Jornal Correio Braziliense

Brasil

Homicídios crescem 22% em Natal

Coordenador estadual de Direitos Humanos diz que cidade está em "guerra civil"

Números fornecidos pelo coordenador de Direitos Humanos da Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc), Marcos Dionísio, sobre o crescimento dos homicídios em Natal em 2009, refletem bem a sua opinião de que "a nossa periferia concentra a guerra civil vivida nesta cidade". Segundo ele, no ano passado foram registrados 391 assassinatos pelo Instituto Técnico Científico de Polícia (Itep), contra 319 ocorridos em 2008 na capital potiguar. O aumento é de 22,57%. Desse total, 66% dos crimes contra a vida ocorreram em 10 dos 36 bairros da cidade, todos periféricos. Outro dado alarmante é a juventude das vítimas: 85% dos mortos tinha até 35 anos (27,9% têm de 21 a 25). Chama a atenção ainda a informação de que 92% das vítimas são homens.

Marcos informa que os bairros onde se concentra a maioria das ocorrências são Nossa Senhora da Apresentação, Lagoa Azul, Pajuçara, Igapó e Potengi, na Zona Norte; Felipe Camarão, Quintas, e Planalto, na Zona Oeste; e Mãe Luiza e Alecrim, na Zona Leste. Nesses bairros, juntos, foram registrados 258 homicídios, representando 66% do total. O bairro onde o crescimento da é mais notável é Nossa Senhora da Apresentação, que registrou 40 assassinatos em 2008 e 53 no ano passado.

O coordenador de Direitos Humanos considera esses dados importantes e acha que eles deveriam facilitar o trabalho de prevenção e investigação da polícia, no sentido de combater a violência em Natal. "Há uma ideia equivocada de que a violência está espalhada pela cidade. O que as autoridades deveriam fazer é criar políticas voltadas para essas áreas mais problemáticas e poderíamos ter uma redução considerável".

Para o coordenador, os fatores que contribuem para esse aumento vão além da criminalidade. "A dificuldade de transportes, a falta de boas escolas, áreas de lazer, postos de saúde e a iluminação precária se transformam numa violência silenciosa". Porém, ele não descarta a influência do tráfico de armas e entorpecentes. "O estouro da comercialização do crack tem contribuído para isso, no sentido de que essa é uma droga de grande poder corrosivo aos seres humanos, às famílias, à sociedade".

Ele faz, no entanto, um alerta quanto à generalização da sociedade. "O que é amplamente divulgado pela mídia é a atribuição da causa desses assassinatos ao acerto de contas por causa do tráfico. Hoje em dia, praticamente não se mata mais por vingança, por ciúmes, disputas familiares. Essa generalização, além de não ajudar a esclarecer, encobre outras causas igualmente fortes". Nesse aspecto, ele ressalta a opinião de que "como deve ser difícil para o pai de família sair de casa para ir a uma delegacia, ou mesmo para o trabalho, tendo ouvido falar que seu filho foi morto por ter se envolvido com entorpecentes. Com que cara ele vai ao delegado exigir que o crime seja investigado?".

Armas

O coordenador chama atenção para o fato de que 348 do total de homicídios em Natal foram praticados com arma de fogo. "O armamento que seria para proteger o cidadão, acaba servindo para esse genocídio". Para ele, "o tráfico de armas de fogo é uma chaga mundial. No Brasil, por exemplo, segundo dados da organização não governamental (ONG) Viva Rio, dos 10 containeres que deixam o país com armas, nove retornam ilegalmente e abastecem a criminalidade". O que é ainda mais alarmante para Marcos Dionísio é o fato de que a aquisição dessas armas continua fácil na capital potiguar. "Elas permanecem sendo vendidas em locais que todo mundo sabe onde ficam e acabam nas mãos dos nossos jovens, turbinado pelo consumo do crack".