Jornal Correio Braziliense

Brasil

Vidas secas em canudos

O que era pouco acabou. Lugares como o assentamento Canudos, em Touros, sofrem com a interrupção no serviço de carros-pipa do Exército

Enquanto muitas donas de casa de Natal utilizam água para lavar as calçadas de suas casas, famílias como a de seu José Lemos, 50 anos, que estão a apenas 87km da capital, sofrem com a falta de água até mesmo para beber. Na carroça, seu José transporta oito baldes que conseguiu encher com a água poluída do Rio Boa Cica para matar a sede de seus três filhos pequenos, que aguardam ansiosos pela chegada do líquido precioso no Assentamento Canudos, a 25km da zona urbana do município de Touros. "Até ontem ainda tinha um restinho de água em casa, mas hoje acabou e nós tinhamos que tirar água de algum lugar", conta o pai de família desesperado.

No assentamento Canudos, 205 pessoas recebiam água através do Programa Operação Pipa, que enviava cerca de 10 carros pipas ao lugar por mês, mas foi suspenso esse mês pelo Exército por falta de verba necessária para sua execução. A interrupção atinge 100 mil potiguares de 50 municípios.

Em Canudos, com a cisterna totalmente vazia, muitas pessoas não têm como cozinhar e já não lavam roupa há muito tempo, tudo isso para economizar a pouca água que sobra em algumas casas para beber e, quando possível, tomar banho. Dona Rosineide Jorge, 32 anos, é uma das moradoras que reduziu o acesso aos banhos, tanto seus quanto dos familiares, para poupar a pouca água que guarda em casa para os filhos e marido.

Banho de caneca

Mesmo com o sol forte de mais de 30; e muito suor no rosto, a assentada afirma que ela e a família só têm direito a um banho de caneca rápido, só de alívio, antes de dormir. "Para não dormir sujo", acrescenta. Ela guarda cerca de 50 litros em casa e já não lava roupas desde a sexta-feira (26), mas ainda conta com "a sorte" de ser uma das poucas moradoras a possuir uma bicicleta para buscar água na comunidade vizinha, onde a cisterna também já está perto do fim.