O Brasil registrou no último fim de semana 13 mil focos de incêndios em cinco estados da Amazônia e do Centro-Oeste. Somente este ano, foram detectadas 284 mil queimadas, quase o mesmo total daquelas ocorridas em 2005 ; o índice é o maior nos últimos cinco anos. A situação mais grave segue no Parque Nacional do Araguaia, em Tocantins, onde mais de 200 mil hectares foram destruídos, mas os satélites coletaram imagens de mais de 800 incêndios em São Félix do Xingu, no interior do Pará. Além do prejuízo ambiental, os efeitos da fumaça já atingem cidades, afetam a saúde da população em alguns casos e fecham aeroportos.
Pelo menos 150 militares do Exército e da Força Aérea Brasileira (FAB) estão sendo deslocados para Marcelândia e Nova Bandeirante, em Mato Grosso, Ilha do Bananal (TO) e Rondônia, para auxiliar as brigadas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), onde a situação é considerada de alto risco. Ontem mesmo o órgão emitiu um alerta de emergência para os municípios de Cujubim, Buritis e Porto Velho ; todos em Rondônia ; por causa do aumento das queimadas. Bombeiros de Mato Grosso do Sul foram enviados aos locais para ajudar a debelar os focos de incêndios.
No Parque Nacional do Araguaia, os focos de queimadas ultrapassam os 5 mil. Uma reunião ocorrida ontem no Exército, em Palmas, definiu a criação de pelo menos três bases em Lagoa da Confusão, Formoso do Araguaia e na Ilha do Bananal ; para tentar evitar que o fogo se alastre pela própria ilha. Na capital do estado, dois homens foram presos enquanto colocavam fogo em um terreno. Eles foram encaminhados à Delegacia do Meio Ambiente.
No balanço de ontem do Ibama, Mato Grosso apresentava o maior número de focos de fogo, segundo as imagens dos satélites que sobrevoaram a Amazônia Legal durante o fim de semana. Mas no Pará, os números expressivos ; 3.855 casos ; também alertaram as autoridades, como São Félix do Xingu, onde havia 890 incêndios, 40 a mais que em Cumaru do Norte, com 850. Em Tocantins, conforme as imagens de satélite, havia 1.677 incêndios, sendo 118 deles na Lagoa da Confusão, e 121 em Formoso do Araguaia. A forte seca que atinge a região pode fazer com que as queimadas se intensifiquem, principalmente no Centro-Oeste.
Transporte afetado
Na semana passada, não havia como chegar a Rio Branco ; a capital do Acre ; e a Porto Velho, em Rondônia, por via aérea. A fumaça causada pelas queimadas nos dois estados, além de Mato Grosso e da Bolívia, provocaram o fechamento dos aeroportos. Nas estradas, o tráfego durante o período noturno também foi proibido, em função do problema, que é normal na região durante o mês de agosto, mas que, a cada dia, aumenta mais. Os incêndios que se alastram principalmente por causa da seca, deixaram prejuízos materiais em Marcelândia (MT), onde o fogo destruiu pelo menos 100 casas.
O problema na Amazônia não chega a ser uma novidade, mas os prejuízos deixaram de ser apenas ambientais, para se transformarem em caso de saúde pública. Nos hospitais do Acre foi registrado um crescimento de 30% nos atendimentos de doenças relacionadas a infecções respiratórias, e duas pessoas podem ter morrido por causa da intensa fumaça na região do Vale do Juruá. Um deles é o vereador Jessé Santiago, presidente da Câmara Municipal de Rio Branco. Por falta de voos para a capital, cancelados por causa da fumaça, ele partiu de Cruzeiro do Sul, ao sul do estado, e seu carro caiu em uma ribanceira, matando-o e também um de seus assessores.
Em Tocantins, não chove há 120 dias e 20 municípios já decretaram estado de emergência por causa da intensa seca e das queimadas. Na divisa de Acre e Rondônia, a travessia do Rio Madeira, feita por balsas, está mais complicada por causa do nível do rio, enquanto no Pantanal a situação é igual. (EL)