Quatorze pessoas morreram em Minas desde 25 de outubro em acidentes provocados pelas chuvas, segundo balanço da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Comdec), mas a família do pedreiro Tarcísio Martins de Almeida, de 36 anos, vive o drama de não poder sepultar o corpo. Em 1; de novembro, ele voltava de uma festa durante uma tempestade e sua Caravan foi arrastada pelas águas de um córrego do Bairro Jaqueline, na Região Norte de Belo Horizonte. O corpo foi localizado quatro dias depois pelo Corpo de Bombeiros, no Rio das Velhas, em Sabará, na Grande BH. Dois meses depois, o Instituto Médico Legal (IML) ainda não concluiu o exame de DNA para comprovar que se trata realmente do pedreiro.
A mulher dele, a auxiliar de serviços gerais Aina dos Anjos Martins, de 27, disse que está sendo difícil conviver com o luto sem um corpo para velar. Ela, uma irmã e um sobrinho de Tarcísio reconheceram a blusa azul de mangas compridas e listras brancas que ele usava quando foi levado pelo córrego, mas, para a Polícia Civil, esse detalhe é insuficiente para liberação do corpo, que continua no IML. Para a a Defesa Civil, Tarcísio ainda é tido como desaparecido. ;É muito difícil saber que o meu marido está morto e não fazer um velório e um enterro para ele. Meus filhos, de 9 e 12 anos vivem chorando o tempo todo, querendo o papai deles de volta, e ficam me perguntando porque o caixão vai ter de ser lacrado. Se a gente conseguisse fazer o enterro, iríamos encerrar uma etapa desse sofrimento e tentar recomeçar a vida;, disse Aina.
Tarcísio morreu quando voltava de uma festa num sítio. O carro dele parou de funcionar numa ladeira. Na hora, chovia torrencialmente e a enxurrada empurrou o veículo para o córrego. Um irmão do pedreiro, que estava numa moto, conseguiu retirá-lo da água, mas Tarcísio voltou para apanhar objetos pessoais no veículo e o nível da água subiu rapidamente. Ele e a Caravan foram arrastados pela correnteza. O carro foi parar a 400 metros de distância, mas o pedreiro desapareceu. A Polícia Civil informou que o IML colheu amostras genéticas de parentes, mas não há previsão de conclusão do exame de DNA.
Balanço
Segundo a Defesa Civil, além das 14 mortes, 51 mineiros ficaram feridos durante o período chuvoso. No estado, houve 8.887 desalojados, 1.043 desabrigados e uma pessoa é considerada desaparecida ; o próprio pedreiro Tarcísio de Almeida. As chuvas danificaram 4.219 casas e destruíram 153, derrubaram 69 pontes e danificaram outras 122. Das 14 mortes registradas, cinco foram em Juiz de Fora, Zona da Mata. Em 13 de novembro, duas pessoas morreram. No dia 1;, mais três perderam a vida no soterramento de uma casa. Morreram Ruth Gonçalves de Oliveira, de 67, Gelito Sabatinelli Andrade, de 78, e Cecília Galo de Andrade, de 75.