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Após quase 40 dias de chuva ininterrupta em São Paulo, cresce o número de mortos

São Paulo - São Pedro não deu trégua para os paulistanos. Há 38 dias chove na Grande São Paulo e os efeitos, como desabamentos e enchentes, já mataram 69 pessoas. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), com as pancadas de ontem, o mês de janeiro já é apontado como o período mais chuvoso desde que o órgão começou a fazer a medição pluviométrica, em 1940. Ontem, uma família inteira foi velada na capela do Cemitério Municipal de Francisco Morato, na Grande São Paulo. Pai, mãe e a filha de 15 anos assistiam à televisão quando um morro cedeu e cobriu a casa inteira, na noite de quinta-feira. O sepultamento será hoje. Ontem, os vizinhos da família estavam apreensivos porque a Defesa Civil previu novos deslizamentos. "Temos que sair, mas aqui ninguém tem para onde ir. A minha casa está em área de risco. Nem sei se posso entrar", afirmou a cabeleireira Shirley Cunha. Na madrugada de ontem, os bombeiros encontraram o corpo de outra vítima da chuva em São Paulo: um adolescente de 11 anos que caiu em um bueiro e foi arrastado pela correnteza na Zona Sul. A família da vítima estava tão abalada que o reconhecimento do corpo teve de ser feito por uma vizinha. No fim da tarde de ontem, a Defesa Civil de São Paulo listou 13 regiões da capital paulista em estado de alerta para deslizamento de terra e outras duas em alerta para enchentes. Outras 11 regiões no interior ficaram em estado de atenção para deslizamentos. O geólogo Cândido Ferreira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explicou que o maior problema que as chuvas causam em São Paulo não é responsabilidade apenas da natureza. Ele explica que a cidade foi construída sobre três rios planos que, se estivessem ativos, serviriam como escoadouro. "Os leitos dos rios Pinheiros e Tietê foram aterrados para a construção das marginais. Hoje, a fúria da natureza se volta contra erros do passado cometidos pelos administradores públicos", acusa. Ferreira explica ainda que o solo de São Paulo é praticamente todo acidentado, o que dificulta a absorção da água. "Claro que o problema da cidade ter crescido sobre rios também conta. A Avenida 9 de Julho, por exemplo, foi construída sobre um rio importante", completa o meteorologista Renato Kalif, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Recorde Os meteorologistas dizem que as chuvas bateram recordes no mês de janeiro porque as águas do Oceano Pacífico aqueceram além do previsto, empurrando para cima do estado paulistano uma frente fria que estacionou no ar. Até a noite de ontem, faltava chover apenas 7 milímetros para que o recorde registrado em 1947 fosse batido. O registro acumulado em janeiro, até a manhã de ontem, era de 474,6 milímetros. A previsão para hoje e amanhã é de mais temporais. Se a estimativa se concretizar, no domingo serão completados 40 dias de chuvas diárias. "Não é justo que esse aguaceiro castigue só os mais pobres. Minha casa está alagada desde o Natal. Já perdi todos os eletrodomésticos. Ontem, por ironia, recebi o IPTU da prefeitura com reajustes de 20%", queixa-se a dona de casa Marieta Lisboa, 38 anos, moradora do Jardim Pantanal, Zona Leste da capital. A Prefeitura de São Paulo divulgou nota esclarecendo que as residências atingidas por enchentes estão isentas do imposto desde que os contribuintes informem à Secretaria de Administração o endereço e solicitem o benefício.