem que as suas fotos podem ser manipuladas ou divulgadas sem autorização, e que, uma vez publicadas, dificilmente são recuperadas.;

Outro problema revelado pela pesquisa é o fato de as famílias de baixa renda ; por terem menos acesso às novas tecnologias ; encontrarem mais dificuldade em instruir as crianças sobre o uso da internet. Os adolescentes que não têm computador em casa recorrem às mais de 100 mil lan houses que existem no país, e os pais não têm como fiscalizar. Para Rossi, nesses casos, a inclusão digital dos adultos e o diálogo com os filhos são fundamentais. ;As meninas relatam que os pais que desconhecem a tecnologia usam a repressão em vez da instrução. Para conhecer os problemas aos quais as meninas estão sujeitas é fundamental ouvi-las primeiro;, explica.

Fotos e vídeos
O caso das duas adolescentes ocorreu no município de Taubaté, a 140km de São Paulo. O estupro foi comprovado em exames clínicos e a polícia civil investiga a ocorrência. Também no estado de São Paulo, uma outra jovem foi vítima do mesmo crime. Em Lorena, uma mulher de 22 anos marcou encontro com o agressor por uma sala de bate-papo. O homem chegou de moto ao local combinado e a obrigou a subir na garupa. Em seguida levou a jovem até um matagal. Segundo a polícia, ela foi amarrada e estuprada. A vítima afirmou à polícia que não tem como identificar o agressor já que ele permaneceu o tempo todo de capacete.

Diretor de Prevenção da ONG SaferNet Brasil, Rodrigo Nejn, alerta para os cuidados que as adolescentes devem ter com o uso da rede e diz que elas são as que mais se expõem aos riscos com envio de fotos e vídeos. ;Quando esse conteúdo chega nas mãos erradas o risco de ocorrer cyberbullying (1) ou chantagens é muito grande;, explica.

No caso de abuso ou ofensa sexual, o especialista recomenda o bloqueio imediato do ofensor e que seja registrada denúncia pelo site www.denuncia.org.br. ;A Polícia Federal recebe essas informações e toma as providências devidas;, afirma Nejn.

1 - Agressividade
Bullying é o termo usado para definir comportamentos agressivos, intencionais e repetitivos, sem uma razão aparente e que ocorrem entre adolescentes e crianças. O cyberbullying é a variação dessa agressão no ambiente digital, e atinge pessoas conhecidas ou desconhecidas.