Jornal Correio Braziliense

Brasil

Saúde muda programa nacional de imunização contra gripe suína

Temporão alega que queda no preço de compra ajudou a colocar a faixa de idade entre 30 e 39 anos na lista de quem receberá as doses entre março e maio

Uma queda de pelo menos 35% no valor da dose levou o Ministério da Saúde a ampliar a faixa da população que receberá a vacina contra o vírus A (H1N1) no Brasil. Além de profissionais da saúde, indígenas, gestantes, crianças de seis meses a dois anos, jovens de 20 a 29 anos e pessoas com doenças crônicas, adultos de 30 a 39 anos serão imunizados contra a gripe suína. Especialistas avaliam a ampliação de forma positiva, destacando, porém, que o ideal seria imunizar 100% dos brasileiros. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, apontou que a disponibilidade do medicamento, hoje encalhado em muitos países da Europa, tornou possível a inclusão de mais pessoas no plano de vacinação, negando que o país tenha tentado receber o produto gratuitamente.

;Não teria sentido pedir doação, nós compramos a vacina porque sobrou mais vacina. Lembro que a primeira compra foi feita em novembro do ano passado, era uma outra realidade. E agora, no mercado internacional, houve disponibilidade a mais, e isso permitiu que nós incorporássemos essa nova faixa de 30 a 39 anos;, afirmou o ministro. Com a mudança, serão necessárias mais 30 milhões de doses do medicamento, totalizando 113 milhões. A compra será realizada com o aporte de R$ 300 milhões, previstos para serem liberados por medida provisória. O preço da dose nas compras anteriores girou entre R$ 11,64 e R$ 13,33, agora foi negociado por R$ 7,65. As vacinas adicionais virão de um laboratório francês, que as repassará ao Instituto Butantan, onde elas serão envasados.

Máscara

Para o presidente da Sociedade Brasiliense de Infectologia do Distrito Federal, Julival Ribeiro, quanto maior a cobertura, melhor. ;Já que não terá para todo mundo, que vacinem o quanto puderem;, afirma. O especialista não tem dúvidas quanto à importância da imunização, mesmo com os riscos inerentes a uma vacinação em massa. ;Ninguém sabe se esse vírus pode mutar, ou seja, se pode se tornar mais agressivo. Entendemos os temores que podem haver em países que já passaram pela vacinação. Porém, essa é o único meio de nos proteger desse vírus;, afirma. Temporão rechaçou qualquer dúvida sobre a eficiência do medicamento. ;Não tivemos nenhum relato de efeitos colaterais nos países que já fizeram as campanhas, é uma vacina segura e eficaz;, afirmou.

O analista de sistemas Felipe Bruno Xavier não tem dúvidas. Depois de conviver com o pai adoentado, que contraiu a gripe suína no ano passado e se curou depois de fazer o tratamento, o rapaz, de 25 anos, vai se vacinar assim que puder. ;Ele ficou sem voz, bem ruim mesmo. Parecia uma gripe forte, só que pior. Lá em casa, ficamos todos de máscara, ele teve de permanecer isolado até ficar bom;, conta Felipe. Sem querer passar pelo mesmo problema de novo, ele ressente-se de o pai, que tem 57 anos, não poder tomar a vacina. ;Não dá para dizer que é errado, deve haver algum sentido nesse critério dos grupos prioritários. Mas ficaríamos mais seguros se todo mundo pudesse receber;, afirma Felipe.

Epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Pedro Tauil aponta como acertada a decisão do Ministério da Saúde de vacinar pessoas de 30 a 39 anos. E não vê motivo para os grupos não contemplados terem medo. ;Vacinando uma grande parte da população você cria uma barreira imunológica forte, chamada de imunidade de rebanho;, destaca. Temporão classificou como desnecessária uma eventual corrida de pessoas a clínicas particulares que passem a comercializar a vacina. ;Quando crio um grupo grande vacinado, faz com que a totalidade se proteja;, diz. Sobre a população que não terá direito a vacina, o ministro voltou a dizer que a definição do público segue parâmetros decididos ;por renomados especialistas;, baseados em diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS). A nova gripe matou 1.705 pessoas no Brasil. Mais de 20 mil casos foram registrados.

Dengue

Temporão afirmou que o Ministério da Saúde tem auxiliado os estados do Acre, Goiás, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul no combate à dengue, mas pediu que a população também faça sua parte, ao lembrar que o clima atual contribui para uma proliferação do Aedes aegypti. ;Este ano fez muito calor, o que encurta pela metade o período de evolução de larva para mosquito. Por isso, pedimos a todo mundo que tome as providências necessárias, não fiquem só esperando que outras pessoas façam alguma coisa;, afirmou o ministro. Hoje, a pasta divulgará o número de casos de dengue no país em 2010.



; Veja que tipo de doença crônica será contemplada pela vacina contra gripe suína

Serão vacinadas as pessoas com os seguintes problemas:
; Obesidade grau 3 - antiga obesidade mórbida (crianças; adolescentes e adultos);
; Doenças respiratórias crônicas desde a infância (exemplos: fibrose cística, displasia broncopulmonar);
; Asmáticos (formas graves);
; Doença pulmonar obstrutiva crônica e outras doenças crônicas com insuficiência respiratória;
; Doença neuromuscular com comprometimento da função respiratória (exemplo: distrofia neuromuscular);
; Imunodeprimidos (exemplos: pacientes em tratamento para aids e câncer ou portadores de doenças que debilitam o sistema imunológico);
; Diabetes mellitus;
; Doença hepática (exemplos: atresia biliar, cirrose, hepatite crônica com alteração da função hepática e/ou terapêutica antiviral);
; Doença renal (exemplo: insuficiência renal crônica, principalmente em pacientes com diálise);
; Doença hematológica (hemoglobinopatias);
; Pacientes menores de 18 anos com terapêutica contínua com salicilatos (exemplos: doença reumática auto-imune, doença de Kawasaki);
; Portadores da Síndrome Clínica de Insuficiência Cardíaca;
; Portadores de cardiopatia estrutural com repercussão clínica e/ou hemodinâmica (exemplos: hipertensão arterial pulmonar, valvulopatias, cardiopatia isquêmica com disfunção ventricular).