Jornal Correio Braziliense

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Mulher é libertada em ilha do Maranhão após ser aprisionada e estuprada durante 17 anos

Eles teriam sete filhos

O povoado de Experimento, pertencente ao município de Pinheiro (MA), nunca mais será o mesmo. A ilhota a 340km da capital, São Luís, viu seu nome escrito nos noticiários ontem, quando foi divulgada a história do lavrador José Agostinho Bispo Pereira, de 54 anos, preso na terça-feira acusado de manter a filha Sandra Maria Monteiro, 29 anos, em cárcere privado há 17 anos. Além disso, ele seria o pai dos sete filhos que a vítima tem.

Segundo informações da Polícia Civil maranhense, muitos dos moradores da região sabiam da história de Sandra, mas preferiam não se ;intrometer; na vida do lavrador, que passou a abusar da filha desde que a mãe dela foi embora de casa. ;A comunidade sabia, ficava indignada, mas ninguém queria se meter;, conta a delegada regional de Pinheiro, Laura Amélia Barbosa.

No entanto, após sucessivas campanhas contra a pedofilia e a violência sexual na região, a vizinhança começou a mudar de opinião. Em uma passeata organizada pelo Ministério Público, pelo Conselho Tutelar e pela Polícia Civil locais, no último dia 21, José Agostinho Pereira foi denunciado. Após investigações, o acusado foi preso em casa. Ele foi autuado em flagrante pelo estupro de uma das filhas-netas, de 7 anos, por abandono material ; porque a família vivia sem alimentação ;, abandono intelectual ; já que as crianças eram proibidas de ir à escola ;, maus-tratos e cárcere privado.

Penúria
Dos sete filhos nascidos da relação incestuosa, seis estavam na casa quando os policiais chegaram. A última filha-neta, um bebê de 2 meses, foi doada a uma família. Os quatro meninos e duas meninas, que têm entre 2 e 12 anos de idade, eram proibidos de sair de casa pelo pai-avô.

Segundo a delegada Laura Barbosa, na casa faltavam comida e roupas. A vida deles, de acordo com os policiais, era de penúria. ;Encontramos uma situação bem delicada nesse caso. Foi difícil convencer essas crianças e a moça a entrarem no carro(1), por exemplo. Eles nunca tinham saído do povoado. Quase não falam, são muito traumatizadas;, comentou Laura.

Sandra disse aos policiais que não foi a única a ser abusada pelo pai. Uma irmã dela, que a polícia tenta localizar, também teria tido um filho com Pereira. Ela fugiu do povoado e foi morar num lugar chamado Refúgio, também na região de Pinheiro. ;A Sandra diz que ela fugiu e lhe disse: ;Não vou ficar parindo dele para o resto da vida;;, relata a delegada. Os filhos homens do lavrador nunca reagiram à situação e, aos poucos, deixaram a ilha.

O inquérito da Polícia Civil deverá ficar pronto em 10 dias e será encaminhado para a Promotoria do município de Pinheiro. Chocante, a história de Pereira e Sandra chama a atenção pelas semelhanças com o caso do engenheiro austríaco que também manteve a filha em cárcere privado por 24 anos e teve com ela sete filhos (leia memória).

1 - Desnutridos e sujos

De acordo com a delegada regional de Pinheiro, Laura Amélia Barbosa, mãe e filhos foram levados a um hospital para fazer exames, já que estavam desnutridos e sujos. A menina de 7 anos supostamente abusada pelo pai-avô foi encaminhada para fazer exames de conjunção carnal. Os resultados dos laudos periciais serão anexados ao inquérito contra o lavrador. O destino da família ainda é incerto. Mãe e filhos serão encaminhados para a assistência social e psicológica.

Memória
24 anos no porão
Caso muito semelhante ao do Maranhão surpreendeu o mundo em 2008. Em 27 de abril, autoridades da Áustria prenderam o engenheiro eletricista Josef Fritzl, à época com 73 anos, sob acusação de aprisionar, por 24 anos, a filha Elisabeth Fritzl, que tinha 42, no porão de casa e de manter relações sexuais com ela. Ele admitiu ser o pai dos sete filhos que a vítima teve em cativeiro. O caso aconteceu na cidade de Amstetten.

Elisabeth teria desaparecido de casa em 1984, aos 18 anos. O paradeiro dela só foi descoberto depois que uma das filhas precisou ser levada para o hospital. Preso, Fritzl foi julgado, em março do ano passado, e condenado à prisão perpétua ; pena máxima na Áustria.

Dos sete filhos que teve com Elisabeth, um morreu. Três foram criados no cativeiro com a mãe e os outros teriam sido levados pelo próprio acusado para o andar de cima do cativeiro, onde Fritzl vivia com a esposa e mãe de Elisabeth.