Uma cirurgia inédita realizada no Hospital das Clínicas (HC) conseguiu extrair uma faca de dentro da cabeça de um homem de 29 anos, em Pernambuco. O procedimento, considerado de altíssimo risco, foi realizado pela equipe de neurocirurgia da unidade. O paciente, o borracheiro Edeílson Manoel do Nascimento, que convivia com o objeto há três anos.
A cirurgia durou cerca de quatro horas e nesta quinta-feira (23), dois dias depois da operação, o estado de saúde de Edeílson Manoel é avaliado como bom pela equipe médica. Apesar da gravidade do procedimento, ele já conversa normalmente. Desde a quarta-feira Edeílson está na enfermaria da unidade de saúde e deve receber alta na semana que vem. Uma equipe de sete profissionais participou da intervenção, três deles neurocirurgiões.
O borracheiro era acompanhado há nove meses pela equipe do HC. Vítima de uma facada na cabeça depois de uma discussão há três anos, ele se queixava de fortes dores de cabeça. O artefato não pôde ser retirado na época do incidente porque o procedimento foi considerado arriscado demais. Por isso, somente o cabo da faca foi retirado, enquanto a lâmina permaneceu onde estava. Diante da situação do borracheiro, diversos exames foram realizados, inclusive testes psicológicos para determinar se as dores que ele estava sentindo não tinham causa emocional.
O único exame ao qual ele não pôde ser submetido foi o de ressonância magnética, pois havia o risco de a faca se mover dentro de cérebro e causar um problema maior, já que ela estava perto de artérias importantes. ;Depois dos exames, constatamos que a faca deveria estar enferrujando e largando partículas dentro do cérebro. Por isso ele estava sentindo as fortes dores de cabeça;, explicou o chefe da Neurocirurgia do HC, Alex Caetano, coordenador da intervenção.
Mesmo sob o risco de uma hemorragia fatal, Edeílson Manoel aceitou fazer o procedimento. ;O médico me disse que eu tinha três opções depois da cirugia: ficar pior, fica igual ou melhorar. Me apeguei nessa última;, contou, otimista, o paciente.
;Foi uma cirurgia muito delicada porque a faca estava aderida ao cérebro. O que fizemos foi separá-la e retirá-la, sem causar dandos às artérias;, explicou o médico. Assim como suspeitavam, o objeto já estava se deteriorando dentro do cérebro de Edeílson e soltando partículas. Caso a faca não fosse retirada, os médicos afirmam não saber que tipo de sequela o borracheiro poderia sofrer. ;Não há na literatura médica um relato de uma pessoa que tenha passado três anos com um faca dentro do cérebro, por isso,não podemos avaliar os riscos que isso poderia trazer para ele;, ressaltou Alex Caetano.
Histórico - A agressão a Edeílson ocorreu em Goiás, em 2007, quando ele fazia um trabalho temporária na área de agricultura. Ele só tomou conhecimento de que a faca foi mantida em sua cabeça cinco meses depois. De acordo com o paciente, alguns médicos lhe orientaram a não realizar a cirurgia em razão do risco de morte. ;Nestes três anos, senti fortes dores de cabeça todos os dias da minha vida desde a hora que eu acordava até a hora de dormir. Até parei de trabalhar;, revelou o paciente.