[SAIBAMAIS]A Polícia Civil sabia desde novembro que um maníaco havia estuprado e estrangulado pelo menos duas mulheres no Bairro Industrial, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Naquele mês, o Instituto de Criminalística havia concluído que amostras de esperma encontradas no corpo de uma jovem de 27 anos, atacada em abril, e no de uma empresária de 48, assassinada em setembro, eram do mesmo criminoso. Há uma semana, outro exame comprovou que uma contadora de 35 anos, morta em novembro, foi mais uma vítima do serial killer. A Divisão de Crimes contra a Vida (DCcV) apura outro caso semelhante, ocorrido em janeiro de 2009, assim como o desaparecimento de uma estudante, registrado em outubro. Os investigadores já têm suspeitos. Segundo uma fonte policial, as pistas apontam que o criminoso é um rapaz de classe média, que esbanja boa aparência, prefere mulheres magras, de cabelos longos, e as aborda com a desculpa de pedir informações.
Os órgãos de defesa mantiveram sigilo sobre os assassinatos em série até ontem, quando o Estado de Minas publicou com exclusividade as informações sobre a ação do assassino em série %u2013 que comprovadamente matou três mulheres %u2013, a fim de alertar a população da Grande BH. A cúpula da Polícia Civil convocou a imprensa para justificar que não divulgou os fatos, entre outros motivos, para evitar eventual pânico. Porém, depois de confirmar a situação, os quatro delegados escalados para dar informações sobre o caso pediram apoio da comunidade para desvendar a identidade do criminoso: qualquer pista sobre o serial killer pode ser informada pelo Disque-denúncia (número 181).
%u201CComo a ação do crime de estupro é de iniciativa privada, pode ser que alguma mulher que tenha escapado do marginal não tenha nos procurado%u201D, disse o chefe da Polícia Civil, delegado Marco Antônio Monteiro. Ao seu lado, o delegado Wagner Pinto, chefe da DCcV, reforçou que a corporação tem alguns suspeitos, mas não revelou qualquer detalhe. Porém, uma segunda vertente de investigação, segundo um agente ligado à cúpula da Civil, considera a hipótese de os assassinatos terem sido praticados por um detento que cumpre pena no regime semiaberto, no qual o condenado passa o dia fora da cela para trabalhar e retorna no início da noite.
A DCcV já desvendou alguns detalhes sobre o modo de agir do assassino. De acordo com as investigações, ele escolhe mulheres que dirigem carros desacompanhadas, o que pode ser um indício de que atua em semáforos ou na porta das garagens de seus alvos. Após a abordagem, o criminoso obriga a vítima a guiar até um local ermo. Depois de violentar a mulher, ele a estrangula. A primeira a ser comprovadamente atacada pelo maníaco, Ana Carolina Assunção, morta em 16 de abril, quando tinha 27 anos, foi enforcada com o cadarço do próprio tênis. Para tirar a vida de Maria Helena Lopes Aguilar, assassinada em 17 de setembro, aos 48 anos, o maníaco usou o cinto de segurança do veículo. Já Edna Cordeiro de Oliveira Freitas, cujo corpo foi localizado em 11 de novembro, foi estrangulada com o colar que usava.
Outro detalhe importante é que o assassino em série levou apenas os telefones celulares das vítimas, desprezando cartões de crédito, dinheiro e outros bens. Outro crime com características semelhantes aos das três vítimas pode ser atribuído ao maníaco. Trata-se da morte da comerciante Adina Feitor Porto, de 34, que desapareceu, em 27 de janeiro, depois de sair de casa sozinha, em seu carro. Ela morava no Bairro Lindeia, no Barreiro, região próxima ao Bairro Industrial. O veículo foi localizado na Via-Expressa, na altura do Bairro Camargos, na Região Noroeste, perto dos bairros João Pinheiro e Califórnia, onde foram encontrados os corpos de Ana Carolina e Maria Helena, respectivamente.
O corpo de Adina foi localizado, uma semana depois do sumiço, numa estrada de terra em Sarzedo, na Região Metropolitana de BH. Peritos do Instituto de Criminalística não conseguiram coletar amostras de material genético do agressor, porque, de acordo com o delegado Edson Moreira, chefe do Departamento de Investigação (DI) e um dos policiais escalados para dar informações sobre o caso, o corpo foi encontrado em adiantado estado de decomposição. %u201CNão houve como fazer o exame de DNA%u201D, disse. A polícia ainda investiga um quinto caso: da estudante de direito Natália Cristina de Almeida Paiva, de 27, desaparecida desde outubro, quando saiu de casa, no Barreiro, para ir à faculdade, que fica em Betim.
UFMG Os carros de Ana Carolina, Maria Helena e Adina foram localizados na Região Noroeste de Belo Horizonte, onde 12 assassinatos contra mulheres foram registrados entre 1999 e 2001. Alguns dos corpos foram encontrados nas proximidades do câmpus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais, mas, para o delegado Wagner Pinto, está descartado vínculo com o serial killer do Bairro Industrial.
Análise da notícia
Faz parte da estratégia policial preservar certas informações sobre crimes, a fim de não prejudicar as investigações. Isso ajuda os investigadores a cumprir sua função. Por outro lado, também faz parte da obrigação dos órgãos de defesa, assim como da imprensa, advertir os cidadãos para que possam se prevenir e evitar os riscos representados pela ação de um maníaco. Foi o que pautou a decisão do Estado de Minas, ao divulgar os resultados de exames que apontavam o mesmo homem como o assassino de pelo menos três mulheres em um período de poucos meses, na Grande BH. A matéria certamente cumpirá a função de alertar a população e exigirá uma resposta mais rápida dos órgãos policiais. Afinal, como deixou claro o próprio chefe da Polícia Civil, Marco Antônio Monteiro, a divulgação pode levar mais vítimas a se manifestar, o que ajudará na apuração e pode levar à prisão do criminoso. (PHL)