A principal preocupação dos jovens de hoje em relação ao futuro é de como
será o mercado de trabalho. Eles acreditam que, se hoje a competição já é grande, daqui a
alguns anos a briga por uma vaga será ainda mais acirrada. As pessoas terão que se destacar
mais e ter uma especialização no setor em que pretendem trabalhar. Outro ponto que também
vem assustando a juventude brasileira é a violência, que cresce cada vez mais. Mas, de
acordo com uma publicação divulgada esta semana, a realidade dos jovens pode ser diferente
nos próximos 20 anos. Os dados foram levantados pelo Fundo de População das Nações Unidas,
pela Secretaria Nacional de Juventude, pela Universidade de Brasília e pela Caixa Seguros.
Diante da realidade atual, o estudante de administração Bruno da Cruz Portes,
20 anos, nem pensa em ter filhos, pois teme o futuro deles. Atualmente, ele trabalha em um
laboratório de análises, mas garante que entre seu grupo de amigos, é um dos poucos que está
empregado.
;O mercado está muito competitivo. Se hoje eu já vejo muita gente
correndo atrás e tendo dificuldade de entrar no mercado de trabalho, fico imaginando como
vai ser daqui a alguns anos;, disse. ;Fico preocupado também com a violência no país. Na
última sexta-feira eu fui vítima de um assalto. Não vou colocar filho no mundo para ficar
preocupado com essas coisas;, completa Bruno.
A estudante Ana Carolina Souza,
16 anos, sentiu na pele a dificuldade de entrar no mercado de trabalho. Para ajudar em casa,
há mais de seis meses ela vinha procurando emprego e só nesta semana recebeu a notícia de
que uma lanchonete a contrataria. O aviso deixou Ana feliz, mas a demora em chegar fez com
que ela ficasse desanimada em relação ao futuro. ;Para demorar assim só tem duas
explicações: ou tem muita gente querendo ou falta vaga para todo mundo. Acredito que a
tendência desse problema é crescer;, destaca.
Futuro diferente
O livro A juventude brasileira no contexto atual e em cenário futuro afirma que
até 2030 os jovens terão menor participação no mercado de trabalho, maior escolaridade,
porém pouco avanço na redução da mortalidade causada por fatores externos, como violência e
acidentes.
Segundo a representante do Fundo de População das Nações Unidas
(Unfpa), Taís Freitas Santos, o país está passando por uma mudança em termos demográficos.
E, como destacou, a população brasileira, a exemplo de populações desenvolvidas e em
desenvolvimento, está vivenciando um declínio de fecundidade. ;Esse processo nos outros
países levou cerca de 100 anos e no Brasil acontece em 30 anos. Isso implica em cada vez
menos jovem e em uma tendência de envelhecimento da população;, afirma.
Essa
redução resulta, como explicou, em relação ao mercado de trabalho, em um contínuo
crescimento da população em idade ativa, que vai de 10 a 59 anos, passando de 53 milhões de
pessoas em 2006 para 56,6 milhões em 2030. Mas a demanda de jovens entre 15 e 24 anos nesse
universo cairá de 21,5% para 14,3%, reduzindo assim a pressão por abertura de novas vagas.
Hoje são necessárias mais de 1 milhão de vagas para absorver as pessoas que buscam o
primeiro emprego.
Ela ressalta ainda que no futuro há uma expectativa maior de
igualdade de gêneros no mercado de trabalho, decorrente do atual índice de escolaridade das
mulheres, que tem crescido bastante. ;Hoje, as mulheres têm um nível de escolaridade maior
que os homens, mas têm empregos piores. E, quando o posto ocupado é o mesmo, o salário é
menor;, afirma.
Apesar desses pontos positivos, a mortalidade de faixa da
população por causas externas, que hoje já é grande, pode aumentar ainda mais. ;Se nada for
feito, a tendência é aumentar cada vez mais. É preciso realizar investimentos, como criar
empregos para dissolver essa população, para que esse fator diminua;, completa.
A redução por estado
Percentual de redução de jovens entre 2006 e 2020
Manaus - 16,8%
Belém - 15%
Teresina -
25,3%
Fortaleza - 11,4%
Recife - 12,4%
Salvador - 21,5%
Belo Horizonte - 13,4%
Rio
de Janeiro - 6,7%
São Paulo - 9,3%
Curitiba -
16,8%
Porto Alegre - 10,6%
Goiânia - 31,2%
Brasília - 30%
Fonte: juventude
brasileira no contexto atual e em cenário futuro
Menos analfabetos
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O estudo
mostra ainda que o número de
analfabetos entre 15 e 24
anos poderá cair entre 28% e
83,5% até 2030, resultando
em uma taxa de analfabetismo
quase nula. Em relação à
saúde, a análise indica que
são necesárias políticas
públicas especificas e
contínuas. Pois, se por um
lado possuem um maior acesso
ao sistema de saúde, por
outro, encontram-se mais
vulneráveis e expostos à
gravidez precoce e à
infecção pelo HIV/Aids.Para
Taís, o livro traz duas
vantagens: tratar a
juventude além do cenário
atual e fornecer termos para
o futuro e não trabalhar
apenas em um agregado, mas
chegar no nível de regiões
metropolitanas, com dados
das nove maiores regiões e
de quatro capitais:
Brasília, Goiânia, Manaus e
Teresina.
;Outro grande problema
que a gente vê é que as
políticas são elaboradas
apenas em determinado
governo, e o nosso grande
desafio é transformá-las em
políticas de estado, pois
assim você tem um
comprometimento maior.
Quando é de governo, no
momento em que ele termina,
o compromisso muda;, explica
Taís.
A
publicação projeta uma
redução de 18,3% do total de
jovens na população
brasileira até 2030. Essa
queda deverá ser mais
expressiva nas regiões
metropolitanas de Brasília e
Goiânia.