Moradores do bairro Novo México, em São Gonçalo, vivem um momento de incerteza. A Defesa Civil interditou 505 casas no local, ou seja, mais de 80% das 600 residências. Sem poder voltar para casa e sem ter para onde ir, pelo menos 500 pessoas que estão abrigadas em uma escola municipal aguardam uma solução do poder público para poderem seguir com suas vidas.
Márcia Regina Barzano, de 34 anos, morava em uma casa no alto de uma das encostas da comunidade, com o pai, o marido e três filhos. Mas, na madrugada do último dia 6, perdeu tudo o que tinha: roupas, móveis e também sua casa, hoje irreconhecível sob um monte de barro que deslizou da encosta.
Segundo ela, o pesadelo começou por volta das 5h da manhã. Temendo pelo pior, pouco antes do deslizamento, Márcia levou o pai para a casa do vizinho e os filhos, para a casa de um irmão, localizada na mesma encosta, pouco abaixo da sua residência.
;Não demorou muito e minha casa desabou toda. Consegui tirar todo mundo, mas minha filha ainda ficou imprensada, entre a televisão e uma cama, na casa do meu irmão, porque os escombros da minha casa ainda chegaram a destruir a parte de trás da casa dele;, disse.
Em cima do monte de destroços que se transformou seu antigo lar, o marido de Márcia, Nilson Rodrigues, lamentava a perda da casa. ;Perdemos tudo, móveis, documentos. Mas pelo menos não perdemos a vida;, afirmou.
Os filhos de Márcia estão hoje separados da mãe, alojados na casa da avó em outra comunidade. Abrigados na escola, estão apenas ela e o marido. ;Estou esperando a providência de alguém. Meu filho de dez anos está traumatizado e não quer voltar para cá de jeito nenhum. Toda hora que passa um carro fazendo mais barulho, ele acha que vai desabar tudo;, contou Márcia.
Outra casa destruída pelas chuvas da semana passada pertencia a Maria das Graças Souza, que mora há mais de 50 anos no Novo México. ;Passamos a noite na rua. Tudo que eu tinha foi embora: fogão novo, máquina de costura. Foi horrível. Ficamos só com a roupa do corpo.;
A casa de Rose Pereira de Lima, que mora há 30 anos no Novo México, não foi afetada por deslizamentos, mas acabou inundada depois que o rio que passa ao lado de terreno transbordou. ;Só consegui salvar minha geladeira e minha televisão. O resto, vou ter que jogar fora;, contou Rose, que também está abrigada na escola municipal do bairro.
Liliane Mendes Claudino, de 31 anos, morava em uma casa com cinco filhos e o marido. Temendo pela segurança da família, Liliane descarta voltar para casa. ;Estamos esperando uma solução. Eu, com cinco filhos, não tenho condições de pagar um aluguel, porque só o meu marido trabalha. Não adianta a gente sair daqui para pagar um aluguel. Nossa casa era própria. Queremos uma casa própria para a gente morar;, afirmou.
Sérgio Silva Filho, de 29 anos, que hoje atua como um dos líderes informais dos desabrigados na Escola Municipal José Carlos Brandão, foi um dos moradores que resolveu começar a evacuar as casas e levar as pessoas para a escola.
Segundo ele, se os próprios moradores não tivessem tido a iniciativa de sair de suas casas, a tragédia no bairro Novo México, onde morreram pelo menos seis pessoas, poderia ter sido maior. ;Se não fosse essa atitude, a chuva teria matado muita gente. Só esperamos agora que a gente possa retornar às nossas vidas. Esperamos poder voltar à realidade o mais rápido possível. Não dá para continuar nessa escola;, disse.
Carlos Sérgio, também de 29 anos, foi outra pessoa que se mobilizou para retirar as pessoas das casas e para abrigá-las na escola. ;Espero que os governos competentes venham nos dar uma resposta concreta e que isso possa ser rápido, porque estamos aqui num colégio. A convivência é difícil, porque é pequeno, apertado e não para de chegar gente;, afirmou.
A prefeitura de São Gonçalo informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a solução para o bairro Novo México ainda está sendo estudada. Segundo a prefeitura, 14 pessoas morreram nas chuvas da semana passada, cerca de 50 mil pessoas foram afetadas e pelo menos 3,5 mil estão desabrigadas.