Jornal Correio Braziliense

Brasil

Fraude da madeira desvendada pela Polícia Federal

Operação prende 70 pessoas, entre engenheiros florestais e integrantes do governo do Mato Grosso, envolvidas em manejos de fachada

Uma investigação de dois anos feita pela Polícia Federal colocou fim a um esquema de fraudes em manejos florestais e retirada ilegal de madeira em áreas indígenas e de preservação. Na Operação Jurupari(1), desencadeada ontem pela PF, 70 pessoas foram presas e outras 21 estavam sendo procuradas até o fechamento desta edição. Entre os detidos preventivamente, estão integrantes do governo de Mato Grosso e parentes de deputados, além de 45 engenheiros florestais. Os primeiros levantamentos feitos pelos investigadores indicam que o grupo deu um prejuízo de quase R$ 1 bilhão aos cofres públicos.

A ação da PF decorreu depois da análise de documentos apreendidos durante as Operações Caiabi, realizada em 2006, e Mapinguari, no ano seguinte. Os investigadores também usaram imagens de satélites e perícias em laudos para provar que madeireiros, empresários, servidores públicos e engenheiros florestais estavam mascarando projetos de manejo. A Polícia Federal apurou apenas alguns casos, mas o trabalho ganhou uma dimensão maior. A partir daí, foram feitas quebras de sigilo telefônico, fiscal e bancário, que mostraram um esquema de fraudes aliado à corrupção.

Segundo investigadores, os empresários e madeireiros faziam de seus projetos de manejo fachada para a retirada de madeira das áreas indígenas do Xingu, Kaiabi ; a mais desmatada ; e no complexo Cinta-Larga, que abrange as terras de Serra Morena, Roosevelt e Apurinã. Todos os documentos apresentados para a realização dos manejos eram respaldados por engenheiros florestais, que, por sua vez, mantinham vínculo com servidores públicos responsáveis pela aprovação. Muitos processos, que levariam até um ano para serem concluídos, eram fechados em até 60 dias.

Carro
Depois de explorarem a área de manejo permitida, os empresários passavam a retirar madeira de áreas públicas como se fossem de suas próprias terras. A legalização do produto também era feita em conluio com servidores públicos corruptos. Segundo investigadores, em apenas um caso de agilização de processos, um funcionário da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) recebeu um carro no valor de R$ 200 mil. O secretário-adjunto de Desenvolvimento Rural, Afrânio Mingliari, e o ex-secretário de Meio Ambiente Luiz Henrique Daldegan estão entre as 91 pessoas que tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça de Mato Grosso.

Segundo a Polícia Federal, os prejuízos aos cofres públicos chegaram a R$ 900 milhões em uma análise preliminar, mas podem ultrapassar R$ 1 bilhão na contabilização final. Além dos servidores presos, a PF deteve, a pedido do Ministério Público Federal, Janaína Rivas e Carlos Antônio Azóya, mulher e genro do presidente da Assembleia Legislativa do estado, José Riva (PP), e Sílvio Cézar Corrêa, chefe de gabinete do governador Silval Barbosa (PMDB). Todos eles, segundo fontes da Polícia Federal, estavam entre os que contribuíram com os fraudadores ou tinham propriedades irregulares.

1 - Sem perdão

Lendas de origem tupi dizem que Jurupari é uma entidade criada pelo sol para reformar a terra e fazer cumprir as leis. A crença diz que a ela não se pede perdão. Segundo a PF, o nome foi justamente uma homenagem ao cumprimento das leis.