Tradicional ponto de apostas de Novo Hamburgo, a lotérica Esquina da Sorte se viu obrigada a fechar as portas, ontem. Dentro da loja, a gerência tentava encontrar explicações para 40 apostadores. Eles tinham em mãos bilhetes com as seis dezenas sorteadas pela Mega-Sena no sábado e esperavam na porta pela sua parcela do prêmio de R$ 53 milhões. A aposta, no entanto, não havia sido feita.
Uma falha humana, um erro de digitação ou um problema no sistema foram as explicações do gerente da lotérica, Ederson da Silva, para a falta da aposta. O jogo pode ter sido feito, mas com outros números, e o comprovante estaria guardado em um cofre de acesso restrito ao proprietário, que não apareceu para prestar esclarecimentos. ;Estão pensando que agimos de má-fé, mas foi uma fatalidade. Não colocaríamos em risco um patrimônio, uma tradição de 20 anos, por R$ 400 de um bolão;, justifica Silva.
O bolão foi organizado pela lotérica. Os 40 apostadores que adquiriram as cotas vendidas a R$ 11 não se conheciam. Advogados, comerciantes e aposentados estão entre os lesados. Depois de se reunirem em frente à lotérica, eles caminharam até a agência da Caixa, para questionar o pagamento. ;Confiamos no prêmio porque ele era da Caixa. Se não pudermos confiar na Caixa, vamos confiar em quem?;, argumenta a professora Sabrina Wildner, 41 anos.
Em nota oficial, a Caixa informou que ;o comprovante emitido pelo terminal de apostas é o único documento que habilita o recebimento de prêmios. A ocorrência será objeto de apuração e, caso se confirme a existência de irregularidade, será aplicada a penalidade prevista nas normas internas, que podem ir de uma simples advertência até a revogação compulsória da permissão;.
O vice-presidente do Sindicato dos Empresário Lotéricos do Estado, Marco Antonio Kalikowski, espera que a confusão não abale a confiança dos apostadores: ;Não existe possibilidade de haver erro no sistema da Caixa, ele é auditado. Não sabemos ainda o que ocorreu, mas espero que não ocorra nenhuma perda de confiança nas lotéricas;, destacou.
Com advogados já contratados, os apostadores prometem buscar o prêmio na Justiça. ;Vamos notificar a Caixa e entrar com liminar para bloquear o valor. Vamos buscar o prêmio e uma reparação moral;, adianta a advogada de 15 dos apostadores, Jos Mari Peixoto. Com pelo menos 13 ocorrências registradas, o delegado da Polícia Civil Clóvis Nei da Silva vai abrir um inquérito para investigar o caso. Diante dos relatos das vítimas ele vê indícios de fraude e de estelionato. O delegado adiantou ainda que vê o banco como uma possível vítima. Neste caso, a Polícia Federal (PF) deverá ser acionada.
"Não colocaríamos em risco um patrimônio, uma tradição de 20 anos, por R$ 400 de um bolão"
Ederson da Silva, gerente da lotérica Esquina da Sorte