Está chegando ao fim o processo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2009. Na próxima semana, as universidades divulgarão o resultado da terceira e última etapa, em que o Ministério da Educação (MEC) espera conseguir preencher todas as vagas ainda desocupadas. Agora, o próximo passo do órgão, após tantos problemas com o novo exame que passou a ser utilizado como forma de seleção por algumas instituições de ensino superior, é correr para tentar consertar os erros identificados nesta primeira edição e evitar problemas no Enem 2010.
Uma prova disso está no recuo estratégico anunciado pelo ministro Fernando Haddad. Ao contrário do que divulgou no ano passado, Haddad disse ontem que será realizada apenas uma edição do Enem este ano. Segundo a assessoria de imprensa, a decisão foi tomada em virtude do atraso nas negociações sobre as regras da licitação com a Controladoria-Geral da União e o Tribunal de Contas da União. ;O ministro está convencido de que não tem condições de realizar um novo exame nas dimensões do Enem, com mais de 4 milhões de inscritos, se tiver que enfrentar uma licitação nos moldes da que ocorreu no ano passado;, afirmou nota da assessoria de imprensa.
Além do pronunciamento feito pelo ministro, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pelo Enem, participou ontem de uma audiência pública na Comissão de Educação do Senado para debater com senadores e especialistas da área sobre o que deve ser feito para aperfeiçoar o exame. Os participantes elogiaram a nova prova, mas afirmaram que é preciso que haja um amadurecimento no sistema.
A senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), que pediu para que fosse realizado o encontro, afirmou ser favorável à prova, desde que se encontrem caminhos para resolver os problemas do Enem 2009. Segundo Serrano, a dificuldade encontrada para preencher as vagas no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) não deve se repetir. Além disso, ela cobrou do MEC uma nova solução para que seja feita a avaliação do ensino médio, antigo papel do Enem.
Já o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) defendeu que se mantenha o Enem apenas como forma de avaliação do ensino e, no lugar desse novo sistema, seja realizada uma prova semelhante ao Programa de Avaliação Seriada (PAS), da Universidade de Brasília. ;Assim, você tem um impacto muito maior do ensino médio, pois o aluno estudará mais;, sugeriu.
A necessidade de uma série de melhorias foi admitida até pelo presidente do Inep, Joaquim José Soares Neto, que concordou que é preciso melhorar a logística e a segurança do exame, e destacou que para ajudar nessa questão o órgão está trabalhando para trazer novas tecnologias para realizar o Enem. ;Quando você aumenta o número de candidatos, a logística para uma prova desse porte precisa ser modificada. Então, estamos pensando para o próximo realizar provas no computador. Em algumas universidades já temos bases tecnológicas apropriadas para isso;, disse.
O presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Yan Evanovick, ressaltou que os estudantes são a favor do novo Enem, por dar mais chances de entrar em uma universidade pública. Mas, segundo ele, é preciso adotar o sistema de cotas sociais.
Por sua vez, o representante da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Edward Madureira Brasil, disse que quase todas as universidades, em diferentes graus, utilizaram a nota. Mas destacou que todas elas defendem um aperfeiçoamento. ;Nós sabemos que uma prova de nível nacional é muito interessante e deve ser uma tendência em quase todas as instituições. Mas é necessário respeitar a decisão de cada uma delas;, disse.
; Memória
Dor de cabeça no início
Em 2009, o Ministério da Educação (MEC) resolveu utilizar o resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como forma de seleção unificada nos processos seletivos das universidades públicas do país. O principal objetivo do órgão era democratizar o acesso às vagas do ensino superior, possibilitar mobilidade acadêmica e induzir a reestruturação dos currículos do ensino médio.
O primeiro Enem com esse objetivo estava marcado para 3 e 4 de outubro do ano passado. Porém, por causa do vazamento dos cadernos de questões da gráfica, em São Paulo, o teste teve de ser remarcado para 5 e 6 de dezembro. Após o episódio, o MEC enfrentou alguns problemas, entre eles a decisão de algumas universidades de deixar de aceitar a nota no processo de seleção e a desistência de alguns alunos em realizar a prova.
Em 5 de fevereiro, quando foi divulgado o resultado do Enem, novos problemas surgiram. Os estudantes tiveram dificuldade ao acessar o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), criado para que eles pudessem tentar uma vaga em uma das 51 instituições que adotaram o exame. Logo na primeira etapa de seleção, o portal ficou lento e algumas vezes, fora do ar. Além disso, os candidatos demoraram a entender de que forma suas notas foram calculadas. A prova tinha cinco notas, uma para cada área de conhecimento, e para o cálculo das médias foi utilizada a metodologia da Teoria de Resposta ao Item (TRI), que busca medir o conhecimento a partir do comportamento observado em testes. Agora, o MEC vem enfrentando o problema em não conseguir preencher as vagas. No início foram disponibilizadas 47,9 mil vagas e para a última etapa sobraram ainda 21.701 vagas.