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Temperaturas elevadas continuam e podem ultrapassar os recordes já registrados neste verão

Um dos principais motivos para a onda de calor que se instalou no país ; e sem data certa para terminar ; tem explicação razoavelmente simples: mudanças atmosféricas, de acordo com os especialistas. Embora fatores como a prática de queimadas e a urbanização intensifiquem a sensação de calor, causas naturais são os principais motivadores do aumento da temperatura em diversas cidades do país. ;A característica do verão é essa: de extremos e temperaturas altas. Mas alguns fenômenos alteram (a temperatura) para mais ou para menos;, afirma o meteorologista Hamilton Carvalho do Instituto Nacional de Meteorologista (Inmet).

Nesta semana, os termômetros em Brasília registraram 30,4;C, a maior temperatura de 2010 na capital federal. No ano passado, na mesma data, a temperatura foi de 29,3;C. A marca histórica em Brasília, segundo o Inmet, é de 35,8;C, em outubro de 2008. O aumento do calor se deve a uma massa de ar quente sobre as regiões Sudeste e Centro-Oeste que bloqueia a chegada de frentes frias originárias do Sul. O fenômeno El Niño ainda agrava a sensação de calor intenso. O fenônemo, caracterizado pelo aumento das águas do Pacífico, aumenta a quantidade de chuvas na Região Sul e diminui na porção norte do país. A mudança de temperatura repercute em diversos setores da economia, desde o consumo de energia até a agricultura nacional.

O consumo de energia atingiu nível recorde na última quinta-feira, de acordo com relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Naquele dia, a demanda instantânea de eletricidade em todo o país chegou a 70,6 megawatts pouco antes das 15h. ;Os recordes ocorreram devido à elevação da temperatura no país, que atingiu 36;C no Sudeste, 35;C no Sul, 34;C no Norte e 32;C no Nordeste;, diz o documento. Em janeiro, a demanda por energia cresceu 12,1%, se comparada ao mesmo período de 2009.

Na agricultura, o excesso de chuvas e as altas temperaturas podem trazer prejuízos a certas plantações. ;O calor intenso é prejudicial às hortaliças e as folhas perdem qualidade. O sol, de certa forma, queima as culturas mais sensíveis;, explica Ana Ávila, diretora do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) e professora da Unicamp. Se, por um lado, o calor excessivo aumenta a incidência de pragas e doenças na plantação, por outro, o aumento da incidência pluviométrica atrasa a colheita.

;A atmosfera é muito dinâmica, muda bastante e nós já estamos numa região muito quente, tropical. Aqui não chegam massas muito frias;, resume a diretora. E diversas cidades brasileiras sentiram essa realidade. No Rio de Janeiro, os termômetros registraram picos de 45;C, com sensação térmica superior aos 50;C. Na quinta-feira, a temperatura foi a maior registrada na capital fluminense desde 2003. Os gaúchos também passaram por calor semelhante: em Porto Alegre, verificou-se a temperatura de 40;C. Em Curitiba, os termômetros marcaram 33,1;C, maior pico desde 1975, e pelo menos 37 mil residências sofreram com a queda de energia.


Bola fora na Região Sul
O calor intenso no Sul provocou uma reação do Sindicato dos Atletas Profissionais do Rio Grande do Sul. A associação entrou com uma liminar na Justiça do Trabalho para impedir a realização de jogos do Campeonato Gaúcho entre 10h e 18h em dias de forte calor. O advogado do sindicato, Décio Neuhaus, defende a realização de jogos à noite.

Na última quarta-feira, durante uma partida do Grêmio, o ex-jogador e comentarista do SporTV Batista desmaiou numa das cabines de televisão. Dentro do campo, jogadores também protestavam. O Internacional também foi vítima do calor intenso. Em jogo recente, o coordenador de preparação física do time, Fabio Mahseredjian, afirmou que o desgaste dos atletas é muito maior com as temperaturas elevadas.