Jornal Correio Braziliense

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Lavrador é acusado de manter filha em cárcere privado e de abusar de filha/neta

Lavrador é acusado de abusar de filha mais velha, de Sandra e de duas filhas/netas

PINHEIRO ; Antes de viver com Sandra Monteiro, de 28 anos, o lavrador José Agostinho Bispo Pereira, 54 anos, violentou a filha mais velha. Do incesto nasceu um filho, hoje adolescente. As informações são do Conselho Tutelar de Pinheiro (a 101 km de São Luís via marítima), e aguardam confirmação da Polícia Civil do município.

Na tarde de ontem, Maria Monteiro foi levada por policias para prestar depoimento. Mais informações sobre o caso não foram obtidas até o fechamento da matéria. Em entrevista exclusiva à reportagem, José Agostinho admitiu o crime. Disse saber que poderia ser preso por engravidar Sandra, mas negou ter abusado das meninas que teve com ela. Insinuou, ainda, que não obrigou a filha a ter relações sexuais com ele.

O lavrador foi preso na última terça-feira (8) acusado de manter Sandra e os sete filhos que teve com ela sob cárcere privado no povoado Experimento, zona rural de Pinheiro.

Segundo informações do Conselho Tutelar, a filha mais velha de Agostinho e Arlete Monteiro, ex-mulher do lavrador, fugiu de casa aos 18 anos. Maria Monteiro é casada e têm hoje cinco filhos, segundo a polícia, e vive no povoado Refúgio, às margens do rio Pericumã, também em Pinheiro.

Apesar das suspeitas, Agostinho negou à reportagem que tenha abusado da filha mais velha. Assumiu apenas que mantinha relações sexuais com Sandra. Durante a conversa, insinuou que a relação nunca foi forçada. ;Eu só queria ser entrevistado com ela do lado, pra [sic] ver o que ela ia dizer;, disse. O lavrador negou que mantivesse a família em cárcere privado. Segundo ele, Sandra tinha direito de ir e vir. ;Ela passava era semana em Pinheiro (no centro do município) na casa de um tio dela;, afirmou.

Cárcere
Para a polícia, Sandra disse que saia de casa apenas com a autorização do pai. Relatos de testemunhas revelam que a vigília sobre a jovem e os filhos era autoritária. Ninguém podia conversar muito tempo com Sandra. O contato dela com estranhos se resumia as idas ao centro de Pinheiro para buscar o benefício do bolsa-família, e às visitas mensais de uma agente de saúde a casa de taipa.

De acordo com depoimento colhido pela delegada Especializada da Mulher, Adriana Meirelles, a agente de saúde foi repreendida e enxotada do casebre por Agostinho muitas vezes. ;Ela disse que apesar de insistir, Sandra nunca ia ao hospital para fazer os exames que passava;, informou Adriana. Segundo Agostinho, dois dos filhos homens e as duas meninas que teve com Sandra frequentavam a escola regularmente. De acordo com a direção do colégio, as crianças foram matriculadas, mas abandonaram os estudos depois de muitas faltas à sala de aula.

Frieza
Desde que foi preso, Agostinho vinha afirmando desconhecer que a relação com a filha era criminosa. Mas à reportagem, afirmou que sabia da gravidade de seus atos desde o começo. ;Nesse mundo que nós estamos vivendo, o cabôco [sic] tem que saber antes de fazer;, disse ele. Durante a conversa, mostrou ser destemido. ;Se quiseram me prender não tem outro jeito. Se quiserem fazer outra coisa comigo, podem fazer também;, afirmou. Apesar de aparentemente disposto a aceitar qualquer pena, Agostinho nega os abusos cometidos contra as filhas que teve com Sandra.

Segundo os conselheiros tutelares, a menina de 7 anos afirmou que vinha sendo aliciada pelo pai. A menor, de 5 anos, apenas chora quando ouve o nome do pai/avô. Um exame comprovou que o hímen da garotinha está parcialmente rompido, comprovando o estupro. Agostinho também não revela quando começou a abusar sexualmente de Sandra. Para a polícia, a vítima disse que foi aos 12 anos. Mas segundo o Conselho Tutelar, a as primeiras tentativas do pai contra a jovem começaram quando ela tinha apenas 7 anos de idade.

Separação
;Foi assim: um dia eu cheguei de noite e a casa tava [sic] toda aberta. Perguntei pros [sic] meninos onde tava [sic] a mãe deles, e fiquei sabendo que ela tinha arrumado as coisas e ido embora com o padrinho dela;. Assim Agostinho descreveu a separação com a ex-mulher Arlete Monteiro, fato que teria ocorrido há 20 anos. Com Arlete, o lavrador teve além de Maria e Sandra, dois filhos homens, moradores de Pinheiro.

Testemunhas alegam que a relação já havia acabado antes mesmo de Arlete ir para São Luís. Segundo os conselheiros tutelares, o fator decisivo para mulher ter fugido para a capital maranhense, foi à descoberta de que o marido abusava da filha mais velha. Depois de completar a maioridade, Maria Monteiro saiu de casa. Deixou Sandra a própria sorte. Tanto a Polícia Civil quanto o Conselho Tutelar acreditam que a jovem tenha algum tipo de debilidade mental. Ou, talvez, a apatia de Sandra seja resultado de anos de violência física e psicológica, somada a miséria e ao analfabetismo.

Prisão e julgamento

Preso na Delegacia Regional de Pinheiro, José Agostinho aguarda o julgamento pelos crimes de abandono intelectual e material, estupro de incapaz e cárcere privado. Segundo a Delegacia da Mulher, o acusado pode ser punido com a pena máxima da justiça brasileira: 30 anos em regime fechado. A prisão em flagrante ocorreu no fim da tarde da última terça-feira, mas só foi divulgada na quarta.

Após a prisão, Sandra e os filhos foram acomodados no Conselho Tutelar. O filho mais velho, de 12 anos, fugiu durante a captura do pai. O garoto apareceu na Delegacia Regional do município na manhã de ontem. Em depoimento, o garoto afirmou que teve medo dos polícias porque eles estavam armados. Já o filho mais novo de Sandra, de apenas dois meses de vida, está sob os cuidados de um casal que vive no centro urbano de Pinheiro. A mãe deu o bebê assim que ele completou dois meses de vida. Com o pai, Sandra ainda teve meninos de 8,7, 4 e 2 anos de idade.

O caso de José Agostinho chama mais atenção por ser semelhante ao do austríaco Josef Fritzl, um escândalo mundial que veio a tona em 2008. No caso da Áustria, o homem manteve a filha trancafiada no porão por 24 anos e com ela teve também sete filhos - três permaneceram no cativeiro e um morreu ainda bebê. Ele confessou os crimes e foi julgado a prisão perpétua. À reportagem, Agostinho disse ter fé. ;Agora só penso em Deus e na Virgem Maria. Deus é quem sabe;, falou o lavrador.