Andrielle Mendes
Em Natal, a falta de túmulos nos cemitérios públicos virou rotina e a saída encontrada por administradores de cemitérios e coveiros tem sido sepultar os corpos em locais improvisados. Diante da falta de vagas, vale até enterrar os corpos entre os túmulos e no pé dos muros. Somente no cemitério Bom Pastor 2, localizado no bairro de Bom Pastor, uma média de 2 a 3 mil corpos foram sepultados dessa forma. De acordo com o administrador do cemitério, Reginaldo de Souza Dantas, a situação se repete nos outros sete cemitérios da capital. Ele alerta que a situação é crítica no Bom Pastor 2, o cemitério mais novo da capital e que já completou 25 anos de uso.
Reginaldo estima que mais de 35 mil corpos tenham sido sepultados apenas no Bom Pastor 2 ao longo dos anos. "Nossa maior dificuldade é a falta de espaço. No Bom Pastor 2, estamos sepultando os corpos em locais improvisados. Quando alguém fala que quer enterrar um parente, a gente sempre dá um jeito e encontra um cantinho. O cemitério está lotado,mas a gente arruma um cantinho provisório", relata. Segundo Reginaldo, a ideia é transferir estes corpos depois que novos cemitérios forem construídos em Natal. Ele informa que são sepultados em média 45 a 50 pessoas por mês no Bom Pastor 2.
Um agravante para a superlotação dos cemitérios públicos é o fato do cemitério do Planalto não poder receber sequer um corpo. Ele foi construído há três anos justamente para atender a demanda reprimida da cidade. A razão por trás da proibição é que o equipamento público não possui licenciamento ambiental e foi construído fora dos padrões exigidos pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) - sem impermeabilização do solo nem proteção do lençol freático. Diante dos problemas, a Semurb se nega a emitir a licença ambiental e o cemitério, encarado como solução para o déficit de túmulos, permanece com os portões fechados.
Segundo o secretário-adjunto de Serviços Urbanos de Natal, Flávio Fonseca, é justamente neste ponto que reside o maior impasse para a liberação. Ele estima que seriam necessários mais de R$ 5 milhões para readequar o novo cemitério. Recursos que, segundo ele, precisam ser incluídos num novo orçamento da prefeitura e que ainda não estão disponíveis. Mas os problemas não param por aí. Na capital, de acordo com os cálculos do secretário-adjunto, cerca de 30 coveiros oficiais e especializados se desdobram para atender a demanda. Número considerado baixo diante da procura e do aumento populacional. Desse total, apenas oito são oficiais (fazem parte do quadro da prefeitura), como explica a presidente do Sindicato dos Servidores de Natal (Sinsenat), Soraia Godeiro. Segundo ela, a contratação dos 15 coveiros aprovados num concurso público realizado pela prefeitura do Natal ainda em 2006 amenizaria um pouco a situação. "Não é justo que a prefeitura do Natal pague funcionários terceirizados quando os aprovados no último concurso não foram sequer convocados", reclama.