Será sepultado às 14h de hoje, no Cemitério de Santo Amaro, o corpo do jovem Neyvson Duarte da Silva, 20 anos. O cadáver foi liberado esta manhã pelo Instituto de Medicina Legal (IML). Ele foi assassinado, ontem pela manhã, no bairro do Passarinho. O caso está sendo investigado pela delegada Joseneide Confessor.
No último mês de abril, a mãe do rapaz, a faxineira Tânia Maria da Silva, 46, comoveu o governador Eduardo Campos ao afirmar que acorrentava o filho para que ele não usasse crack. O crime ocorrido na manhã de ontem, na periferia do Recife, destruiu os sonhos dos pais de verem o filho longe da droga. Foi também uma derrota para o estado, que tentou ajudar Neyvson, sem sucesso. Ele abandonou o tratamento.
Neyvson foi assassinado com pelo menos 15 tiros, por volta das 5h, dentro da casa de uma ex-companheira, numa escadaria do Córrego do Carroceiro, no bairro do Passarinho. Segundo a polícia, ele entrou no imóvel para tentar se esconder, mas foi alcançado. Um dos tiros atingiu de raspão o ombro da filha da ex-mulher, de 12 anos. A adolescente foi socorrida e levada para o Hospital da Restauração, onde permance internada na enfermaria pediátrica. A garota não corre risco de morte.
O sofrimento de Tânia Maria, mãe de Neyvson, teve grande repercussão, em 15 de abril deste ano, quando ela afirmou que acorrentava o filho para que ele não usasse crack. No mesmo dia, o governador Eduardo Campos telefonou para a faxineira e prometeu ajudar. Neyvson foi levado para uma clínica de tratamento de dependentes químicos, mas, há cerca de 15 dias, resolveu voltar para casa.
A equipe de plantão da Força-Tarefa da Capital, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), realizou as primeiras diligências em busca dos assassinos de Neyvson, mas ninguém foi capturado. Segundo o delegado Alfredo Jorge, a polícia já tem nomes dos suspeitos. "Populares informaram que a vítima vinha praticando furtos na comunidade para comprar a droga. Ele vendeu tudo o que tinha dentro de casa para continuar usando o crack. Antes de ser morto, ele estava sendo perseguido por dois homens e ainda tentou se enconder na casa da ex-companheira", disse o delegado.
A perícia do Instituto de Criminalística (IC) constatou que havia pelo menos 31 perfurações (entrada e saída) provocadas por bala no corpo do jovem. No entanto, a polícia ainda não sabe que tipo de arma foi usada na execução. O corpo foi levado para o Instituto de Medicina Legal (IML), onde a mãe da vítima esteve ontem à tarde. "Nem dinheiro para fazer o enterro eu tenho", lamentou Tânia.
O pai da vítima, José Durval da Silva Filho, 49, contou que, após o filho voltar para casa com poucos dias de tratamento, eles ainda tiveram várias conversas sobre o assunto. "Ele estava sendo cuidado pelo Saravida, em Vitória de Santo Antão. Depois transferimos ele para Igarassu, mas ele não estava cumprindo as regras. Demos vários conselhos. Ainda chegamos a acorrentá-lo mais duas vezes, mas ele continuou usando a droga. Domingo passado, ele roubou R$ 100 meu e uma bermuda do irmão", contou o pai. "Na última terça-feira, ele iria voltar para o internamento, mas desistiu. O crack foi mais forte e o vício o superou", lamentou.
José Durval disse ainda que o jovem era viciado há cerca de três anos e que, nos últimos seis meses, ele começou a furtar objetos de casa para trocá-los pela droga. Daí, a ideia dos pais de comprar uma corrente e acorrentá-lo à cama. No último dia 14, sob a alegação de ter cometido crime de cárcere privado, mãe e filho foram levados por policiais militares para a Delegacia da Macaxeira, onde foi registrada uma ocorrência e ambos foram liberados.
Entrevista - Tânia Maria da Silva
;Peço que as mães lutem pelos filhos;
O que ele fazia quando a senhora o acorrentava?
Ele dizia nada, pedia para soltar. Eu dizia que não ia soltar, aí ele falava que ia desaparecer. Eu mandava ele sumir de casa, ir embora.
Mas, era realmente isso que a senhora queria?
Não. Queria ele longe de mim, não. Só Deus sabe como eu estou aqui.
Ele já chegou a usar o crack dentro de casa?
Uma vez chegou, mas aí o pai viu e tomou dele. Nunca mais ele fez. Ele respeitava a gente e nunca chegou a agredir, só roubava o que tinha em casa.
A senhora conversou com o governador no mês passado?
Foi. Ele disse que ia me ajudar. O que pudesse fazer, ele ia fazer. Mas, o meu filho veio embora e não fez o tratamento.
Quando foi a última vez que a senhora viu o seu filho?
No domingo passado. Ele estava usando o crack. Fui lá, dopei ele e, quando dormiu, eu o amarrei. Depois, quando ele acordou, começou a reclamar. Fui e soltei. Ainda disse: ;Sua vida está entregue na mão de Deus;. Depois disso, nunca mais o vi.
Que recado a senhora deixa para as mães que passam pelo mesmo problema?
O recado é que elas não deixem de lutar para não acontecer o que aconteceu com o meu filho. Peço que elas tenham paciência com eles, não virem as costas, assim como eu nunca virei para os meus filhos. Peço que as mães lutem pelos filhos.