Apesar dos avanços na educação, especialistas acreditam que alguns pontos ainda precisam receber mais atenção por parte do governo. O número de crianças e adolescentes fora da escola, por exemplo, mesmo com uma redução significativa, ainda preocupa aqueles que trabalham na área. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1980, o percentual de crianças entre 4 e 17 anos matriculadas na escola era de 80,9% ; atualmente, esse número está em 91,4%. Se por um lado o número é bom, por outro ele significa que ainda há 4,18 milhões de pessoas nessa faixa etária sem acesso às salas de aula.
Esses e outros índices foram discutidos ontem em Brasília, durante a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que reuniu educadores, pais e alunos com objetivo de cobrar do estado uma agilidade maior para democratizar a educação do país.
Se comparado a outros países, o Brasil, segundo a coordenadora da campanha, Iracema Nascimento, está mais avançado nas metas, porém muito longe de ter uma educação de qualidade. ;A previsão é de que se as coisas continuarem nesse ritmo, sem a educação ser uma prioridade em todos os países, em 2015 ainda teremos 56 milhões de crianças e adolescentes fora da escola. E, no Brasil, não vamos conseguir sair da casa dos 4 milhões;, afirmou.
Por isso, segundo Iracema, a campanha defende um tripé para viabilizar o objetivo almejado. Os três pontos seriam financiamento público suficiente, profissionais bem qualificados e remunerados e gestão democrática de todo o sistema. ;A gente acredita que, assim, com transparência dos recursos, participação de todos e profissionais bem atendidos, conseguiremos melhorar a qualidade da educação;, explicou.
A doutora em educação e assessora do Instituto de Estudos Socioeconômico (Inesc) Cléo Manhas também defendeu uma educação de qualidade. Como destacou, a Prova Brasil 2007 mostrou que apenas um terço dos alunos da 4; série conseguiram dominar o cálculo e a leitura. Ou seja, 70% das crianças não dominavam os temas. ;Então, o ensino precisa ser de qualidade para que as crianças de escola pública tenham sucesso, inclusive para conseguirem uma vaga na universidade pública, que hoje é ocupada, na sua maioria, por alunos oriundos das escolas particulares;, comparou.
Outro fato, segundo Manhas, é que, apesar de as matrículas não terem atingido ainda os 100%, é grande o número de alunos em uma única sala de aula, o que atrapalha o aprendizado. Ela lembrou que na última Conferência Nacional de Educação ficou determinado, para garantir o aprendizado, um número máximo de pessoas por turma ; 15 na pré-escola, 20 nos anos iniciais e 25 nos anos finais do ensino fundamental, e 30 no ensino médio. Atualmente, nenhuma das 27 unidades da Federação trabalha com essa proporção.
A situação do ensino também preocupa a Unicef. De acordo com a oficial de Programas da Unicef, Júlia Ribeiro, as questões vão além das baixas matrículas. É preciso acabar com quatro grandes desigualdades que ainda persistem: problemas na região onde mora a criança ou o adolescente, eliminar a desigualdade em relação à cor da pele, a relação entre idade e série, e as condições dadas para a pessoa com necessidades especiais.
80,9%
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de crianças entre 4 e 17 anos matriculadas nas escolas, nos anos 1980, mal passava dos 80%. Hoje, chegou a 91,4%.