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Moradores fazem protesto contra megaconstrução no Centro do Rio

Representantes da Associação de Moradores do Centro (Amac) reuniram-se na manhã desta segunda-feira (14/12) na rua dos Inválidos, Centro do Rio, para protestar contra a falta de fiscalização de uma obra da W Torre Engenharia que teria provocado uma série de rachaduras em imóveis vizinhos e que causou a interdição de vários imóveis na mesma rua na última quinta-feira.

[SAIBAMAIS]O diretor da Amac, Fernando Bandeira, disse que a associação não é contra as obras, apenas exige das autoridades competentes um acompanhamento rigoroso das escavações que vêm causando transtornos desde que foram iniciadas há cerca de um ano.

;Desde janeiro deste ano reclamamos com a prefeitura do barulho constante da obra, da poeira e lama nas ruas e nos bueiros devido às escavações. Nada foi feito. Agora com esse problema das rachaduras, tememos que outros prédios na área sejam afetados;.

Apenas o edifício de número 22 permanece interditado e a maioria dos cerca de 30 moradores desabrigados estão hospedados num hotel no Centro custeado pela W Torre, segundo o advogado dos moradores, Antônio Moreira Fernandes Junior.

Ele disse que está aguardando o laudo final da Defesa Civil para entrar com um processo contra os responsáveis por danos materiais e morais causados aos seus clientes. A Defesa Civil informou que o laudo só sai em 15 dias úteis. O órgão vem monitorando os edifícios afetados e não foram identificado novos deslocamentos.

Comerciantes locais queixam-se de que as vendas caíram 80% desde que a rua foi parcialmente interditada. ;Nunca, nos 43 anos que tenho minha loja aqui, tive tanto prejuízo. Não sei o que fazer;, lamentou Elio da Costa, dono de uma loja de materiais elétricos.

Uma liminar concedida na sexta-feira passada pelo Tribunal de Justiça paralisou a obra. A W Torre informou que vai recorrer da decisão. O empreendimento será o maior edifício comercial da América Latina, segundo a construtora, e a previsão é de que seja alugado para a Petrobras.

As escavações atingem 22 metros de profundidade no terreno. A área ocupa todo o quarteirão que abrange a rua dos Inválidos, do Senado, a Avenida Henrique Valadares e a Travessa Dídimo.

O engenheiro e empresário Jackson Pereira, que atua há mais de duas décadas na área central do Rio, disse que nesse tipo de escavação, a terra é retirada e é feito um muro para que seja possível escavar com mais profundidade.

;Este muro é a cortina atirantada, sustentada por tirantes de concreto injetados verticalmente na parede da escavação por muitos metros. São esses tirantes que afetam a área de influência, como vimos na igreja e nos prédios. No caso da rua dos Inválidos, também tem importância o lençol freático bombeado. A retirada dessa água provocou a acomodação do terreno;, disse o engenheiro.

A rua dos Inválidos está inserida na Área de Proteção do Ambiente Cultural da Praça da Cruz Vermelha, que faz parte do centro histórico da cidade, e possui construções do século 19.

;As construções antigas são fundadas em pedras enterradas no chão. As paredes são de tijolo maciço ou de areia com óleo de baleia. O andar superior se sustenta sobre vigas de peroba do campo, de peroba rosa. São muito fortes. Tanto que o prédio interditado tem 22 andares, é de meados do século passado e está mais distante da obra do que os sobrados ao redor do canteiro de obras;, disse o engenheiro.