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Pesquisa em presídios de Goiás investiga comportamento de abusadores de crianças e adolescentes

Um grupo de especialistas realiza desde 2004 em Goiânia uma série de pesquisas para entender o comportamento de autores de violência sexual contra crianças e adolescentes que estão presos. O projeto Invertendo a Rota, do Centro de Estudos, Pesquisa e Extensão Aldeia Juvenil da Universidade Católica de Goiás, visa a compreender as relações sociais que levaram essas pessoas a cometer crimes de abuso sexual e a construir novas metodologias de atendimento dos agressores. No final do ano passado, o projeto foi premiado pela Financiadora de Estudos de Projetos e Programas (Finep) e contará com R$ 500 mil para novas pesquisas e programas. A intenção das coordenadoras do projeto é aproveitar o financiamento para criar um curso de especialização de assistência psicossocial de autores de violência; desenvolver um estudo sobre adolescentes que sofreram violência; e ainda avaliar o atendimento de vítimas em serviços como o Disque 100. As pesquisas do Invertendo a Roda tiveram início com o Programa de Atendimento ao Autor de Violência Sexual. De acordo com uma das fundadoras do programa, a psicóloga Karen Michel Esber, cerca de 70 casos foram acompanhados. %u201CNós não concordamos com a violência sexual e é exatamente por não concordar que a gente quer intervir e conhecer esse sujeito.%u201D Também envolvida com o projeto, a psicóloga social Maria Luiza Moura Oliveira explica que a intenção é fazer com que cada autor de violência tenha a possibilidade de refletir sobre o que ele fez com a sociedade e o que a sociedade fez com ele. %u201CÉ essa possibilidade que não está dada dentro do sistema carcerário e é essa possibilidade que a gente quer construir%u201D, detalha. A iniciativa das pesquisadoras desafia o senso comum e a visão dos chamados operadores do Direito, geralmente, limitada à punição. %u201CNos processos há transcrições de falas dos promotores dizendo coisas como: 'que esse psicopata apodreça na prisão', mas as pessoas esquecem que ele não vai apodrecer na prisão. Muitos, em menos de dez anos, vão sair e estarão de novo na mesma sociedade, com a mesma família e de novo com crianças. Será que adianta apenas a prisão?%u201D, questiona Karen Michel Esber. %u201CSó a prisão é pouco. Trancafiar a pessoa e daqui a pouco soltar não muda os sentimentos. Ele só não vai reincidir se mudar seu trajeto de vida%u201D, avalia a psicóloga Mônica Café. %u201CA pessoa tem que ser penalizada, mas não precisa ser massacrada. É preciso ouvir quais saídas ela mesma vai apontar para a sociedade%u201D, complementa Maria Luiza Oliveira. Mônica Café acredita que possa haver tratamento que evite a reincidência. %u201CA possibilidade de controle existe: autocontrole, controle externo, psicoterapia, medicamento para ansiedade%u201D, lista. Ela explica que, no atendimento psicoterapêutico, o processo tem o intuito de fazer com que o abusador veja a criança como %u201Csujeito, alguém que sente e tem suas necessidades%u201D. Segundo a especialista, nas situações de abuso, a criança é considerada, pelo agressor, mero objeto de prazer sexual. Segundo as especialistas, abusadores de crianças e adolescentes ocupam o último lugar na hierarquia interna dos presídios. %u201CÉ um crime sem perdão, mesmo dentro do sistema carcerário%u201D, aponta Maria Luiza Oliveira. Ela conta que, dentro dos presídios, os autores de violência sexual são reconhecidos e também abusados sexualmente. Segundo a especialista, os presos usam sinais próprios para identificar os abusadores, como a sobrancelha raspada ou a testa marcada com o número do artigo do Código Penal (213) para os crimes que atentam contra a liberdade sexual. De acordo com a psicóloga, a situação prisional faz com que os autores de violência sexual neguem que tenham cometido o crime. %u201CComeçam a negar para eles próprios. Muitos lutam contra admitir que cometeram esse crime%u201D, relata Maria Luiza.