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Explosão e morte em avenida do Rio

Artefato detonado em veículo fere bicheiro e mata seu filho de 17 anos. Polícia investiga se caso foi um atentado contra o homem acusado de controlar o jogo do bicho no estado

postado em 09/04/2010 07:00 / atualizado em 22/09/2020 14:30

Ao contrário da versão inicial, de que motoqueiros teriam lançado uma granada contra o carro do bicheiro Rogério Andrade, explodindo o veículo ontem à tarde, no Recreio do Bandeirantes, Rio de Janeiro, a Divisão de Homicídios do estado começa a suspeitar que os artefatos, na verdade, estariam no Toyota Corolla blindado que ele usava. O filho de Andrade, Diogo, 17 anos, que dirigia o veículo, morreu. Com queimaduras e fraturas no rosto, o contraventor passou por cirurgia e continuava internado até o fechamento desta edição, mas passa bem. Para especialistas em segurança pública, o ato de extrema violência(1) pode sinalizar um recrudescimento da guerra pelo controle das máquinas caça-níqueis na capital fluminense. ;Esse fato é extremamente negativo, porque traz a possibilidade de uma nova onda de violência, como muitas que marcaram a história do Rio;, destaca Ignácio Cano, integrante do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Ele compara a disputa pelo controle das máquinas de jogo na cidade com a briga entre os bicheiros no passado. ;Enquanto a cúpula do bicho não começou a intervir nos conflitos para minimizá-los, houve muitas mortes;, lembra o especialista, para quem o poder público deveria regulamentar a atividade. ;Tem que descriminalizar, regulamentar e fiscalizar. A violência que se provoca criminalizando o jogo de azar é muito grande;, diz. Rodrigo Pimentel, sociólogo e ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio (Bope), ressalta que pelo menos há um ano a guerra dos caça-níqueis estava estabilizada na cidade. ;Quando a exploração dessas máquinas começou a ser atrelada às milícias, que, como dominadoras do território, precisam dar sua permissão, deixamos de ver aquele quadro generalizado de mortes envolvendo policiais, bombeiros e advogados;, afirma Pimentel. Por esse motivo, ele diz que ficaria surpreso caso a teoria de atentado contra Andrade se confirme. Investigação A polícia trabalha com duas linhas de investigação. Uma seria a primeira hipótese levantada, de atentado com o explosivo jogado por terceiros de fora para dentro do carro. A outra, de que o veículo de Andrade trazia o artefato. Caso a última versão fique confirmada, resta saber se o material foi plantado no Toyota Corolla ou se era do próprio bicheiro. Ele já prestou depoimento no hospital, mas a polícia mantém as informações em sigilo. Os investigadores buscarão a colaboração, ainda, dos seguranças de Andrade que estavam no carro de trás, um Vectra, também atingido por estilhaços da explosão, mas sem ninguém ferido. Para o advogado de Andrade, Luiz Carlos Silva Neto, o atentado nada tem a ver com as acusações que pairam sob seu cliente. ;Acredito que tenha sido uma tentativa de assalto;, afirmou. Depois de ser condenado a 19 anos de prisão pela morte do primo Paulinho Andrade, filho do bicheiro Castor Andrade, o contraventor contratou Silva Neto ; que conseguiu anular a sentença desfavorável. O novo julgamento está marcado para 17 de agosto. Pelas informações do advogado, Andrade tinha saído da academia no momento em que o carro sofreu a explosão. 1 - Palco de guerra O local onde o carro de Rogério Andrade foi explodido ; na Avenida das Américas, altura de uma instalação do Corpo de Bombeiros ; parecia um ambiente de guerra. Num raio de 70 metros, segundo policiais que estiveram no local, era possível ver partes do corpo de Diogo e pedaços do veículo. O rapaz foi jogado para fora do veículo e estava amputado. Diogo vestia camiseta e bermuda no momento da explosão. ; Para saber mais Máfia da jogatina Depois da morte de Castor de Andrade, bicheiro que controlava o jogo no Rio de Janeiro, em 1997, a guerra dos caça-níqueis começou. Isso porque Castor teria dividido seus ;negócios; entre o sobrinho Rogério Andrade, que ficou com o jogo do bicho; e o genro Fernando Iggnácio, a quem caberia cuidar das máquinas caça-níqueis. Como o jogo do bicho sofreu uma queda de rendimento nos últimos anos, Rogério teria decidido explorar também os caça-níqueis. Foi o estopim para uma guerra entre os criminosos. Um dos personagens principais do conflito, Rogério Andrade é suspeito de ligação com a morte de dezenas de pessoas na Zona Oeste do Rio de Janeiro, além de assassinar um primo, Paulinho de Andrade, crime pelo qual ele já foi até condenado, mas acabou conseguindo a anulação do júri. Em 2006, Rogério Andrade chegou a ser preso. Um mês depois, a Polícia Civil prendeu Fernando Iggnácio, acusado da tentativa de assassinato de dois policiais militares e de um bombeiro, entre outras pessoas. Outras prisões de envolvidos na máfia dos caça-níqueis foram feitas, como a de Paulo César Ferreira do Nascimento. Mais conhecido como Paulo Padilha, o ex-agente da Polícia Federal é acusado de ser dono de dois bingos no Rio e é uma figura importante na quadrilha de Rogério. Os policiais civis Fábio de Menezes do Nascimento, Jorge Luiz Fernandes e Hélio Machado da Conceição também foram presos, ainda em 2006. Os três estariam ligados ao ex-chefe de polícia no Rio Álvaro Lins, contra o qual também pesam denúncias de contravenção. O advogado Luiz Carlos Silva Neto fala sobre o atentado contra Rogério Andrade, contraventor do Rio de JaneiroIgnácio Cano, especialista em segurança pública, fala sobre o jogo do bicho no Rio

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