O corpo de um homem encontrado boiando em um córrego em Conceição do Pará, na região Centro-Oeste de Minas Gerais, pode complicar ainda mais a situação dos dois militares acusados de abuso de autoridade no município. Além disso, inclui o nome de outros quatro policiais no inquérito. Há cerca de um mês, Welbert Francisco dos Campos, de 31 anos, havia feito denuncias contra os PMs em uma audiência pública. Desde então, ele vinha sendo ameaçado.
As acusações contra os policiais chegaram à Câmara Municipal de Conceição do Pará há alguns meses, mas foi há cerca de 30 dias que elas foram levadas ao conhecimento da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa. Entre a lista de crimes supostamente cometidos está extorsão, tortura, apologia ao crime, acobertamento de roubo de cargas e sonegação fiscal, enriquecimento ilícito, desrespeito à hierarquia militar, ameaça de morte, abuso de autoridade e invasão de domicílio.
Welbert Campos afirmou, numa primeira audiência pública, ocorrida em fevereiro, que os militares haviam espancado e quebrado seu braço durante uma abordagem de rotina. Depois da denúncia, ele começou a ser perseguido. Na última audiência, realizada na terça-feira, Campos chegou a reafirmar que estava sendo ameaçado. Essa foi última vez que ele foi visto.
Na tarde desta quinta-feira (29/7), Roberto Caldas, de 19 anos, estava pescando com amigos quando viu um saco plástico, preto, amarrado com arame, no fundo do córrego que corta a cidade. ;Puxamos para ver o que era e vimos um pé saindo de dentro do saco;, conta.
Welbert Campos foi morto com seis facadas. Ele sofria de falência renal e dependia da hemodiálise. Por causa da doença, foi afastado do emprego e sobrevivia com o salário da aposentadoria. Era usuário de drogas e morava com o pai, o também aposentado Wilson Francisco do Carmo, de 59 anos.
;Ele não era agressivo, tinha os problemas dele, mas não tinha inimigos. Não sei o que aconteceu, mas acredito que haja possibilidade desses policiais estarem envolvidos. Quem me garante que eles não mandaram matar meu filho?;, questiona indignado.
População amedrontada
Apesar da morte de Campos ainda estar sob investigação, a suspeita do envolvimento de militares no assassinato tem assustado a população, principalmente os outros denunciantes que também participaram as audiências públicas. ;Estão todos apreensivos, com certeza. Eu participei como representante da sociedade civil nas duas audiências e tenho contato direto com os denunciantes. Eles estão assustados;, diz a dona de casa Cristina Maria Benício.
A Comissão Direito Humanos da Assembléia Legislativa já foi avisada da morte de Campos. Moradores e denunciantes pediram proteção para o município, com o envio de policiais de outras cidades. A OAB entrou com pedido na Corregedoria da Polícia Militar pedindo a prisão preventiva de todos os envolvidos. Os quatro policiais que continuavam trabalhando na segurança pública de Conceição do Pará foram afastados nesta quinta-feira.