Jornal Correio Braziliense

Brasil

Proibida na Europa e sob restrição nos EUA, a sibutramina, usada para emagrecer, divide a opinião de médicos e pacientes no Brasil

Uma das substâncias para emagrecer mais vendidas no mundo foi proibida esta semana pela Agência Europeia de Medicamentos. A sibutramina, famosa entre brasileiros e americanos, não poderá mais ser vendida e nem recomendada por médicos na Europa, pois, de acordo com o órgão, ;os riscos que este medicamento provoca são bem maiores do que seus benefícios;, aumentando assim as chances do paciente de sofrer derrame e infarto, segundo relata a agência. A medicação é vendida com os nomes Reductil, Reduxade, Zelium e Meridia. Para tomar a providência, a agência se baseou em dados do Estudo Scout, que avaliou 10 mil pacientes durante seis anos e apontou risco de problema cardiovascular maior entre os que usavam o remédio. Nos Estados Unidos, a venda de medicamentos com a substância é restrita desde dezembro. Um trabalho realizado pela Agência de Alimentos e Medicamentos americana (FDA, de Food and Drug Administration) também observou que a droga aumenta o risco de infartos e derrames em pessoas que têm problemas cardíacos. De acordo com o estudo, 11,4% dos consumidores da sibutramina morreram ou sofreram paradas cardíacas. Mesmo com esses dois exemplos, no Brasil a droga ainda é vendida e, em alguns casos, defendida pelos médicos. Segundo o relatório da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife), o país continua sendo o que mais consome remédios para emagrecer, seguido da Argentina e dos Estados Unidos. O presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Ricardo Meirelles, alega que as 10 mil pessoas do estudo da Scout eram portadoras de doença cardiovascular e, por isso, não são elegíveis para a prescrição da substância. ;A sibutramina, como a própria bula estabelece, não deve ser prescrita para pacientes com doença cardiovascular. Na realidade, a análise final dos resultados ainda não foi publicada e os resultados são preliminares, mostrando que, em pacientes com distúrbios cardiovasculares, os riscos parecem superar os possíveis benefícios do uso da sibutramina;, explica. Como destacou, o medicamento já é comercializado há mais de 10 anos e não há, até o momento, evidências de que sua prescrição criteriosa, apenas para pacientes sem contraindicações formais para o seu uso, ocasione aumento de eventos cardiovasculares. ;Como a obesidade é um dos maiores problemas de saúde pública dos dias atuais, é necessário lançar mão de todos os recursos terapêuticos seguros e consagrados por pesquisas científicas, com o objetivo de combatê-la;, argumenta Meirelles. Para a endocrinologista Elisiane Brandão Leite, a suspensão da substância foi uma surpresa, pois é rotina dos médicos da área recomendarem o tratamento de redução de peso com o remédio. ;Então, é um medicamento confiável, mas, claro, tem que ser administrado e acompanhado pelo médico. O paciente tem que voltar após a primeira consulta e utilizá-lo por um período específico;, alerta. Segundo a especialista, a quantidade não deve passar de 20mg por dia e a medicação não deve ser utilizada por mais de dois anos. Mas a endocrinologista não nega que pode haver, sim, efeitos colaterais. ;O paciente pode sentir um aumento na frequência cardíaca e uma redução do ritmo intestinal;, completa. <--
--> Caso a caso Veja em quais casos o Consenso Latino-Americano de Obesidade acredita ser possível o uso de medicamentos para emagrecer:
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  • Em pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou superior a 30kg/m;
  • Em pacientes com IMC igual ou superior a 25 kg/m;, acompanhado de outros fatores de risco, como a hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, hiperlipidemia etc.
  • Quando não alcançados os objetivos com planos alimentares e estímulo a atividades físicas

  • Batimentos nas alturas




    Para a paciente Luísa de Carvalho, que há seis meses toma o remédio para emagrecer, a sibutramina tem ajudado a controlar, principalmente, as crises de ansiedade que a faziam comer muito. Ela conta que, com o esforço diário de controlar a alimentação e frequentar academia, já conseguiu reduzir 5kg. ;É um trabalho em conjunto. Só o remédio, eu acho que não faz tanto efeito;, pondera. Ela acredita ainda que o remédio não é tão forte a ponto de ter que ser proibido no Brasil. ;Nestes seis meses, eu não tive qualquer efeito colateral.; A opinião de Gabriel Assis não é a mesma. Ele diz que, também com acompanhamento, tomou o remédio por um mês para ajudar na meta que ele tinha, de perder 20kg. Nele, o remédio foi utilizado para perder apenas 3kg, mas o suficiente para que sentisse uma série de sintomas. ;Além da total falta de fome, meus batimentos cardíacos ficaram acelerados, eu fiquei muito irritado, mais elétrico e com dificuldade para dormir;, conta. Para Gabriel, se já foi diagnosticado que o remédio realmente faz mal, ele deve ser suspenso. ;Por todas essas consequências que ele traz, eu acho que é agressivo, sim. Eu tomei por pouco tempo e já tive todos esses sintomas. Fico imaginando quem toma por um tempo prolongado.; (LS)