Deve ser submetida a exames de pré-natal hoje, em um hospital público do Recife, a menina de 11 anos, grávida há oito meses do irmão materno, um homem com 29 anos. A gestação, considerada de alto risco, não poderá ser interrompida,diante do avançado estágio da gravidez.
Segundo especialistas, quanto menor a diferença entre a idade cronológica da paciente e a sua primeira menstruação, maior o risco para a gestação devido à imaturidade da vascularização uterina, o que pode acarretar um parto prematuro ou uma placenta insuficiente.
No caso específico também pesa o fator psicológico. Na opinião da psicológa Isabel Ribeiro, que trabalha há quatro anos no atendimento de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual e atualmente atua no Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social (Cendhec), a menina foi induzida pelo irmão a se sentir apaixonada e terminou experimentando sensações sexuais adequadas somente aos adultos. "Não existe uma criança estar apaixonada por alguém com 29 anos. Aconteceu um aliciamento, onde ela gostou de sentir prazer, gostou das coisas bonitas que provavelmente ouviu do irmão". De acordo com Isabel Ribeiro, é comum em episódios assim, haver histórico de incesto familiar.
A psicóloga citou o caso de um rapaz de 17 anos, que abusava das irmãs de 7, 10 e 12. Em ambas as situações, os pais também viveram incesto. "É como se as crianças repetissem o modelo".
GPCA - Ontem, a menina, moradora de uma cidade no Agreste do estado, ficou sabendo que o irmão, um ajudante de pedreiro, foi preso no Recife, onde estava vivendo escondido após ser indiciado pela Polícia Civil por estupro de vulnerável. Pelo Código Penal Brasileiro, um adulto não pode manter relações sexuais com alguém menor de 14 anos. O crime pode ser agravado pelo fato da vítima ter parentesco com o autor do estupro. O juiz Milton Santana Filho, da comarca de Feira Nova, decretou a prisão preventiva do ajudante de pedreiro, dois meses após o caso vir à tona.
O acusado foi ouvido ontem na Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente (GPCA), no Recife, e transferido para o Presídio de Limoeiro. De acordo com ele, o crime aconteceu inconscientemente, sem que nenhuma das partes pensasse muito. As investidas, disse, tinham partido da irmã. "Não a estuprei. Ela é quem vinha me acariciar durante a noite. A carne foi fraca e acabamos apaixonados", tentou justificar.
O irmão da garota chegou a dizer que estava arrependido de ter um relacionamento sexual com a vítima pois "aos olhos de Deus, é errado". Ele, que deixou a cidade para vir ao Recife quando os dois descobriram a gravidez, estava desempregado e vivendo nas ruas. Mas garante que a intenção seria trabalhar para sustentar o filho. "É meu filho. Eu já o amo. Faria qualquer coisa por ele".
A garota de 11 anos ainda tem um olhar inocente, que contrasta fortemente com a forma de seu ventre. De poucas palavras, apenas disse que estava bem. Que não sente dores ou maiores desconfortos. O pescoço esticado e a inquietação constante apenas revelavam o que ela deixou claro ao conversar ontem com a delegada da GPCA: está procurando o irmão, com quem perdeu a virgindade há dez meses.
Mãe da vítima e do agressor, a dona de casa e tem mais oito filhos. "Ela disse que não foi estupro. Que gosta dele e não quer que o irmão seja preso de jeito nenhum", comentou a mulher. Em depoimento à polícia, ela afirmou que "ninguém nunca viu nada". "Que a menina usava roupas largas o tempo inteiro e não se queixava de nada". A afirmação foi desmentida pelo filho preso, que disse ter sido flagrado, na cama com a irmã, pela mãe. "Ela reclamou bastante. Disse que o que estávamos fazendo era errado, mas a família inteira tentou amenizar".
De acordo com a delegada que está à frente do caso, Lídia Mara Barci, os dois não foram criados juntos e passaram a conviver desde o São João do ano passado, quando ele encontrou emprego na cidade. O acusado dormia junto com as irmãs, ambas menores de dezoito anos. O crime acontecia à noite, enquanto a mais nova dormia. Apesar dos pedidos da garota grávida, o irmão será encaminhado ao presídio. "Ela não tem o que querer porque não possui discernimento ainda. O que houve foi um estupro de vulnerável e, pelo crime, ele pode responder de 15 a 20 anos de prisão", explicou a delegada.
O caso foi denunciado pelos vizinhos e oficializado pelo Conselho Tutelar da cidade. O acusado só foi localizado agora, depois que seu próprio pai o levou à delegacia. Ele localizou o filho no Recife e aproveitou que a família veio realizar exames na menina em um hospital da cidade para denunciá-lo. "Ele disse que não aguentava mais os problemas causados pelo filho, que teria envolvimento com drogas. E se disse aliviado em ter ajudado a fazer justiça", contou a delegada.