Foi preso na madrugada de hoje em Belém do São Francisco, Osvaldo João dos Santos, de 43 anos, conhecido como Vavá Araquan. De acordo com a polícia, ele seria um dos homens mais procurados do Sertão de Pernambuco. Com ele foi apreendida uma pistola ponto 40 roubada, de uso exclusivo da Polícia Federal e por isso ele foi autuado em flagrante por porte ilegal de arma. Vavá foi detido por policiais militares da 1; Companhia Indepedente de policiamento.
Foragido desde 2001 do Presídio de Salgueiro, Osvaldo é suspeito de praticar homicídios, seqüestros e tráfico de drogas e possui 10 mandados de prisão, respondendo a 10 processos nas cidades de Belém de São Francisco e Cabrobó.
Guerra - Em abril deste ano, representantes das famílias Benvindo e Araquan vieram ao Recife para pedir celeridade no julgamento dos processos que envolvem integrantes de cinco famílias, numa guerra que durou 14 anos, no Sertão do estado. A paz já foi selada há 10 anos, mas a vida de muitos ainda está em suspenso enquanto aguardam uma decisão judicial. Um grupo com sete integrantes dos clãs foi recebido à tarde pelo presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), o desembargador José Fernandes de Lemos. O encontro foi bem-sucedido. O desembargador marcou uma nova reunião para receber a relação de processos do caso. O Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público, Paulo Varejão, também recebeu os representantes das famílias e falou da possibilidade de designar um só promotor para tratar da questão. O resultado das reuniões transformou tensão em alívio."Achei ótimo. Acho que dessa vez vai resolver, se Deus quiser", comemorou na ocasião a esposa de Vavá Araquan, Cilene Carvalho.
Foi nos municípios de Belém de São Francisco e Cabrobó que ocorreu a guerra sangrenta, que matou cerca de 150 pessoas. No encontro com o presidente do TJPE, eles pediram agilidade no andamento dos processos - a maioria homicídio e alguns paralisados desde 1998. Também foi solicitado que os julgamentos aconteçam nas próprias comarcas de origem e não sejam desaforados para outros municípios. José Fernandes de Lemos escutou o grupo e disse que trabalharia para acelerar os processos. Mas como eles não levaram uma lista das ações e o andamento atual, o presidente do TJPE marcou uma nova reunião para a próxima semana. O desembargador sugeriu ainda que o grupo procurasse o Ministério Público de Pernambuco, já que para agilizar o andamento dos processos também é preciso uma atenção especial do MPPE.
No meso dia, representantes dos Benvindos e Araquan se reuniram com o Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público, Paulo Varejão. Ele recebeu o grupo, que estava acompanhado do deputado estadual Pedro Eurico (PSDB) e dos vice-prefeitos de Belém do são Francisco e Floresta. Varejão afirmou que tentará agilizar os pareceres do MPPE que estiverem pendentes.
Paz foi selada após 150 mortes
Terminar a briga na Justiça, mesmo com condenação por muitos anos e novas prisões é o que as famílias querem. Assim, todos poderão colocar uma pedra no assunto. Deixar no passado uma série de vinganças para honrar um sobrenome que resultou em cerca de 150 mortes. O que não se sabe ao certo é como tudo começou. A guerra entre Benvindos e Araquan parece enredo de filme, como a clássica rixa shakespeariana entre os clãs Capuleto e Montecchio. Famílias que se tornaram rivais por motivos passionais ou por luta pelo poder.
No caso dos Araquan, a discórdia não era só contra os Benvindo. Envolvia também rixa contra os Russo, os Cláudio e os Nogueira. Houve época em que os Araquans não podiam circular em Cabrobó ou Belém de São Francisco, enquanto as demais famílias eram impedidas de passar por Mirandiba e até Abaré, na Bahia. O choque entre os grupos começou com uma discussão em um bar cujo motivo até hoje não ficou claro. Há quem diga que a briga começou por causa de venda de maconha. As famílias afirmam que foi uma "questão de honra", como costumam falar na região do Sertão do São Francisco, entre Cabrobó e Belém.
Na época em que os problemas de honra era resolvido com sangue, várias pessoas das duas cidades abandonaram ou venderam suas terras e se mudaram para municípios e estados vizinhos. Selada a paz nas ruas, ainda há contas em aberto. Oito membros dos Araquan estão foragidos e 10 dos Benvindos. Há ainda cerca de 30 processos para serem apreciados em Belém e Cabrobó. Em vários processos há mais de cinco réus. Ao longo dos anos, muitos foram extintos por conta de morte dos acusados. Outros prescreveram.