Jornal Correio Braziliense

Brasil

PF prende 11 pessoas em três estados e identifica comando da quadrilha de tráfico de drogas

Resultado só foi possível depois de uma série de apreensões que começaram há mais de um ano

Uma operação da Polícia Federal, desencadeada em três estados, desbaratou um dos maiores esquemas de narcotráfico na fronteira do Brasil com o Paraguai, responsável pelo ingresso de todo tipo de droga no país. A ação da PF prendeu 11 pessoas, entre líderes da quadrilha, olheiros, transportadores e intermediários que negociavam com cocaína, haxixe, maconha e produtos químicos. A investigação durou pelo menos um ano, quando as autoridades brasileiras descobriram que diversos grupos que agiam na região estavam ligados entre si. As prisões aconteceram no Paraná, em Mato Grosso do Sul e em São Paulo, onde a quadrilha era radicalizada.

As investigações começaram a partir de várias apreensões de drogas feitas nos últimos meses. A Polícia Federal conseguiu chegar à quadrilha depois da apreensão de 37 quilos de cocaína, sete toneladas de maconha, 32 quilos de haxixe, produtos químicos e maquinários para o refino de cocaína. Além disso, a PF descobriu que as 25 pessoas presas durante as várias ações tinham ligação entre si e com os 11 detidos ontem, durante a Operação Conexão, mas cada uma delas tinha uma tarefa diferente ou negociava algum tipo de droga.

O primeiro braço do grupo era dos fornecedores, que trabalhavam a partir das cidades de Capitão Bado, no Paraguai, e Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul. A região, que fica no departamento (estado) de Pedro Juan Caballero, é a mesma onde o governo do país vizinho decretou estado de exceção há mais de 15 dias. Além disso, no mesmo local, o traficante brasileiro Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, tinha propriedades e levava maconha e cocaína para o Rio de Janeiro, sua base de tráfico.

Em Pedro Juan Caballero e em Ponta Porã, os traficantes também recrutavam um pequeno exército para fazer a droga chegar até São Paulo. Eles contratavam em território brasileiro e paraguaio os motoristas, batedores ; que seguem na frente dos veículos com pó ou maconha para verificar se há fiscalização policial ; e os atravessadores. Todos eles eram selecionados por intermediários, também ligados à região.

O segundo grupo ficava radicado em São Paulo, de onde fazia a distribuição de droga para o interior do estado e para a capital. A quadrilha tinha um esquema para armazenar grandes estoques que chegavam do Paraguai, além de uma logística para a distribuição e transporte. E ajudava no financiamento das compras, usando como moeda carros roubados no Brasil, dinheiro obtido em assaltos a bancos, entre outros. A Polícia Federal calcula que as prisões ocorridas ontem podem mexer com a estrutura do narcotráfico tanto na região de fronteira quanto nos centros distribuidores.

Nos últimos dois meses, a Polícia Federal vem realizando a Operação Sentinela, uma ação permanente na fronteira de diversos estados, principalmente onde há a presença do crime organizado. Na semana passada, depois de 11 meses investigações e buscas em barcos no Rio Solimões, conseguiu prender um traficante ligado às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Análise da notícia
Problema anunciado


As constantes prisões e apreensões de droga vêm mostrando o que delegados experientes da Polícia Federal previam há pelo menos três anos. Por volta de 2007, eles discutiram os efeitos da liberação de plantios de coca na Bolívia e disseram que isso faria crescer a entrada da cocaína no Brasil. Hoje, o pó não entra apenas pelos estados das fronteiras boliviana e paraguaia, mas também já utiliza outras regiões ; no fim do ano passado, as autoridades brasileiras localizaram um avião com cocaína em Luziânia.

O que ainda não se sabe é a extensão do estrago. Em Rondônia, por exemplo, fardos com cocaína são lançados de aviões em fazendas. Além disso, a droga é vendida a preços irrisórios na fronteira e nas cidades do interior, onde o pó se transforma muito rapidamente em crack. (EL)