Na semana passada, a Corte Superior ratificou o resultado do julgamento ; 5 a 4 a favor da extradição ; e a posição de que cabe ao presidente Lula entregá-lo ao governo italiano. Pelo novo texto, o governo brasileiro deve seguir a decisão do STF com base em um tratado de extradição assinado entre Brasil e Itália. Os ministros, no entanto, retiraram um trecho que abordava o poder ;discricionário; do presidente, que é o ato de vontade absoluta permitindo a ele até desrespeitar o tratado. A retificação foi motivada por um questionamento do governo italiano. ;Preciso analisar os autos. Só me pronuncio nos autos;, declarou o presidente. Não há prazo para a decisão de Lula.
Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália por quatro assassinatos ocorridos entre 1977 e 1979. O governo italiano pediu a extradição de Battisti depois que ele foi preso no Brasil em março de 2007 (Leia mais no texto ao lado).
Sem comentar se irá manter o italiano no Brasil, Lula disse que não deu palpites durante a análise do caso pelo STF e que, agora, a decisão é dele. ;Quando a bola chegar para mim, eu decido se chuto de três dedos, de dois dedos, eu vou saber chutá-la;, concluiu, usando as referências futebolísticas características do seu mandato. Mesmo sem ter marcado sua posição sobre o caso, o Palácio do Planalto deu demonstrações favoráveis à permanência do italiano. Motivos não faltam: o país tem tradição em conceder refúgios políticos. Desde 1998, foram 4.153 atos concedidos pelo Ministério da Justiça ; que usa, inclusive, esses títulos como argumento para que Battisti não seja extraditado. O governo brasileiro também questiona o fato de a Itália não ter pressionado a França a entregá-lo nos anos em que ele viveu refugiado naquele país. Além disso, Battisti responde a um processo no Brasil em que é acusado de falsificar documentos.
Independência
Mas a decisão de extraditar ou não Battisti não encontra consenso nem mesmo no próprio governo. O vice-presidente José Alencar, que considera o caso ;delicado;, é favorável à extradição de Battisti e ao cumprimento da decisão do Supremo. ;Sou a favor do princípio da não intervenção e da autodeterminação dos povos;, disse, ao Correio, reforçando que, se a Itália não fosse um país democrático, discricionário e que contrariasse os direitos do cidadão, teria outra posição. ;É válida a decisão desse país com relação a uma condenação que nós não conhecemos e isso não é lhe retirar direito de defesa. O direito de defesa dele está lá e não aqui;, concluiu, lembrando que já se posicionou sobre o caso para o presidente Lula, mas que cabe a ele a palavra final, que só deve sair no próximo ano.
É válida a decisão desse país com relação a uma condenação que nós não conhecemos. O direito de defesa dele está lá e não aqui;
José Alencar, vice-presidente da República
José Alencar, vice-presidente da República
Memória
História de idas e vindas
Cesare Battisti, de 54 anos, colocou Brasil e Itália em lados opostos. Condenado à prisão perpétua no país de origem, o líder de uma organização extremista batizada de Proletários Armados pelo Comunismo (PAC) foi considerado refugiado político em janeiro. Ele nega a autoria dos crimes e afirma ser vítima de perseguição política. Desde que chegou ao país, Battisti já escreveu três livros para contar sua história.
O Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), órgão subordinado ao Ministério da Justiça, analisou o pedido de refúgio e decidiu negá-lo por 3 votos a 2, sob o argumento de que não é possível comprovar a alegada perseguição política. A decisão do Conare, no entanto, foi revertida pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, que em 13 de janeiro de 2009 concedeu o refúgio por entender que o italiano passa por ;fundado temor de perseguição por suas opiniões políticas;. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou a decisão e chegou a rebater críticas do governo italiano dizendo que a decisão foi ;um ato de soberania; do Brasil.
O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF). Os ministros decidiram que o presidente tem autonomia para deliberar em última instância sobre a extradição, apesar de ter determinado o retorno dele por entender que Battisti cometeu crimes hediondos, e não políticos. (AR)