Jornal Correio Braziliense

Brasil

Quase 90% das prefeituras do Norte e Centro-Oeste tem problemas com queimadas

Levantamento da Confederação Nacional dos Municípios constatou que Goiás, Mato Grosso e Tocantins são os estados que mais sofrem com a combinação seca e fogo. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) estima que nos próximos dias a umidade relativa do ar nessas regiões deve permanecer entre 20% e 30% e prevê chuvas apenas para a próxima semana. Este mês o Sistema de Monitoramento de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais registrou mais 35 mil focos em todo o país, valores menores que o constatado em 2007, ano considerado de estiagem rígida e compatível com a realidade atual.

De acordo com o mapeamento da confederação, realizado por meio de entrevista com mais de 500 prefeituras das regiões Norte e Centro-Oeste, 89,8% das cidades pesquisadas que passam por período de estiagem têm problemas com queimadas e 14 municípios já decretaram situação de emergência.


Especialista em meteorologia, Marcia Seabra explica que a falta de chuva na região nesse período se dá devido à formação de uma massa de ar quente e seca que atua como uma barreira, impedindo a entrada de massas mais frias carregadas de umidade vindas da Amazônia. ;Essa massa funciona como uma grande bolha de ar seco e quente que impede a formação de nuvens de chuva;, diz. Chefe da previsão do tempo, Marcia avisa que apenas em meados de setembro essa massa começa a perder força e prevê chuvas isoladas somente a partir das próximas semanas.
Comparado ao mesmo período do ano anterior, mesmo faltando dez dias para o fim do mês, o número de focos de incêndio já ultrapassaria o dobro do valor registrado. Mas 2009 foi considerado um ano atípico, com período de estiagem mais ameno. Em Brasília, por exemplo, a última chuva registrada este ano foi em 26 de maio. A pior marca identificada nos últimos anos foi em 2007, quando a capital ficou 125 dias sem chuva e foram registrados no país mais de 200 mil focos de incêndio durante o ano. Em 2009 a seca durou apenas 67 dias.

Manuseio
Para o presidente da Comissão Nacional de Meio Ambiente da Confederação Nacional dos Agricultores, Assuero Doca Veronez, a origem do fogo não está no manuseio dos produtores agrícolas. ;A maioria dos focos se forma na beira das estradas, que não tem atenção do poder público. O capim seco contorna a beira das estradas e funciona como combustível para o fogo que se alastra para as áreas de produção e para reservas ecológicas;, acredita. Segundo o especialista, quem mais sofre prejuízo com as queimadas nesta época do ano são os pequenos produtores e os fazendeiros que dependem de pastagens. ;As culturas anuais dos grandes e médios produtores agrícolas já passaram pelas colheitas, e já se prepara o plantio para a próxima safra;, conta. ;São as culturas permanentes de pequenos produtores que têm pés de banana e café, por exemplo, que sofrem maior prejuízo.;

;O problema não é o uso do fogo. O fogo, quando usado adequadamente, funciona como um instrumento técnico para aqueles produtores que não dispõem de mecanismos modernos;, explica. Mesmo assim, o especialista assume que o assunto é preocupante e afirma que a confederação disponibiliza cursos de prevenção e combate ao fogo para funcionários de fazendas e pequenos produtores. Veronez defende ações mais fortes e a criação de políticas públicas que façam com que os agricultores substituam o uso do fogo por tecnologias mais modernas. ;Estados com agricultura mais desenvolvida não têm tantos problemas com queimadas. Os produtores passaram por um processo de incorporação tecnológica e não precisam fazer uso do fogo para limpar suas áreas para plantio;, diz.