Jornal Correio Braziliense

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Moradores tentam voltar ao Morro do Bumba

Polícia é acionada para evitar ocupação de áreas de risco. Segundo a Defensoria Pública, número de desaparecidos na região cai de 40 para 24

Apesar do risco de novos desmoronamentos e mesmo sem a liberação da Defesa Civil de Niterói (RJ), vários moradores do Morro do Bumba tentaram retornar para suas casas na manhã de ontem, e a Polícia Militar precisou intervir. Parte do grupo desistiu de voltar às residências, mas nem todos seguiram a determinação da PM. O auxiliar de serviços gerais Hamilton Soares, por exemplo, que mora no local há 20 anos, não obedeceu à orientação das autoridades. ;Estou voltando para casa hoje e vou correr o risco de ficar lá porque tenho que cuidar das minhas coisas;, afirmou. Ele justificou o seu retorno alegando que a prefeitura local ainda não liberou o benefício do aluguel social, no valor de R$ 400, prometido para auxiliar quem teve a moradia interditada.

Hamilton revelou que os amigos que sobreviveram ao desmoronamento do Morro do Bumba continuam emocionalmente abalados com a tragédia. ;Estamos tomando remédio para depressão por causa da morte dos nossos vizinhos. Não perdi parentes, mas conhecia essas pessoas há muitos anos;, destacou. A Defesa Civil de Niterói informou que vai providenciar a retirada de todas as pessoas que estão em casas localizadas nas áreas interditadas. Segundo o órgão municipal, não foi possível estabelecer um prazo, pois, até o momento, os técnicos ainda fazem o levantamento dos imóveis em situação de risco.

Segundo a Defensoria Pública, ainda há 24 pessoas desaparecidas no Morro do Bumba. O resultado, divulgado ontem, partiu do cruzamento dos cadastros do Núcleo Médico de Família com a lista de assistentes sociais do Tribunal de Justiça que trabalham no local. A relação anterior contabilizava mais de 40 desaparecidos.

Protesto

Na noite de quinta-feira, moradores de 10 comunidades atingidas pelos deslizamentos se reuniram em frente à prefeitura de Niterói para pedir a construção de moradias e soluções para as áreas afetadas. Segundo os bombeiros, já chega a 253 o número de mortos em decorrência das chuvas que castigaram o estado.


TRANSPORTE PRECÁRIO NA ILHA DE PAQUETÁ
Hoje completam 13 dias desde que um temporal assolou o Rio de Janeiro, e os moradores da Ilha de Paquetá ainda convivem com o caos, ruas obstruídas por lama, entulhos e galhos de árvores. As charretes, único meio de transporte disponível para os turistas que visitam a ilha, transitam precariamente, pois é proibida a circulação de automóveis. ;A nossa sede e nossas cocheiras foram interditadas pela Defesa Civil. Os cavalos ficaram seis dias nas ruas, e a transportadora de São Gonçalo ficou sem cortar o capim e trazê-lo para a ilha. Alimentamos os animais com milho e deixamos eles presos nas árvores durante a noite;, afirmou Jorge Rosas, presidente da cooperativa que abriga com 39 cavalos. Segundo Lauro Barcellos, administrador regional da ilha, cerca de 30 residências foram interditadas por estarem em área de risco, mas não houve nenhuma perda total de imóvel. A maioria dos desabrigados foi acolhida por familiares ou amigos. Na manhã de ontem, foi realizado um mutirão de limpeza das ruas, com o apoio da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), do Corpo de Bombeiros e da Guarda Municipal.