O mineiro de antigamente, sentado à beira de uma estradinha qualquer de um rincão das Gerais, impotente diante do fogaréu no mato, simplesmente diria, num pensamento absolutamente fatalista: ;Deus quis assim, uai!”. O matuto só tinha o aceiro para impedir que sua plantação torrasse. O tempo andou, o mato cresceu de novo e alguém falou: ;Há uma nova consciência no ar para tomar lugar da fumaça;. Ninguém, ninguém mesmo vai fazer queimada de pasto, não sem antes consultar as autoridades de controle do fogo. Não haverá mais fogueiras em acampamentos. Não haverá sequer uma guimba de cigarro voando em direção a uma touceira de capim. E se não houver nada disso, a tecnologia está aí para ajudar o homem a apagar incêndios.
A nova consciência, infelizmente, não andou na mesma velocidade com que o fogo devora florestas, capoeiras e savanas. O menino pergunta: ;Mas, não seria mais fácil atiçar a inteligência do homem do que um simples tição?; Seria, se o homem quisesse. As brasas continuam voando, de um campo para outro, de galho em galho e de folha em folha. Basta o inverno chegar. Saem das queimadas, das fogueiras, do toco de tabaco e de uma praga que alguns da espécie humana acham de extrema genialidade e beleza: os balões. E viram chamas vorazes, devastadoras. Bom, a consciência não veio, mas, pelo menos, temos tecnologia, mesmo que em pequenas doses.
O que há de tecnologia para enfrentar queimadas aqui nas Gerais, em seus mais 586 quilômetros quadrados de extensão, são nove pequenos aviões Air Tractor, daqueles com tanque para até 2 mil litros de água, nem todos em operação. O resto é na milenar técnica do abafa. E o fogo anda. Um dia na Serra do Rola-Moça, no outro, na Canastra ou no Parque Renato Azeredo ou na Mata das Abóboras ou, como o da Serra de Igarapé, que, desde domingo, já perdeu 25 hectares. Lá se vão o verde, o habitat dos animais, a camada de ozônio e, às vezes, até uma vida incauta. Só nos primeiros 10 dias deste mês, houve 930 focos de incêndio no estado, contra 484 no mesmo período de 2009. Dá vontade de subir no prédio mais alto desta cidade e, diante do horizonte ardendo, repetir o fatalismo do mineiro de antigamente: ;Deus quis assim, uai!”