Jornal Correio Braziliense

Brasil

Levantamento mostra que índice de assassinatos no país teve pouca variação em 10 anos

Em 10 anos, o país perdeu diariamente 140 pessoas assassinadas. Ou 512 mil homicídios, entre 1997 e 2007, segundo o levantamento Mapa da Violência, divulgado ontem pelo Instituto Sangari, que traz uma série de dados preocupantes. O relatório mostra uma migração dos casos de homicídios das capitais e regiões metropolitanas para o interior do país. Em 1997, eram 13,5 assassinatos para cada 100 mil pessoas, enquanto em 2007, o número subiu para 18,5 crimes. A explicação dada pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autor do mapa, é que muitas dessas cidades do interior atraíram investimentos e geração de empregos e renda. Com isso, se tornaram atraentes para a criminalidade. Além disso, conforme o estudo, as capitais e as regiões metropolitanas receberam tratamento prioritário do novo Plano Nacional de Segurança Pública e do Fundo Nacional de Segurança.

;Foram canalizados recursos federais e estaduais principalmente para aparelhamento dos sistemas de segurança pública nos grandes conglomerados. Isso dificultou a ação da criminalidade organizada, que migrou para as áreas de menor risco, justamente o interior dos estados;, diz o relatório. Com isso, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, por exemplo, tiveram uma redução significativa dos homicídios. Nos três estados estão concentrados 41% da população brasileira e 55% dos crimes de mortes ocorridos em uma década. ;Torna-se óbvio que qualquer alteração nesses estados, pelo seu peso, terá visível repercussão nas taxas nacionais;, diagnostica o documento.

Com os resultados dos três estados e uma freada nos casos de homicídio em Pernambuco, Espírito Santo, Rondônia e Acre e do crescimento nos casos no Maranhão, Alagoas e Piauí, os números gerais do Brasil permaneceram praticamente inalterados em 10 anos. Em 1997, foram 24,5 homicídios para cada 100 mil pessoas, enquanto em 2007 registrou-se 25,2 casos. Nas regiões metropolitanas e nas capitais houve uma queda considerável ; 25% no primeiro caso e 19,8% no segundo. As explicações, de acordo com o relatório, foram a Campanha e o Estatuto do Desarmamento, que entraram em vigor no final de 2003.

Mas o documento trouxe uma preocupação que aumenta a cada dia: o crescimento dos homicídios entre jovens, Em 1980 eram 30 casos para cada 100 mil habitantes, crescendo para 50,1 crimes em 2007. ;Assim, pode-se afirmar que a história recente da violência que resulta em homicídio, no Brasil, é a história do crescimento dessa violência entre jovens. Uma não terá solução sem a outra;, afirma Waiselfisz. O Mapa da Violência observa que, apesar haver uma estagnação na faixa etária entre 15 a 24 anos, existe uma forte tendência de elevação no futuro.

Guerras
O levantamento mostra ainda que as principais vítimas de homicídio no Brasil são os homens: 90% dos casos, mas o número de mulheres assassinadas também é grande. Em quatro anos ; de 2001 a 2004 ; cerca de 19,4 mil mulheres foram mortas. Houve ainda crescimento de vítimas negras, cujos índices aumentaram 21 % em relação a períodos anteriores. O relatório foi feito baseado em dados do Subsistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde; do Sistema de Informação Estatística da Organização Mundial de Saúde.

De 1997 a 2007, vários crimes de grande repercussão marcaram o cotidiano brasileiro. Com isso, o número de mortes supera o total de vítimas das guerras da Chechênia, Guatemala e El Salvador. O Rio, apesar de apresentar índices satisfatórios de queda, registrou pelo menos 1.260 mortes em confrontos entre criminosos e policiais. No Complexo do Alemão, em junho de 2007, foram mortas 19 pessoas em 10 horas de tiroteio.

Alto e constante

Dados de uma pesquisa nacional realizada entre 1997 e 2007 no país mostram que Pernambuco foi o estado do Nordeste que apresentou menor crescimento de homicídios em 10 anos: as mortes violentas aumentaram uma média de 6,8% contra 53,3% da região. Mas ainda não existem motivos para comemorar, segundo o sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz, autor do estudo Mapa da Violência. De acordo com o pesquisador, o resultado mostra que, apesar de os índices não terem crescido como em outros estados, permaneceram altos e constantes. A análise revela que o estado passou uma década sem mudar a posição no ranking e ficou novamente na 3; colocação de mais violento do país.

Júlio Jacobo pondera que os números devem servir de norte para elaboração de políticas públicas, não só por mostrar um panorama não dos estados, como de todas as regiões metropolitanas e municípios do interior. Ele compara índices, explicando que Alagoas e Maranhão ostentaram uma média de crescimento de 147,3% e 188,4% em dez anos, mas frisa que Pernambuco permaneceu sem mudanças substanciais. ;As taxas de Pernambuco permaneceram constantes. Você observa, por exemplo, que Alagoas aumentou demais: o índice de homicídios por 100 mil habitantes era 24,1 em 1997 e pulou para 59,6, ou seja, mais que o dobro. Mas Pernambuco já era alto. Em 1997, a taxa por 100 mil habitantes era de 49,7, a maior do Nordeste;.