Os 30 minutos previstos para a conversa entre Maria Elza Barbosa e Adão Oliveira duraram quase 50. Também pudera. Fazia 20 anos que os dois não se viam. Ela nunca perdeu a esperança de reencontrar o irmão, do qual a última lembrança era a de um garoto de 9 anos. Depois que o menino foi morar em Tocantins com uma mãe adotiva, Elza, que vive em Goiânia, ainda conseguiu manter contato por um tempo, até Adão desaparecer. Da parte dele, a falta de comunicação se deu, em parte, por não saber mais o endereço da família biológica. Ele contou à irmã que tem várias cartas escritas para ela desde que foi preso. Atualmente interno da penitenciária federal em Campo Grande (MS), Adão foi o primeiro detento do país a utilizar o sistema de visita virtual, lançado ontem pelo governo federal como projeto piloto.
Separados por quase 900 km de distância, os dois conseguiram se sentir mais próximos por meio de dois monitores de 15 polegadas ; um na Defensoria Pública da União em Goiânia e o outro na penitenciária federal em Campo Grande ; que reproduzem imagem e som. ;Foi muito emocionante, estou muito feliz e satisfeita por ter visto que ele está bem, com uma aparência boa, estudando;, emocionou-se Elza após a visita virtual. Nem pequenas falhas no áudio frustraram a mulher que atribui a Deus o fato de ter descoberto o paradeiro do irmão. ;Estava no meio de uma campanha na igreja, em prol da família, quando recebi o telefonema da assistente social do presídio. Cheguei a pensar se ele não estaria morto;, afirma. ;Apesar de ele estar no lugar onde está, agora sabe que existe uma família aqui fora o esperando.;
O alívio de Elza poderá ser experimentado por parentes dos cerca de 500 detentos dos presídios federais em funcionamento no país ; localizados em Catanduvas (PR), Porto Velho (RO) e Mossoró (RN), além de Campo Grande. ;Nos próximos três meses, vamos implantar o sistema de forma experimental, para depois estendermos. É importante incentivar essa aproximação, já que muitos presos das unidades federais têm parentes morando longe. Os familiares, por sua vez, não podem vir ao presídio devido a dificuldades financeiras;, destaca Rafaela Moura, assistente social do estabelecimento na capital do Mato Grosso do Sul.
Segundo ela, 50% dos detentos da unidade já manifestaram o desejo de receber as visitas virtuais ; previstas para durar 30 minutos. A sede da Defensoria Pública da União em cada estado terá um monitor para atender os parentes e amigos de pessoas presas em estabelecimentos federais. O projeto, implementado pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen), ligado ao Ministério da Justiça, custou R$ 1 milhão. Na avaliação de Elza, é uma ideia e tanto. ;Achei muito bom poder olhar para o rosto dele, ouvir a voz dele. Só assim acreditamos que ele está bem;, destaca. A área de assistência social do presídio se restringiu a dizer que, entre outros crimes, Adão foi condenado por roubo. ;Só sei que esse foi o último delito, cometido quando ele cumpria regime semiaberto por uma condenação anterior;, diz Rafaela.