A influenza A (H1N1), que já matou 1.632 pessoas no Brasil, registrou, entre 22 e 28 de novembro, apenas sete casos, de acordo com os dados mais recentes do Ministério da Saúde. Claramente em baixa no país, os infectologistas daqui alertam para o risco de quem tem como destino nessas férias os países do Hemisfério Norte - na Europa e na América -, onde o inverno é intenso.
Segundo a última atualização da Organização Mundial da Saúde (OMS), até 29 de novembro deste ano, um total de 207 países e territórios notificaram casos confirmados de influenza H1N1, incluindo pelo menos 8.768 óbitos. Desse total, 918 mortes foram contabilizadas, durante a semana entre 22 e 28 de novembro, na Europa. Em toda a América foram registrados 5.878 óbitos.
Diante de números nada animadores, médicos infectologistas explicam que a melhor solução seria não viajar para esses países, mas como a recomendação quase nunca é seguida pela população, o médico Julival Ribeiro arrisca que a melhor saída para evitar a doença: fugir de aglomerações. "Sabemos que a procura por esses países é muito grande e que, por causa do inverno, a tendência é que as pessoas fiquem mais juntas e em lugares fechados. Mas, assim, o risco de contrair é ainda maior", ressalta Julival.
Para ele, o único cuidado que teria realmente resultado, seria a vacina contra o vírus. "Nos Estados Unidos, por exemplo, eles já estão vacinando os grupos prioritários, que são os gestantes e as crianças. No Brasil, infelizmente, a vacina ainda não existe. Então, é preciso ter sempre cuidado e limpar as mãos, de preferência com álcool em gel de 70%", completa Julival.
O médico Pedro Luiz Tauil concorda com as dicas de Julival e afirma que a prevenção é muito difícil. "Todas as doenças de transmissão aérea são difíceis de serem prevenidas, pois a pessoa se expõe com frequência. E nós sabemos que é difícil evitar, em viagens para a Europa e para os Estados Unidos, o metrô e o ônibus, onde as pessoas tossem, falam e soltam pequenas gotículas de salivas. Por isso, é preciso manter as mãos sempre lavadas, pois a gente sempre as leva até a boca sem perceber e sem saber se tocou em locais com o vírus."
Para ele, o diagnóstico e tratamento precoce também são fundamentais. Se a pessoa sentir sintomas da gripe, como dores no corpo e tosse, precisa procurar imediatamente um posto de saúde. "Vale lembrar ainda que o seguro de saúde é indispensável, pois as despesas com médicos e hospitais estrangeiros são sempre muito caras", completa Tauil.
De acordo com o Ministério da Saúde, a partir de janeiro a vacinação já será realizada com o objetivo de proteger os grupos mais vulneráveis e de maior risco para desenvolver forma grave ou evoluir para óbito. Essa é uma estratégia mundial recomendada pelos comitês técnicos da OMS e da Organização Pan-americana da Saúde (Opas). Os grupos prioritários para vacinação serão profissionais de saúde, gestantes (leia Tira-Dúvidas abaixo), pessoas com doenças crônicas preexistentes, população indígena e aqueles com menos de 2 anos de idade.
Tira-dúvidas
Das 1.632 pessoas que perderam a vida em decorrência de complicações da influenza A (H1N1) no Brasil, 28,5% (ou seja, 156) estavam grávidas. Diante desses números, que colocam as gestantes dentro do grupo de risco para a enfermidade, o médico especialista em infectologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) José David Urbaez responde algumas dúvidas desse público.
Grávidas podem tomar o Tamiflu?
Sim. Podem e devem tomar o oseltamivir. A vacina para influenza
A não existe ainda. Se for uma vacina inativada, poderá ser administrada à mulher gestante.
Qual o grau de periculosidade do vírus?
Não é um adjetivo adequado a palavra "periculosidade". É um vírus que, nas pessoas com fatores de risco e naqueles que não são atendidos em tempo, pode evoluir com morte do paciente, daí a importância do seu adequado encaminhamento.
A gripe pode prejudicar o bebê?
Têm-se poucos dados sobre o que acontece com recém-nascidos. Por serem menores de dois anos, é importante sua monitorização estreita.
Estou com medo de ir ao hospital para fazer o pré-natal. Como prevenir?
Pré-natal faz-se preferencialmente em postos de saúde. É mais importante saber os dados do pré-natal do que os riscos de adquirir a infecção nesses locais, portanto deve-se estimular o pré-natal.
Ao andar na rua, devo usar máscara?
Na rua, o uso de máscara não tem nenhum efeito protetor.
Posso andar de ônibus normalmente?
As pessoas precisam se deslocar. Quem tiver sintomas respiratórios deve bloquear a boca com lenços ou toalhas de papel se tossir ou espirrar. O restante das pessoas deve higienizar as mãos.
Por que as grávidas são mais sensíveis?
Há várias doenças infecciosas em que as grávidas têm mais risco de evoluir para casos graves, além da influenza. A malária, por exemplo. Isso porque a gestação leva a profundas mudanças da resposta imunológica para adaptar o corpo da mulher a um ser vivo estranho, o feto, de tal maneira de que não exista rejeição imunológica.