Jornal Correio Braziliense

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Réus batem na mesma tecla

Alexandre e Anna Carolina apresentam suas versões para o crime e negam que tenham matado Isabella. Madrasta admite que "aumentou" e "inventou" informações à polícia. Veredito deve sair hoje, mas advogado de defesa desanima: "Entrei num júri perdido"

São Paulo ; No quarto dia do julgamento do casal Nardoni, Alexandre e Anna Carolina juraram inocência, choraram várias vezes diante dos jurados e disseram que amavam Isabella, jogada pela janela do sexto andar na noite de 29 de março de 2008. Hoje, ao se reunir na sala secreta, os sete jurados vão dizer por meio de voto se ficaram convencidos com a versão do casal. A previsão é que a sentença seja proferida pelo juiz Maurício Fossen na tarde de hoje, logo após o esperado debate entre a promotoria e a defesa dos Nardoni.

O primeiro a ser ouvido foi Alexandre, pai de Isabella. Durante depoimento, chorou três vezes. Em uma das vezes, o promotor Francisco Cembranelli chegou bem perto do rosto do réu e fez uma pergunta carregada de ironia: ;Por que não escorre lágrimas dos seus olhos quando você chora?;. Nesse momento, o advogado de defesa, Roberto Podval, protestou e o juiz interveio. Pediu ao promotor que fizesse perguntas mais objetivas e ligadas diretamente ao caso.

Ao exibir uma animação feita pelos peritos do Instituto de Criminalística da Polícia de São Paulo mostrando como Isabella foi agredida e assassinada, Alexandre reagiu de maneira ostensiva. Classificou as imagens de ;filminho mentiroso;. Ele assumiu que a relação com Anna Carolina Jatobá era marcada por ciúme. Segundo a acusação, seria justamente esse sentimento que teria levado o casal a iniciar a sequência de atos que culminaram com a morte da garota. ;Todo casal que se ama sente ciúme;, justificou Alexandre. Ele disse ainda que Ana Carolina Oliveira (1), mãe de Isabella, também tinha ciúme dele e que ela e sua família viviam infernizando o casal.

Coube à advogada Cristina Christo Leite, contratada pela mãe de Isabella e que atua como assistente da acusação, a fazer as perguntas que mais embaraçaram o réu. Ela quis saber por que em nenhum momento ele ligou para o resgate, já que diz ter visto, da janela do quarto, a própria filha caída no jardim. Nardoni disse que estava nervoso e em estado de choque. A advogada então mostrou extratos da conta de telefone provando que ele não estava tão nervoso assim, já que antes de o resgate tirar Isabella do jardim ele ligou para o pai, Antônio Nardoni; e para o sogro.

Alexandre tentou ainda provar a sua inocência contando com detalhes as ;injustiças; que sofreu logo que foi preso. Disse que foi humilhado por policiais, que o chamavam de ;assassino; e ;vagabundo;. Revelou que chegou a receber uma proposta de um delegado para que assumisse o crime e dissesse que teria matado a filha de forma não intencional. Já Anna Carolina Jatobá insinuou que os peritos que estiveram em seu apartamento logo depois do crime teriam furtado um laptop. ;Percebi a falta do computador logo depois que os peritos saíram de casa;, disse a madrasta.

Quando Alexandre Nardoni foi ouvido, Anna Jatobá saiu da sala onde ocorre o julgamento. Quando chegou a sua hora de depor, Alexandre ficou para ouvir a esposa. Ela contou que as marcas na camisa do marido que a perícia diz serem da tela de proteção estão relacionadas ao momento em que ele foi ver a filha caída no jardim. A acusação sustentou que elas só foram feitas porque o réu tinha um peso de 25kg nos braços. Anna Jatobá disse então que ele carregava o filho mais velho, Pietro, hoje com 7 anos.

Anna Carolina chorou várias vezes durante o interrogatório. Começou a falar bastante nervosa e foi interrompida três vezes pelo juiz Maurício Fossen. ;Por favor, fale mais devagar. Faça pausa na pronúncia. Não estamos entendendo o que a senhora diz e a escrivã não consegue anotar;, ressaltou o presidente do júri. Depois dessas ;broncas;, a ré passou a falar pausadamente e chorou ainda mais.

A ré admitiu que, durante seu depoimento à polícia, ;aumentou; e ;inventou; informações, como quando disse que apanhava de seu pai. Titubeou quando foi questionada sobre o tempo que o casal ficou aguardando para sair do carro na garagem do edifício e, por diversas vezes, foi flagrada pelo promotor em contradições entre o primeiro e o segundo depoimentos dados à polícia. Em várias perguntas da acusação, a moça disse apenas: ;Não me recordo;. E fez questão de destacar que não era uma pessoa violenta. ;Nunca bati em ninguém. Nunca fui violenta. Depois de ter meu filho, amadureci.;

Após o quarto dia de júri, o advogado do casal reconheceu que a absolvição é difícil. ;A gente não tem chance, as chances são pequenas. Só teremos chance se contarmos a verdade;, disse Podval. ;Eu entrei num júri perdido. A minha responsabilidade é: eu preciso fazer um trabalho digno.;

1 - Nada de acareação
A mãe de Isabella passou mal ontem na sala de confinamento e teve de ser atendida por médicos. No fim da tarde, o juiz a dispensou dizendo que não faria a tão esperada acareação entre Ana Carolina Oliveira e Alexandre Nardoni. Do fórum, ela seguiu para um hospital.

"Não vi minha esposa asfixiar a Isabella. Todas essas acusações são falsas"

"Os policiais que me prenderam me chamaram de assassino, vagabundo e mentiroso"

Alexandre Nardoni


"O nosso relacionamento era muito bom. Era como se Isabella fosse uma filha para mim. Eu fazia tudo para ela"

"A família da Ana Carolina (mãe de Isabella) vivia infernizando o meu casamento"

Anna Carolina Jatobá