A combinação entre um inverno com temperaturas até cinco graus acima da média histórica e a estiagem prolongada faz arder em chamas as matas mineiras, levando o número de focos de incêndio no estado a mais que dobrar desde janeiro. O número de queimadas já é 136,6% maior neste ano, em comparação com o mesmo período de 2009, segundo monitoramento via satélite feito pelo Programa de Prevenção e Combate a Incêndios (Prev-Incêndio) do Instituto Estadual de Florestas (IEF). Até quarta-feira, as chamas já haviam consumido 1.063 hectares de área verde (o equivalente a 1.063 campos de futebol). E os números vão aumentar.
Ainda não computado nos dados do IEF, um incêndio de grandes proporções, controlado na terça-feira em Itajubá, no Sul de Minas, a 447 quilômetros da capital, teria devastado mais de 400 hectares de vegetação. Por pouco, as labaredas não chegaram à Reserva Biológica da Serra dos Toledos. Os dados do órgão estadual tampouco consideram a última queimada na Grande BH, que atingiu a Serra do Rola-Moça, prejudicando a qualidade do ar na capital e cidades vizinhas, já castigadas pela baixa umidade, que registrou pior marca na segunda-feira.
Em Minas, apenas nos 11 primeiros dias de agosto, foram catalogados 930 focos de incêndio, diante de 484 em igual período de 2009. Desde o início do ano, foram 3.119 registros de queimadas, contra 1.318 no ano passado, o que torna 2010 o pior dos últimos três anos nesse quesito. "Tivemos um inverno sob o efeito do fenômeno La Niña, que provocou destempero do clima em várias regiões do estado. Em alguns lugares, o frio foi intenso e em outros, fez muito calor, com a temperatura cinco graus acima da média, o que é muito para o período. Com a falta de chuvas e a baixa umidade, foi criado um ambiente favorável para as queimadas", explicou Cláudia Melo, gerente do Prev-Incêndio, citando dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Devido ao aumento no número de queimadas, o IEF montou uma operação de guerra no estado. Em Curvelo, na Região Central, onde funciona a base operacional do instituto, um helicóptero, três aviões, seis carros e 42 homens permanecem de prontidão. O contingente em todas as 244 unidades de conservação espalhadas pelo estado também foi reforçado para o período crítico, que começou em junho e só termina em novembro.
Mas a mobilização não é suficiente para evitar ocorrências como a registrada em Buritizeiros, no Norte de Minas, a 357 quilômetros de BH, onde um incêndio destruiu áreas de preservação permanente. Brigadas também tiveram trabalho em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Somente em agosto, foram registrados sete focos de queimadas. O último ocorreu na madrugada de quarta-feira, quando as labaredas destruíram 40 mil metros quadrados de uma área de proteção ambiental no Pico do Ibituruna, cartão-postal da cidade. As chamas só foram controladas no início da manhã.
Já na Grande BH, os bombeiros debelaram no fim da noite de terça-feira um incêndio que destruiu três hectares no Parque Estadual da Serra do Rola-Moça e 81 hectares no entorno da unidade de conservação.