Jornal Correio Braziliense

Brasil

Seminário que apresentou os primeiros médicos formandos do ProUni vira palanque

Evento deve debater perspectivas profissionais reúne o presidente Lula, ministros e se torna uma ode ao programa do governo

Eles deveriam ser os protagonistas do evento. Mas os 230 formandos em medicina compuseram uma plateia, na tarde de ontem, apenas para dar ouvidos a discursos empolgados sobre o Programa Universidade para Todos (ProUni)(1), do Ministério da Educação (MEC). A abertura do seminário Perspectivas profissionais na área da saúde, realizado em parceria pelos ministérios da Educação e Saúde, apresentou os estudantes como os primeiros médicos formados ; eles encerrarão o curso em dezembro ; a partir de bolsas do programa. Porém, a tal ;oportunidade de debater possibilidades de atuação;, como o Ministério da Educação definiu o encontrou, não vingou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Educação, Fernando Haddad, aproveitaram o espaço para elencar números positivos relacionados ao ensino superior no país. Segundo Haddad, o número de vagas em universidades federais dobrou em relação a 2002. Hoje, seriam cerca de 230 mil vagas, de acordo com dados preliminares do censo da educação superior referentes a 2009. O ministro afirmou que o ProUni oferece, aproximadamente, 150 mil bolsas por ano. O presidente Lula aproveitou para destacar a criação de 214 escolas técnicas em seu governo e afirmou: ;O preconceito que as pessoas tinham com bolsistas é uma doença. O programa provou que essas pessoas são capazes. Antes, eram considerados filhos de brasileiros predestinados a não dar certo apenas porque não tinham oportunidade;.

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, apresentou cinco cenários atuais sobre os quais os bolsistas deveriam estar atentos, ao longo de sua atuação profissional: o envelhecimento precoce da população; a mudança de hábitos alimentares, com tendência a sobrepeso; a dependência da tecnologia; a consciência da população no direito à saúde; e as principais causas de morte como sendo acidentes e violência. Em seu discurso, Temporão parabenizou os estudantes e provocou: ;Quem de vocês será o futuro Ministro da Saúde?;.

Se os alunos não tiveram muito o que debater na abertura, ainda há chance de isso mudar. O evento segue até hoje, com a proposta de apresentar aos futuros médicos os programas que integram o Sistema Único de Saúde (SUS). A diretora do departamento de gestão da educação na saúde do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad, reconheceu a falta de uma política pública específica para os futuros médicos, mas minimizou o fato. Ela afirmou que, neste ano, foram criadas mil novas vagas de residência médica em todo o país. Em 2011, outras mil vagas serão criadas, a partir de estudo que indica as áreas que demandam prioridade.

O seminário deve abordar ainda questões como formação ética, as especialidades ligadas à saúde da família e comunidade; além de apresentar políticas de formação no âmbito do SUS.

1 - De que se trata
O ProUni foi criado em 2005 e já beneficiou 704 mil estudantes com bolsas de estudo parciais e integrais. Deste total, 4,4 mil são bolsistas de medicina. Participam do programa estudantes que tenham cursado o ensino médio em escola pública ou em escola particular na condição de bolsista integral e tenham renda familiar per capita de até três salários mínimos.

Homenagem à senhora Haddad
A lógica do Programa Universidade para Todos (ProUni) surgiu da cabeça de uma dentista, a atual diretora do departamento de gestão da educação na saúde do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad. O sobrenome não é coincidência: Ana Estela é mulher do ministro da Educação, Fernando Haddad. O mérito da ideia do programa foi dado ontem pelo ministro. ;Há seis meses do término do governo, é preciso que um nome seja dito neste momento. Foi ela quem insistiu para a criação de um programa com as características do ProUni;, disse Haddad. Ao Correio, Ana Estela explicou o caso. ;Eu era assessora do então ministro da Educação, Cristovam Buarque, e acabava recebendo muitas cartas que reclamavam sobre financiamento;, relatou. ;Percebi que as faculdades filantrópicas conseguiam ficar isentas de impostos oferecendo serviços que não eram propriamente educação, como atendimento médico e odontológico. Eu avaliei que as faculdades poderiam ter esse desconto oferecendo bolsas.; (LL)