Todas as ilhas do litoral paranaense estão em áreas de unidades de conservação (UCs) federais, estaduais e privadas, o que pode ser positivo para a humanidade, mas para as populações locais, muitas vezes, representa pesado ônus. Isso porque, segundo o professor Willian Simões, da coordenação do Programa Educação do Campo, da Secretaria Estadual de Educação, as atividades para a sobrevivência dessas comunidades de ilhéus e ribeirinhos são frequentemente responsabilizadas pela degradação da natureza.
Na avaliação do educador, áreas de preservação ambiental costumam ser tratadas como santuários ecológicos, enquanto o ser humano que vive ali há centenas de anos não é levado em consideração. No entanto, de acordo com ele, são esses pescadores artesanais, além dos que trabalham descascando camarão e mariscos, na retirada de caranguejos, as benzedeiras, os artesãos e pequenos comerciantes os primeiros a preservar e cuidar da terra em que vivem.
Uma das reservas do litoral paranaense é a Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba, criada para proteger ambientes representativos da Floresta Atlântica. A região é considerada um dos últimos e mais significativos remanescentes desse bioma e dos ecossistemas associados, englobando a Serra do Mar, a planície litorânea, as ilhas e extensos manguezais. Nas escolas locais, as riquezas dessas áreas são aproveitadas como recursos didáticos pelos professores. Willian Simões disse que a orientação pedagógica é de que se faça uma ponte entre a realidade local e os conhecimentos globais, para que o aluno possa conhecer o mundo, mas fortalecido em sua identidade. ;Aliás, esse deveria ser o papel de toda escola;, lembra.
Os alunos são incentivados desde pequenos a criar vínculos com o local em que vivem. O professor Ezequias França, nativo da Ilha Rasa, é um exemplo desse comprometimento. Deixou a região por algum tempo para completar os estudos e hoje, ensina história e matemática para alunos da 5; à 8; série. ;É a realização de um sonho. Sou professor na escola em que aprendi a ler;, conta, orgulhoso.
França também aproveita a realidade local para transmitir os conteúdos das matérias que leciona aos alunos. Conceitos de profundidade, formas geométricas, fatos históricos e até regra de três são ensinados por meio de exemplos retirados do cotidiano dos moradores das ilhas. Ele cita um exemplo: ;se 20 quilos de camarão são vendidos por R$ 200,00, por quanto se deve vender 30 quilos?;
O diretor da escola da Ilha Rasa, professor Oromar Cordeiro, também é nativo da região e filho de pescadores. Ele diz que a realidade das ilhas é desafiadora e que, para ensinar, é preciso saber dialogar com os diferentes tipos locais. ;Estar familiarizado e conhecer suas necessidades, respeitá-las. E nada melhor do que um filho da terra para dar continuidade a essa proposta;, opina.
Uma nova proposta pedagógica está sendo elaborada pela secretaria, seguindo as diretrizes do Plano Nacional de Educação do MEC. O chefe do Departamento de Diversidade da secretaria, Wagner do Amaral, explica que o novo processo pedagógico em construção se baseará em eixos temáticos e áreas do conhecimento, e não mais em disciplinas fragmentadas. Os saberes tradicionais dessas comunidades e os saberes construídos na cultura escolar serão repassados em aulas de ciências da natureza e exatas, humanidades, linguagens, expressão cultural e artes.