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Manobra da defesa dos Nardoni isola mãe, promotoria chia

Depois de ter emocionado o júri no primeiro dia, Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella, é obrigada a deixar a sessão a pedido dos advogados dos Nardoni. Delegada que investigou o crime depõe e diz ter 100% de certeza quanto à culpa dos réus

São Paulo ; No segundo dia de julgamento do casal Nardoni, a defesa contabilizou duas vitórias. A primeira foi manter afastada do julgamento a principal testemunha do caso, Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella. O advogado dos réus, Roberto Podval, pediu e o juiz Maurício Fossen atendeu: a mãe da garota está isolada, por tempo indeterminado, e incomunicável, numa sala do Fórum de Santana, na Zona Norte de São Paulo. ;Ela está chateada com tudo o que aconteceu. Eu entendo. Mas ela disse coisas graves contra os meus clientes e possivelmente teremos de fazer uma acareação;, disse Podval.

No depoimento, a mãe de Isabella emocionou o júri ao contar com detalhes como encontrou a filha caída no jardim e a agonia na ambulância até morrer no hospital, o que deixou os advogados de defesa dos Nardoni bastante incomodados. ;A simples presença da mãe de Isabella no tribunal já ajudaria a convencer o jurado, uma vez que ela vai se emocionar bastante durante todo o julgamento. Retirá-la das sessões é um direito e faz parte do jogo;, ressaltou o advogado criminalista Sérgio Sampaio, da Universidade de São Paulo.

A retirada de Ana Carolina irritou o promotor Francisco Cembranelli e os familiares de Isabella. ;A minha filha tem o direito de acompanhar o julgamento para fechar esse ciclo. Ela precisa vivenciar o luto e enterrar a Isabella de vez;, desabafou a avó materna da menina, Rosa Oliveira. Já o promotor classificou a atitude como uma crueldade. ;Ela sofre bastante e precisa de acompanhamento psicológico. Não merece ficar numa sala isolada até o fim do julgamento. Faltou bom senso;, lamentou Cembranelli.

Outro depoimento que a defesa dos Nardoni computou como favorável foi o da delegada que presidiu o inquérito que apurou a morte da garota, Renata Pontes. Ela chegou a dizer que tinha 100% de certeza que Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá mataram Isabella, mas ao ser questionada sobre detalhes da perícia que embasa tal conclusão, a delegada gaguejou. No depoimento de mais de 3 horas de duração, por exemplo, um jurado perguntou se as manchas de sangue encontradas na roupa de Anna Carolina Jatobá seriam de Isabella. Ela respondeu que não, mas há laudos da perícia concluindo que sim.

Outro ponto que marcou a divergência nas conclusões da delegada diz respeito a uma mancha encontrada na roupa que Alexandre Nardoni vestia na noite do crime. Um laudo da perícia divulgado na época dizia que se trata de vômito de Isabella. Ao ser questionada ontem pela defesa, Renata disse que não se tratava de vômito da menina.

A pedido dos advogados de defesa, a delegada Renata Pontes também foi mantida no Fórum de Santana isolada por tempo indeterminado. Roberto Podval alega que poderá precisar ouvi-la novamente e que, se saísse e tivesse contato com meios de comunicação, poderia sofrer influências em um possível novo depoimento. ;Foi um depoimento importante para a defesa, pois suscita mais dúvidas do que certezas quanto à autoria do crime. Ela demonstrou que não está convicta ao responder perguntas simples e até disse que tem provas sustentadas em que ouviu informalmente dos peritos;, avaliou o advogado-assistente da defesa, Marcelo Raffaini.

Cansaço

Depois da delegada, foi ouvido o médico-legista Paulo Sérgio Tieppo, que fez a necropsia no corpo de Isabella. Ele afirmou que o espancamento e o estrangulamento sofridos pela garota já eram suficientes para matá-la. E que ela estava ;quase morta; quando foi arremessada pela janela do Edifício London. O depoimento do legista foi marcado por muitos termos técnicos, cansando o júri. Coube a ele também mostrar imagens fortes de Isabella morta. Nessa hora, a avó da menina, Rosa Oliveira, deixou a sala em prantos.

Por último, foi ouvido o legista Luiz Carvalho Dória. O perito baiano era considerado uma testemunha surpresa. Falou por 40 minutos sobre o trecho de um livro escrito por ele que teria sido usado em um laudo por uma das testemunhas de defesa. O juiz Maurício Fossen percebeu que o júri estava cansado e resolveu encerrar o julgamento enquanto Dória falava.

Uma chance para aparecer


No segundo dia do julgamento do casal Nardoni, o número de populares que se aglomeravam em frente ao Fórum de Santana, Zona Norte, aumentou. Faixas, cartazes pedindo justiça e chamando os dois de assassinos proliferaram. Logo cedo, quando um comboio levou Alexandre Nardoni e Anna Carolina ao fórum, populares que acompanham o julgamento do lado de fora ficaram agitados. A doméstica Virgínia Marquez, 28 anos, foi uma das primeiras a correr para gritar ;assassino;. ;Não tenho dúvida de que eles são culpados. Estou aqui porque esse caso tem comoção e quero pena máxima;, discursou.

A vendedora Luciana Olsen, 23, disse que estava na frente do fórum para fazer pressão popular, mas o que ela quer mesmo é aparecer na televisão. ;Eu fico atrás dos jornalistas que fazem reportagens ao vivo para aparecer na televisão. Meus amigos lá da Bahia me veem e me ligam.; Quanto ao assassinato de Isabella, diz ter dúvidas. ;Todo mundo quer pena máxima, ninguém sabe ao certo o que aconteceu na noite do crime;, ponderou.

O advogado criminalista Evandro de Paula, da Universidade de Campinas (Unicamp), destaca que a opinião pública é importante no julgamento dos crimes de grande repercussão. Mas ele observa que a mídia, em muitos casos, faz desses tribunais um grande circo. ;Na maioria das vezes, como no caso Nardoni, o sensacionalismo fala mais alto.;

A estudante Natália Souza, 22 anos, dormiu em frente ao fórum para acompanhar de perto o julgamento juntamente com quatro amigas. Elas levaram mantimentos para ficar três dias. ;Se durar mais, minha mãe vem aqui trazer. Um acontecimento como esse deixa a família inteira abalada;, justificou. Na noite de segunda-feira, elas tomaram chuva.