A confirmação da demarcação contínua da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, há um ano pelo Supremo Tribunal Federal (STF) não encerrou a disputa por espaço na região. Indígenas que defendiam a permanência dos brancos na reserva estão insatisfeitos e ameaçam conflito direto com índios ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR).
;Estamos sendo humilhados e isso vai acabar. Vamos ter que sacrificar alguém. Hoje vivemos em conflito, somos ameaçados por eles;, disse à Agência Brasil o coordenador da Sociedade de Defesa dos Indígenas Unidos de Roraima (Sodiu-RR), Sílvio da Silva.
Vestindo camisa e calça social, Silva fez questão de colocar um cocar de tuxaua (cacique) durante a entrevista. O líder macuxi acusa indígenas ligados ao CIR ; que são maioria dentro da Raposa Serra do Sol ; de intimidar e impedir a construção de casas e benfeitorias por índios associados à Sodiu.
;Eles dizem que não podemos construir nossas casas porque não derramamos nosso sangue para pedir a demarcação contínua. Não precisamos derramar sangue para ter direito a uma terra que é nossa também. Não está longe de acontecer uma guerra entre parentes;, disse.
Na mesa de trabalho, em uma sala abafada em Boa Vista, Silvio guarda um conjunto de flechas, que, segundo ele, foram utilizadas por índios ligados ao CIR para ferir e matar animais do grupo adversário.
Coordenador-geral do CIR, o também indígena macuxi Dionito José de Souza, principal líder da defesa da demarcação contínua, reconhece que há divisão entre indígenas no interior da Raposa, mas minimiza a possibilidade de um conflito. ;Queremos trabalhar como parceiros, fortalecer a base das organizações indígenas. Temos que nos articular.;
Os dois grupos têm reunião marcada com o desembargador Jirair Mengherian, presidente do Tribunal Regional Federal da 1; Região na próxima terça-feira (20) para tratar da tensão na reserva.
Um ano após a saída dos arrozeiros e pequenos produtores rurais não índios do interior da Raposa Serra do Sol, Silva disse que nada melhorou na vida dos indígenas que vivem na área de 1,7 milhão de hectares.
;A retirada dos arrozeiros só nos trouxe pobreza e dificuldade. Não existe mais o salário nem as diárias [pagas para quem trabalhava nas fazendas]. O governo não deu condições de desenvolvimento para a Raposa;, questiona Silva. ;Não podemos derrubar uma árvore, porque disseram que só podemos preservar, proibiram a mineração. Querem nos matar de fome. Não somos mais como no passado, estamos aculturados;, completou.
Apesar de ser a segunda maior organização indígena do estado, Silva afirma que a Sodiu não foi convidada para a Festa da Homologação, que vai ocorrer de amanhã (15) a terça-feira (20) de abril em uma das comunidades da Raposa Serra do Sol. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve participar do evento na segunda-feira (19).
;Não vai ser uma festa do Dia do Índio. Vai ser uma festa para o Lula, para os alemães, os americanos, os padres italianos que vivem lá e têm mais liberdade que nós, que também somos índios;, reclama.
O CIR, que coordena a organização da festa, afirma que todos os indígenas estão convidados para a comemoração.