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Polícia vai abrir inquérito para investigar acidente que matou jovens de Itabirito



Terminou na curva do caieiera, no quilômetro 88 da BR-356, em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto, a trágica busca dos três jovens de Itabirito que estavam desaparecidos desde a madrugada de sábado. Os corpos de Rayanne Antunes Rosa, Dayane de Resende, ambas de 17 anos, e Euclimar Gonçalves Antunes, de 22, foram encontrados numa ribanceira, na manhã desta terça-feira, por policiais rodoviários que integravam um mutirão formado por bombeiros, policiais militares e civis, amigos, parentes e moradores da cidade que desde a manhã de sábado se empenhavam em procurá-los. O último contato foi às 3h15 entre Dayane e a mãe, enquanto, segundo a garota, trocavam o pneu do carro às margens da rodovia, próximo a Itabirito. A partir daí, as chamadas caíram na caixa postal.

As marcas de pneus na pista indicam que o motorista poderia estar em alta velocidade e, ao se deparar com a curva fechada, tentou frear. De acordo com a perícia, foram 31 metros de frenagem. O carro voou por quase vinte metros, arrancando os galhos mais altos das árvores e caiu de rodas para cima, na metade de um barranco de mais de dez metros. Ele ficou preso entre árvores. O impacto foi tão forte que Euclimar e uma das garotas foram arremessados para fora do veículo. A outra, no banco do carona, ficou presa entre as ferragens. Segundo a perícia, os três morreram ainda naquela madrugada. A mata cerrada dificultou as buscas e o resgate dos corpos.

O Gol prata placa GVO-6019, de Itabirito, ficou totalmente destruído. A hipótese de crime não foi descartada, mas a perícia, nos primeiros levantamentos, não constatou quaisquer sinais de violência, ou marcas de bala. Apenas os ferimentos decorrentes do acidente. O perito Luiz Otávio disse que, com a força do impacto, a porta do carro foi arrancada. Não foram encontradas no veículo latas ou garrafas de bebidas alcóolicas. Os corpos foram encaminhados para o Instituto Médico Legal - IML de Conselheiro Lafaiete, onde os exames dirão se houve ingestão de bebida alcóolica.

O delegado regional de Ouro Preto, Flávio Tadeu Destro, disse que um inquérito será aberto para apurar as circunstâncias do acidente: "até então, havia um inquérito sobre desaparecimento na delegacia de Itabirito. Como o acidente aconteceu em território de Ouro Preto, a delegacia de lá deverá conduzir as investigações". Ele não descartou qualquer hipótese, inclusive de crime, apesar de admitir que os primeiros indícios indicam tratar-se de acidente.

De acordo com a prima de Dayane, Rafaeli Cristina do Amaral, de 29 anos, a garota falou com a mãe por três vezes naquela madrugada: À meia-noite, 1h e pela última vez às 3h15. Primeiro, disse que estavam numa festa junina, depois no bar Quatro Estações, na cidade de Itabirito e na última vez, que trocavam os pneus, próximo à cidade. Segundo os peritos, o pneu dianteiro do lado esquerdo (lado do motorista) era o estepe ARO-13 e os demais ARO-15. Eles levantaram a hipótese de que essa troca possa ter influenciado no acidente, por provocar uma pequena diferença no equilíbrio do veículo. Os quatro estavam em mau estado de conservação.

O pai de Rayanne, o motorista Geraldo Evangelista Rosa, de 47 anos, precisou ser medicado numa ambulância do corpo de bombeiros por alteração da pressão sanguínea. Já o pai de Dayane, Juventino Brás Resende, não resistiu ao ver o corpo da filha e entrou em choque. Aos prantos, foi socorrido também por bombeiros.

Mobilização em Itabirito

A cidade de Itabirito viveu momentos de ansiedade nesse final de semana. Segundo a prima de Dayane, Rafaeli Amaral, houve grande mobilização de todos os setores na busca dos três jovens: "Eles eram muito queridos e até mesmo as empresas liberaram alguns de seus empregados para ajudarem nas buscas. Quando a notícia do desaparecimento correu, recebemos em menos de 30 minutos mais de 500 e-mails oferecendo ajuda."

Os três eram parentes. Dayane e Rayanne estudavam o ensino médio na mesma escola. Euclimar era estudante de arquitetura no Centro Universitário da UNA, em Belo Horizonte. Os três residiam em Itabirito. Rafaeli contou que sua prima era muito tímida e não tinha o hábito de sair de casa: "Sempre que saía, sua mãe marcava horário e nunca passava das 23 horas. Ela sempre foi obediente e muito meiga". Segundo a prima da Dayane, alguns amigos os viram durante um show do Raimundos, no Centro de Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto - Ufop.

Palco de tragédias

O local do acidente já foi palco de muitos outros, segundo os bombeiros. Darcy Silva, morador de Ouro Preto e que tem um sítio nas imediações, há quinze anos, disse que já perdeu a conta do número de acidentes que assistiu naquele local. "Há dois anos, três jovens estudantes de Itabirito morreram aqui mesmo." A curva é muito fechada e os motoristas teimam em desobedecer as advertências. A poucos metros do local há placas indicando a proximidade da curva e outras determinando velocidade máxima de 40 quilômetros.