"Mãe, já estou voltando. Depois te explico". Esse é o último contato que se tem de três jovens que desapareceram na madrugada da última sexta-feira (18/6), em Itabirito, município que fica entre Ouro Preto e Belo Horizonte (MG). Daiane de Resende, de 17 anos, foi quem conversou, por celular, às 3h com a sua família, avisando que chegaria em casa mais tarde e depois explicaria o motivo. No entanto, a ligação foi cortada e, desde então, não há mais notícias da menina e nem mesmo dos dois outros que estavam com ela, Rayanne Antunes, de 17, e o estudante de arquitetura do Centro Universitário UNA, Euclimar Gonçalves, de 22.
O mistério levou a polícia de Ouro Preto a realizar uma operação na região. Desde sábado, cerca de 20 militares mantêm uma rotina de buscas nas rodovias, matas, rios e nos distritos próximos. Até uma aeronave auxilia o trabalho da polícia, que nas investigações descobriu que os procurados passaram em Santo Antônio do Leite, distrito de Ouro Preto, e também na cidade histórica.
Daiane e Rayane são colegas de escola e cursam o ensino médio. Euclimar Gonçalves, mais conhecido como Mumu, é primo de Rayanne e cursa arquitetura em Belo Horizonte, mas mora em Itabirito. Na noite de sexta-feira, foi ele quem buscou, no Gol placa GVO 6010 , as duas meninas para irem a uma festa junina na cidade.
"Todos os dias, meu filho pega a van universitária às 17h30 e, naquele dia, não foi diferente. Ele me avisou que depois da faculdade, iria a uma festa daqui", conta, preocupada, a dona de casa Marlene Gonçalves de Castro Antunes, mãe de Euclimar.
Mas, quando era meia noite, Daiane enviou uma mensagem a irmã Fernanda pedindo que avisasse aos pais que estava em um restaurante da cidade junto com os dois amigos. "Como ela demorou demais, ligamos de volta e ela confirmou que estava nesse local. Mas chegou às 3h e ela não tinha voltado. Ligamos mais uma vez e ela nos disse que todos estavam na BR 356, na entrada de Itabirito, trocando o pneu do carro de Mumu e que logo estaria de volta, e que assim que chegasse explicaria o ocorrido", conta Fernanda.
Desconfiada, a mãe da menina pediu para falar com a amiga de sua filha, mas a ligação caiu. "Depois disso, não conseguimos mais falar com ela", afirma Fernanda, que depois descobriu que o tal restaurante, onde Daiane disse que estaria, estava fechado. "Ela não esteve lá", comenta.
De acordo com o capitão Anderson Coelho, da 8; Companhia Independente de Ouro Preto, há mais de seis anos não há casos de desaparecidos na cidade. "Já descartamos a hipótese de sequestro, pois não há indícios disso. Estamos trabalhando com a suspeita de que o carro de Euclimar tenha caído no abismo, qualquer outro tipo de acidente ou até mesmo que eles tenha viajado para outro lugar, já que não encontramos até agora o veículo e soubemos que eles tinham dinheiro", diz, contando que o jovem foi visto, pela última vez, em Santo Antônio do Leite, mas sem as garotas.
"Segundo testemunhas ele parou em um bar para comprar cerveja". Mas, de acordo com a mãe de Mumu, ela soube que o filho bebeu nesse bar e usou o celular de uma mulher que estava no estabelecimento. "Fomos atrás dela e elas nos mostrou o número que ele discou, mas ninguém atende."
A polícia aguarda a operadora de celular para rastrear os passos dos jovens. "Temos equipes indo para Lavras Novas, também distrito de Ouro Preto." Segundo Fernanda, irmã de Daiane, muitas pessoas disseram que as duas meninas foram vistas na cidade histórica. "Minha irmã não ia fugir de casa. Ela não era assim. Estamos todos muitos preocupados." A mãe de Mumu, Marlene tenta não pensar no pior. "Tenho fé que eles estão vivos. Mas toda essa situação é estranha, pois meu filho nunca fez esse tipo de coisa. É um rapaz responsável , que não falta ao trabalho e nem mesmo à faculdade. Não acredito que possa ter havido um acidente, ele dirigia muito bem."
Na família de Rayanne, a mãe Celma e o pai , o motorista Geraldo, desde sábado não comem e nem dormem à espera de notícias da filha. " Ela também chegou a ligar para a mãe para avisar que iria atrasar. Mas depois, o celular ficou desligado. Estamos muito preocupados e esperamos que nada de ruim tenha ocorrido com eles."
Estatísticas
De acordo com dados da Polícia Civil de Belo Horizonte, por meio do Departamento de Investigação de Homicídios e de Proteção à Pessoa, da Divisão de Referência à Pessoa Desaparecida, somente em 2009, foram 1605 pessoas que sumiram em Minas Gerais. Este ano, já são 898. No ano passado, dos 533 adolescentes desaparecidos, 543 foram encontrados