Rastros da movimentação das contas-correntes das supostas funcionárias fantasmas do gabinete do senador Efraim Morais (DEM-PB) fornecem indícios que podem levar ao nome de quem embolsou o salário de 13 meses mais os benefícios oferecidos pelo Departamento de Recursos Humanos do Senado. De acordo com extrato bancário de Kelriany Nascimento da Silva, 32 anos, um saque de R$ 450 foi feito em 22 de abril, uma quinta-feira, às 15h50, em um caixa eletrônico do Aeroporto de Brasília. O registro de computadores dos quais foram realizadas transferências da conta também será analisado para apurar a localização da máquina usada no desvio de dinheiro.
O inquérito da Polícia Legislativa do Senado que investiga a contratação de funcionários fantasmas no gabinete de Efraim deve ser oficialmente instaurado hoje. A polícia analisa documentos e faz trabalho de campo, buscando comprovar a atividade dos servidores que supostamente realizam ;trabalhos externos;, como alega o gabinete do senador, para justificar a contratação de Kelriany e de Kelly, funcionárias que nunca apareceram na Casa para trabalhar.
Por meio de advogado, Mônica da Conceição Bicalho ; comissionada que, com a irmã Kátia da Conceição Bicalho, assumiu a responsabilidade pela contratação irregular das irmãs ; negocia com a polícia do Senado depoimento agendado para amanhã à tarde. Mônica e Kátia estariam fora de Brasília, mas o representante das supostas recrutadoras está preocupado com os desdobramentos do episódio caso as clientes assumam sozinhas a responsabilidade pela contratação de funcionárias fantasmas no Senado. Até mesmo o contínuo do gabinete de Efraim, Gilberto Rocha da Mota, teria complicado Mônica e Kátia em depoimento dado à Polícia Legislativa. As informações colhidas pelos agentes do Senado podem acarretar processo contra as supostas recrutadoras, com tipificação de crimes como estelionado, peculado e formação de quadrilha.
Dúvida
Apesar de o senador ter tentado demitir Kelly, Kelriany e a suposta assessora jurídica Mônica, o afastamento das fantasmas gerou dúvida administrativa na Diretoria de Recursos Humanos do Senado. Se Kelly e Kelriany fossem exoneradas no dia 18, como sugeriu Efraim, a responsabilização pelo episódio se restringiria a Mônica e as funcionárias fantasmas teriam todos os direitos de rescisão trabalhista preservados.
A Casa, no entanto, decidiu não afastar as irmãs enquanto a investigação da Polícia do Senado não for encerrada. Em caso de a apuração comprovar participação do gabinete de Efraim na fraude de contratação e na posse das funcionárias, Kelly e Kelriany serão destituídas do cargo, e não exoneradas.
Hoje, a executiva nacional do DEM vai se reunir para discutir a atuação dos diretórios regionais na campanha deste ano, mas o escândalo envolvendo o senador Efraim também deve entrar na pauta. ;Ele disse que foi uma coisa que um funcionário fez, mas estamos acompanhando as investigações;, afirmou o senador Demostenes Torres (DEM-GO). Ontem, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), disse que a Casa pode investigar Efraim Morais após a conclusão do inquérito da Polícia Legislativa.
Trâmites burocráticos à parte, a denúncia do esquema de funcionários fantasmas no gabinete de Efraim custou o emprego de Kelriany. Contratada pela mesma empresa em que Kátia trabalha como terceirizada no Senado, a estudante que teve o nome usado em esquema de contratação irregular foi demitida ontem.
Entenda o caso
Denúncia na delegacia
O escândalo dos servidores fantasmas no gabinete do senador Efraim Morais (DEM-PB) surgiu depois de denúncia das irmãs Kelly Janaína Nascimento da Silva, 28 anos, e Kelriany Nascimento da Silva, 32 anos, à polícia de Sobradinho. Kelriany descobriu que estava lotada no gabinete do senador do DEM quando tentou abrir conta bancária durante processo admissional em empresa que presta serviços para o Ministério da Educação.
A movimentação da conta-corrente na qual o salário das estudantes era depositado aconteceu graças à procuração assinada pelas irmãs para Kátia da Conceição Bicalho, irmã da suposta assessora jurídica do gabinete de Efraim, Mônica da Conceição Bicalho. Investigação inicial da polícia do Senado apurou que as posses de Kelly e de Kelriany ocorreram de forma fraudulenta. Contínuo do gabinete do senador, identificado como Gilberto Rocha da Mota, assina a procuração específica que permitiu a posse das funcionárias fantasmas.
Apesar de as irmãs afirmarem que nunca trabalharam no Senado, na última sexta-feira, a Casa depositou o salário de Kelly. O vencimento de Kelriany foi bloqueado e posteriormente liberado. As funcionárias ainda não foram exoneradas, segundo a assessoria. O desligamento só deve acontecer após as investigações. A diretoria do Senado abriu sindicância para apurar participação de outros servidores no esquema de contratação de funcionários fantasmas. (JJ)